A denominação “Biblioteca Pe. Elli Benincá” remete aos objetivos da Faculdade de Teologia e Ciências humanas – Itepa Faculdades, criada em 1982 pelas dioceses de Passo Fundo, Erechim, Frederico Westphalen e Vacaria. O ensino, a pesquisa, a extensão e a espiritualidade constituíram-se, desde então, os pilares da atuação da novel instituição. Desde os primórdios da ação acadêmica destacou-se, dentre os protagonistas da equipe organizadora, o Pe. Elli Benincá, então designado como primeiro diretor da nova instituição.
Elli Benincá nasceu em Severiano de Almeida, no norte do Rio Grande do Sul, em 20 de julho de 1936. Sua infância e juventude foram marcadas pelo convívio familiar, pelo trabalho na roça, pela forte relação com a natureza e pela vida simples e em comunidade, na linha Caracol. É filho de Amadeu Benincá e de Leonice Maria Bonafin Benincá, já falecidos, sendo o terceiro de uma família de 11 irmãos.
Em 1953, aos 17 anos, sentiu-se chamado à vocação e ingressou no Seminário Nossa Senhora de Fátima de Erechim, sendo aluno da primeira turma. Pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora Imaculada Conceição, de Viamão, graduou-se em Filosofia, em 1961, e em Teologia, em 1965. Foi ordenado sacerdote no dia 03 de julho de 1965, em Severiano de Almeida, por Dom Cláudio Colling, então bispo da Diocese de Passo Fundo.
Em 1966, foi enviado à cidade de Passo Fundo para auxiliar o Padre Alcides Guareschi na antiga Faculdade de Filosofia do Consórcio Universitário Católico, que, logo em seguida, seria um dos pilares a formar a Universidade de Passo Fundo. Ao mesmo tempo em que traçava seu percurso de formação para a docência, dedicou-se profundamente ao ministério sacerdotal, envolvendo-se em variados espaços de atuação pastoral e social e assessorando diferentes movimentos e grupos católicos. Morou por 17 anos na Paróquia da Catedral, onde foi vigário. Em sua vida sacerdotal, atuou em outras paróquias, com destaque à Nossa Senhora da Conceição, onde edificou profundas relações com a comunidade por mais de 20 anos.
Em 1982 e 1983, foi Coordenador de Pastoral na Diocese de Passo Fundo. Por acreditar que o maior investimento que se possa fazer é aquele direcionado ao ser humano, sempre se dedicou à formação de lideranças leigas, agentes de pastoral, professores de ensino religioso, ressaltando a importância da educação como elemento de transformação das consciências e, por consequência, da sociedade. Exerceu o papel de formador dos estudantes de Teologia de 1983 até 2014 e foi articulador de inúmeras iniciativas de formação continuada nos âmbitos pastoral e acadêmico, incentivando muitas pessoas à realização de cursos e à participação em eventos. Integrou o grupo de fundadores do Instituto de Teologia e Pastoral (ITEPA), sendo seu primeiro Diretor, em 1983 e, novamente, de 1988 a 1990. Foi, igualmente, professor do Instituto de Filosofia Berthier – IFIBE.
Tinha grande habilidade lógico-argumentativa, evidenciada, de forma intensa, pela capacidade de síntese e articulação de ideias. Em sua vida, dedicou-se aos estudos de forma singular. Nos anos 80, desafiou-se ao Mestrado, realizado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, tornando-se Mestre em Ciências da Religião em 1987. Ao longo dos anos, construiu uma biblioteca pessoal com milhares de exemplares, especialmente nas áreas da Filosofia, Educação, Teologia, Ensino Religioso e Literatura brasileira e internacional. Fazia questão de compartilhar sua biblioteca com os outros. Em 2002, também concluiu o doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diretamente por defesa de tese.
Na Universidade de Passo Fundo, atuou como docente por 40 anos, participando ativamente da formação de milhares de acadêmicos, sendo reconhecido e lembrado com carinho por aqueles que tiveram a oportunidade de com ele conviver e construir conhecimento. Neste percurso, também se envolveu com a gestão na Universidade, desde sua criação, quando, ainda em 1968, foi nomeado chefe do Departamento de Filosofia. Em 1970, assumiu a direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. De 1974 a 1985, foi Diretor da Faculdade de Educação.
Como pesquisador, dedicou-se ao estudo de temáticas no campo da Filosofia, da Educação, do Ensino Religioso, da Cultura e Religiosidade Popular e da Formação Docente. Junto aos colegas e grupos de pesquisa, estabeleceu fortes relações pessoais e profissionais, pautadas pelo trabalho metódico, sistematicamente registrado pelas memórias de aula e das reuniões, e pelo diálogo-reflexivo, convocando todos os envolvidos à participação ativa. Tamanha dedicação resultou na produção e na publicação de obras na área da Educação e da Filosofia, até hoje referenciadas. Nunca se distanciou de sua missão para e com a educação. Aposentou-se na UPF aos 69 anos. Embora afastado do cotidiano acadêmico, manteve-se, até os últimos dias, atento e interessado acerca da Instituição a qual ajudou a construir.
Mesmo distante de Severiano de Almeida, alimentou o vínculo com sua terra natal e manteve fortes laços com a família. Celebrou o Jubileu de Ouro Sacerdotal em 2015 em Passo Fundo, reunindo sacerdotes, familiares e amigos.
Em novembro de 2014, em razão das complicações do Parkinson, diagnosticado ainda em 2006, quando tinha 70 anos, passou a residir na casa de sua irmã Lurdes e do cunhado Ilário. No núcleo familiar, conviveu com as crianças da família e foi acompanhado com atenção e carinho, apoiado na fragilidade causada pela doença. Faleceu em 07 de fevereiro de 2020, aos 83 anos.
Ao olharmos para os elementos que reconstroem a trajetória pessoal e intelectual do Pe. Elli Benincá, temos a certeza de que deixou sua identidade como educador e pensador nos diferentes espaços onde atuou. De forma ativa e comprometida, marcou profundamente sua família, a Arquidiocese de Passo Fundo, a Universidade de Passo Fundo, a Itepa Faculdades e, especialmente, os milhares de alunos e profissionais da educação desta cidade e da região que foram, ao longo de décadas, incentivados a registrar e a refletir sobre sua ação pedagógica, entendendo-a como ato educativo transformador, a ser constantemente qualificado pelo diálogo.
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