A confiança no amor misericordioso de Deus – ensinamentos da Exortação Apostólica C’ est la Confiance para nossa Espiritualidade

A Exortação Apostólica intitulada “C’est La Confiance”, foi promulgada pelo Papa Francisco no dia 15 de outubro de 2023, em comemoração ao 150º aniversário de Santa Teresa do Menino Jesus.  A Exortação nasce a partir da frase: “Só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor”, a qual foi escrita em setembro de 1896 pela grandiosa Santa Teresinha da Santa Face. Conforme o Papa Francisco, estas palavras, “sintetizam a genialidade da sua espiritualidade e seriam suficientes para justificar o fato de ter sido declarada Doutora da Igreja” (C’est la Confiance, 2). Essa afirmação ressalta a importância da confiança como um caminho imprescindível para nos conduzir ao amor divino, nos transformando em canais de misericórdia para os nossos irmãos e irmãs.

É de conhecimento de grande parte da Igreja, que Santa Teresinha é admirada e respeitada mundialmente. Embora tenha vivido uma vida muito simples e curta. A sua espiritualidade única brilha intensamente mesmo depois da sua morte e é facilmente reconhecida pela Igreja devido ao seu testemunho especial e à sinceridade da sua espiritualidade evangélica.  Nesse sentido, vale destacar que durante um momento específico em sua cela, Santa Teresinha escreveu a frase “Jesus é o meu único amor” (C’est la Confiance, 8), sobre a qual o Papa reflete ao analisar o seu caminho espiritual. Ele observa que o encontro com Jesus não só a chamou para a missão, mas também incutiu nela um desejo profundo de buscar o bem-estar dos outros, a tal ponto que ela não poderia imaginar dedicar-se a Deus sem considerar o bem do próximo, os irmãos e irmãs.

O Papa Francisco vai a essência da espiritualidade de Teresa, que gira em torno do conceito do “pequeno caminho”, também conhecido como o caminho da infância espiritual. Santa Teresa do Menino Jesus expressou esta ideia quando escreveu: “Os teus braços, ó Jesus, são o elevador que me transportará ao Céu. Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena” (C’est la Confiance, 16).

O ponto focal para ela é a intervenção de Deus, sua graça, e não as realizações individuais, pois é o Senhor que concede a santificação. Nos seus escritos, o Papa sublinha que a abordagem mais adequada é colocar a nossa confiança em algo que vai além de nós mesmos, especificamente na misericórdia sem limites de um Deus que ama incondicionalmente e tudo sacrificado na Cruz de Jesus.

Na presente exortação, o Papa Francisco menciona a notável influência espiritual de Santa Teresinha, a ponto de São Pio X reconhecer sua grandeza espiritual, prevendo que ela se tornaria a maior Santa da era contemporânea. É relevante ressaltar que os pontífices que sucederam a Pio X continuaram a honrar o legado espiritual dela e a enfatizar sua significância na Igreja Católica. Em 1997, São João Paulo II a proclamou Doutora da Igreja, reconhecendo sua expertise na ciência do amor.

Durante seu pontificado, Papa Bento XVI revisitou o conceito da “ciência do amor” e destacou Santa Teresinha como referência para todos, especialmente para os teólogos. E o próprio Papa Francisco, além de suas catequeses tradicionais, quis ressaltar o reconhecimento da Igreja a Santa Teresinha ao publicar sua exortação apostólica, ressaltando a importância da confiança e do amor na nossa espiritualidade cristã.

Na Exortação revela-se que Teresa herdou de Santa Teresa de Ávila um profundo estímulo pela Igreja, um amor que penetrou nas riquezas deste sagrado mistério (C’est la Confiance, 38). Nas suas próprias palavras, registradas em “história de uma alma”, Teresa expressa a sua compreensão de que a Igreja possui um coração, um coração que arde com um amor que tudo consome. Ela compreende que é somente através do Amor que os membros da Igreja são movidos à ação. Além disso, ela proclama com alegria: “Sim, descobri o meu legítimo lugar dentro da Igreja… No próprio Coração da Igreja, minha Mãe, serei Amor!” (C’est la Confiance, 39).

O Papa Francisco, no seu comentário, sublinha que o coração da Igreja não é o do triunfalismo, mas sim o do amor, da humildade e da misericórdia (C’est la Confiance, 40). Prossegue explicando que esta profunda revelação do coração da Igreja serve de luz orientada para nós hoje, permitindo-nos evitar ficar escandalizados pelas limitações e fragilidades da instituição eclesiástica, que pode ser marcada por obscuridades e pecados. Em vez disso, somos convidados a entrar no coração ardente da Igreja, inflamado pelo dom do Espírito Santo no Pentecostes (C’est la Confiance, 41).

À medida que o Papa se aproxima da conclusão da exortação, ele reflete sobre os principais aspectos do seu caminho e da sua situação atual. Nesta época caracterizada pelo interesse próprio, pelo individualismo e pela obsessão pelo poder, ela nos mostrou a beleza de fazer da vida uma dádiva, o valor da simplicidade e da pequenez, e a primazia absoluta do amor “superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho” (C’est la Confiance, 52). Neste sentido, caros irmãos e irmãs, todos nós somos convidados a lermos essa grande exortação, a qual é uma profunda riqueza que nos aproxima de Jesus, a partir do testemunho, espiritualidade e vida desta grande missionária, que é Santa Teresinha do Menino Jesus.

Pe. Valter Girelli
Professor da Itepa Faculdades

Janderson Vieira da Crus
Acadêmico da Itepa Faculdades

Veja a Exortação aqui