A Celebração Eucarística realizada na Capela da Itepa Faculdades foi marcada por sentimentos contrastantes: a alegria pela ressurreição de Jesus Cristo e a tristeza pela partida do Papa Francisco. Sua vida e obra permanecerão gravadas na memória e no coração. Qual foi a marca deixada pelo Papa Francisco que permanece viva em nossa mente?
A Celebração foi presidida pelo Coordenador do Curso de Teologia, Pe. Ivanir Antonio Rodighero. Ele destacou que Francisco foi um Papa profundamente centrado na Palavra de Deus, conduzindo a Igreja com coragem, misericórdia e esperança. Na homilia, foram contempladas três figuras e seus encontros transformadores com o Ressuscitado:
Maria Madalena (Jo 20,1-18): Maria fora ao túmulo de Jesus com a certeza de sua morte, mas foi surpreendida ao encontrar o túmulo vazio. Questionada pelos anjos: “Mulher, por que choras?”, ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram.” Quando o próprio Ressuscitado perguntou: “Mulher, por que choras? Quem procuras?”, Maria o confundiu com o jardineiro e pediu: “Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o colocaste, e eu o irei buscar.” Foi apenas ao ouvir Jesus chamar seu nome: “Maria”, que ela o reconheceu como o Mestre. Com profunda alegria, Maria tornou-se a primeira testemunha da Ressurreição, a “apóstola dos apóstolos”. Ela anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor”, e contou tudo o que Ele lhe havia dito.
Pedro (At 2,36-41): Após a Ressurreição e o Pentecostes, Pedro, cheio do Espírito Santo, pregou com ousadia que Jesus, aquele que “passou fazendo o bem”, foi morto, mas ressuscitou. Confrontou seus ouvintes ao declarar que eles participaram de sua morte. Ao ouvirem isso, ficaram angustiados e perguntaram: “O que devemos fazer?” Pedro respondeu: “Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.”
O Legado do Papa Francisco: Durante a Missa, foram recordadas as marcas profundas e transformadoras que o Papa Francisco deixou na Igreja e no mundo. Ele se destacou como um líder espiritual centrado no Evangelho, cuja vida e ensinamentos continuam a inspirar os Católicos e a humanidade. Entre os aspectos destacados, estão:
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Alegria como sinal de fé autêntica: Uma espiritualidade marcada pela alegria de ser discípulo(a) de Jesus Cristo.
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Uma Igreja em saída: O constante apelo a uma Igreja missionária, próxima das pessoas, especialmente das periferias geográficas e existenciais.
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Simplicidade e coerência de vida: Um exemplo de humildade, aliado à valorização do diálogo inter-religioso e da convivência pacífica entre diferentes credos.
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Valorização da família: Por meio da exortação apostólica Amoris Laetitia, chamou a atenção para a importância do amor no âmbito familiar.
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Santidade acessível a todos: Ressaltada no documento Gaudete et Exsultate, convidando os fiéis a viverem a santidade no cotidiano.
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Cuidado com o meio ambiente: A encíclica Laudato Si destacou a necessidade urgente de proteger a casa comum, enfrentando os desafios ecológicos.
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Amizade social: Promovida na encíclica Fratelli Tutti, que enfatiza a fraternidade e o compromisso com o bem comum.
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Compromisso com a paz e os pobres: Uma defesa incansável dos marginalizados, dos encarcerados e de todos os que sofrem exclusão.
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Confiança e proteção em Maria: A profunda devoção mariana foi fonte de inspiração para sua espiritualidade pastoral.
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A misericórdia como chave para superar o legalismo: Proclamada especialmente no Ano Jubilar Extraordinário da Misericórdia.
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Profecia contra o descarte da vida: Denunciou sistemas e práticas que marginalizam ou descartam os mais vulneráveis.
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Cuidado com os jovens e valorização das mulheres: Promoveu espaços de protagonismo e valorização para ambos.
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Questões administrativas com transparência: Avançou na reforma das estruturas da Cúria Romana, promovendo clareza, transparência e responsabilidade.
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Cuidado com crianças e idosos: Destacou sua importância na construção de uma sociedade equilibrada e solidária.
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A sinodalidade: Incentivou a participação, a missão e a comunhão como pilares de uma Igreja sinodal.
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Preocupação com os migrantes: Um apelo constante à acolhida e ao respeito pela dignidade de quem se encontra deslocado.
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Incansável criatividade evangélica e dedicação ao trabalho: Sua liderança foi marcada por iniciativas inovadoras e por um zelo pastoral inquestionável.
Segundo o Pe. Ivanir, “a Missa foi uma ocasião para reafirmar a esperança cristã na vida eterna, enquanto honramos a memória de um pastor que buscou incansavelmente refletir o rosto misericordioso de Deus em suas palavras e ações”.
O Coordenador do Daitepa, João Victor Pereira, disse que a Missa foi uma “expressão de gratidão” pela “vida e missão” do Papa. Disse que “a iniciativa partiu de membros da própria comunidade acadêmica — docentes e discentes — profundamente tocados pela figura do pontífice, que ao longo dos anos tem se destacado como um exemplo de fé, simplicidade e compromisso com os mais vulneráveis”. João Victor comentou que “durante a celebração, foram ressaltados valores como a humildade, o espírito profético, a defesa dos pobres, o cuidado com a casa comum e o zelo pelo anúncio do Evangelho. Em um ambiente de oração e gratidão, a missa evidenciou como o Papa Francisco continua a inspirar gerações, renovando o rosto da Igreja com gestos concretos de amor e misericórdia”, finalizou o Coordenador do Daitepa.
