A paz enquanto fruto da justiça – testemunho de Dom Helder Camara

Em memória do 25º aniversário da morte de Dom Helder Camara, no dia 27 de agosto de 2024, queremos recordar daquele que foi um grande Dom no Brasil e no mundo. Agindo sempre com firmeza e jamais com violência, conforme a vontade de Deus, Dom Helder é Dom da Paz.

Das quatorze indicações de brasileiros ao Nobel da Paz, o arcebispo Dom Helder Camara possui quatro, em quatro anos consecutivos, como grandes sinais de suas marcas deixadas, ao longo de noventa anos, na Igreja e no mundo, para todos aqueles que possuem fome e sede de justiça.

As questões do desenvolvimento, da justiça, dos direitos humanos e da paz, sempre foram muito caras para Dom Helder: nos anos de vida no Rio de Janeiro (1936-1964), com suas habilidades de articulação, educação e comunicação, bem como com as experiências da primeira habitação popular do Brasil (a Cruzada de São Sebastião) e do primeiro banco popular no Brasil (o Banco da Providência); e depois, nos seus últimos 35 anos, em Recife, com a implantação das propostas renovadoras do Concílio Vaticano II na perspectiva eclesiológica da Igreja Servidora e Pobre, e com suas grandes palestras e pronunciamentos pelo mundo afora, em prol das causas dos pobres e violentados.

Dom da não violência!

Justamente neste período de Recife, Dom Helder levou à frente sua dedicação pela não violência ativa, como atitude genuinamente evangélica. Sua proposta era a de resolver os problemas políticos, sociais e econômicos, gerados por violência estruturais e históricas, mas discordando do uso da violência e apelando para a Pressão Moral Libertadora e a Ação Justiça e Paz (RAMPON, 2013, p. 334-339). Como afirma Raimundo Caramuru Barros, “Nos momentos em que se sentia mais isolado, e mesmo abandonado, e em que sua causa em favor dos pobres parecia mais irremediavelmente perdida, ele não se cansava de apelar para o ideal das minorias abraâmicas, capazes de esperar contra toda a esperança” (2000, p. 61).

Dom da Paz!

Faz bem destacar ainda que, “nesses e em outros períodos tensos, Dom Helder encontrava serenidade em sua fidelidade à Vigília e à Santa Missa” (RAMPON, 2013, p. 250). Graças à sua comunhão com o Pai, Dom Helder era conhecido no mundo todo como uma das mais importantes lideranças na defesa dos Direitos Humanos e na defesa da Paz. Na década de 1970, dizia-se dele: “Dom Helder é o símbolo da doação pastoral e da coragem profética, que chama a atenção do mundo sobre a realidade dos pobres, que convoca a juventude do mundo a lutar, sem violência, contra o racismo, a miséria, a guerra. Ele é símbolo da esperança e do amor, da aspiração de toda a humanidade por paz e justiça” (RAMPON, 2013, p. 278).

Dom da coragem!

Dom Helder carregava em si, estando nas mãos do Pai, a coragem profética de ser a voz da miséria, da injustiça e do povo mais humilde, mesmo com a “lei do gelo” imposta em 1970 pelo governo militar. O otimismo e a esperança eram marcas de sua personalidade que continuamente faziam marchar suas ideias. Que a seu exemplo, nossa geração saiba garantir uma não violência renovada, capaz de inverter a ótica da violência enraizada em nós e em nossas instituições. Que a utopia de Dom Helder seja também a nossa utopia, capaz de movimentar nossas esperanças, e as esperanças do mundo todo, acenando para a justiça e a paz.

Pe. Jean Carlos Demboski
Bacharel em Teologia pela Itepa Faculdades

Grupo de Espiritualidade e Estudos Re-Vivendo Dom Helder Camara

– De que forma o modelo de vida de Dom Helder Camara pode nos ajudar a ser discípulos missionários construtores da paz, fruto da justiça?

– Que ações em minha casa, rua, bairro, comunidade, contribuem para a não-violência?

Referências Bibliográficas:

Barros, Raimundo Caramuru; Oliveira, Lauro de. Dom Helder: o artesão da paz. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2000. (Coleção Brasil 500 anos).

Rampon, Ivanir Antonio. O caminho espiritual de Dom Helder Camara. São Paulo: Paulinas, 2013. (Coleção Pesquisa Teológica).

Foto: Grupo de Espiritualidade e Estudos Re-Vivendo Dom Helder Camara