O professor Regiano Bregalda comentou que “celebrar a missa em homenagem ao Papa Francisco, resgatando seu legado, testemunho e fidelidade ao Evangelho, foi um momento de espiritualidade repleto de acolhida e de sensibilidade. Recordamos sua presença profética no mundo, marcada por um amor que se fez cuidado, atenção, afeto e por uma sensibilidade que escutou os clamores dos mais pobres, dos injustiçados. Francisco nos inspira a uma fé encarnada, comprometida com a justiça e com a fraternidade. Sua opção pelos últimos nos desafia a vivermos o Evangelho com coragem e ternura, fiéis ao caminho e ao projeto do Reino. Francisco vive, Francisco presente!”.
Depoimentos
“O Papa Francisco me inspira com três marcas essenciais: sua simplicidade, sua transparência e a coerência de vida. São qualidades que ele sempre destacou como fundamentais para toda a Igreja viver plenamente” (Acadêmico Janderson da Diocese de Palmas Francisco Beltrão).
“O pontificado do Papa Francisco foi, sem dúvida, marcado por um caráter profético. Desde o início de seu ministério, ele se destacou como uma voz firme e corajosa em meio às complexidades e contradições do mundo contemporâneo. Sem medo de enfrentar estruturas injustas ou denunciar as maldades que ferem a dignidade humana, Francisco assumiu o papel de um verdadeiro profeta dos tempos modernos, guiado pela fé, pela compaixão e pelo compromisso inabalável com o Evangelho. Seus discursos e gestos, sempre coerentes com sua vivência cristã, foram constantemente voltados à defesa da vida em todas as suas formas — da criança ao idoso, do pobre ao migrante, do enfermo ao marginalizado. Ele também fez da ecologia integral uma bandeira de seu pontificado, chamando a atenção do mundo para a urgência de cuidar da criação, denunciar os danos causados ao meio ambiente e promover um estilo de vida mais justo, solidário e sustentável. Francisco foi, e continuará sendo, um farol de esperança em tempos de escuridão, uma presença que inspira coragem, diálogo e fraternidade entre os povos. Sua voz ressoou não apenas nos púlpitos e nas assembleias, mas também no coração daqueles que anseiam por um mundo mais humano e mais divino. Sua missão não termina com o fim de seu pontificado — ela permanece viva em cada gesto de amor, justiça e cuidado que ele semeou entre nós” (Acadêmico João Victor da Diocese de Lages/SC).
“São tantas, muitas e seria difícil enumerar todas em um único artigo ou escrito, mas queria resumir em duas citações do Papa Francisco na sua mensagem para XXXIX jornada mundial da Juventude, em 24 de novembro de 2024. Destaquei aquilo que mais me toca em Francisco (Papa). A nossa vida é uma peregrinação, uma jornada que nos empurra para além de nós mesmos, um caminho em busca da felicidade; e a vida cristã, em particular, é uma peregrinação em direção a Deus, à nossa salvação e à plenitude de todo o bem. As realizações, as conquistas e os sucessos do caminho, se forem apenas materiais, depois de um primeiro momento de satisfação, deixam-nos ainda com fome, desejosos de um sentido mais profundo; em verdade, não satisfazem completamente a nossa alma, porque fomos criados por Aquele que é infinito e, por isso, em nós habita o desejo de transcendência, a inquietação contínua para a realização de aspirações maiores, para um “algo a mais”. O estado de apatia e de insatisfação de quem não se põe a caminho, não decide, não escolhe, nunca arrisca e prefere ficar na sua zona de conforto, fechado em si mesmo, vendo e julgando o mundo por detrás de uma tela, sem nunca “sujar as mãos” com os problemas, com os outros, com a vida. Este tipo de cansaço é como um cimento no qual mergulhamos os pés, e que acaba por endurecer, pesar, paralisar e impedir-nos de avançar. Prefiro o cansaço dos que estão a caminho do que o tédio dos que estão parados e não têm vontade de andar!” (Acadêmica Mari Maule de Guaporé).
“O que fica do Papa Francisco é olhar para o Outro, para o próximo. Uma frase vocacional que venho refletindo, foi falada por ele em ocasião do Sínodo dos Jovens (2019) e na Jornada Mundial da Juventude em 8 de abril de 2017: “Para quem eu sou?”, contraponto a pergunta “quem sou eu?” que o mundo ensina a buscar resposta. Uma pergunta vocacional que ajuda voltarmos nosso olhar para meu irmão, minha irmã, principalmente os necessitados, social e espiritual, tirando o foco de um egocentrismo (Acadêmico Rosomar de Chapecó).
“O Papa Francisco enfatiza que não podemos nos interessar pela Criação se não nos interessamos por sua Criação mais bela, que é o homem. A ideia de uma ecologia integral que integra a natureza e o homem em todas as suas dimensões. O Papa Francisco tem algumas palavras preocupantes que podem ser resumidas em ouvir o clamor da natureza. Não precisa uma Igreja da sacristia, mas que cuida os imigrantes. Uma Igreja descentralizada, uma Igreja samaritana. É bom ressaltar que com o Papa Francisco, a ecologia se tornou uma preocupação de todos os cidadãos do mundo, crentes ou não, porque todos habitamos a mesma terra, somos todos solidários uns com os outros. A Encíclica do Papa Francisco Laudato Si tem como finalidade a salvaguarda da Casa Comum. O mal desarticulou o homem a tal ponto que ele não sabe mais onde está. Da mesma forma, o homem perdeu o rumo em seu relacionamento com a natureza. Hoje precisamos reconhecer que tudo está interligado. O homem perdeu a rumo com toda a criação material. A criação foi planejada para servir ao homem, mas não para que o homem a utilizasse em seu egoísmo” (Acadêmico Jacques de Chapecó).