Todos os anos o Papa Francisco divulga uma mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que, em 2024, será celebrado no dia 31 de maio. Habitualmente, o tema do Dia Mundial das Comunicações Sociais é divulgado em 29 de setembro, na festa litúrgica dos Santos Arcanjos, no qual a Igreja celebra o padroeiro dos comunicadores, São Gabriel. Já a mensagem do papa é publicada sempre no dia 24 de janeiro, quando a Igreja celebra a memória de São Francisco de Sales, que, desde 1923, é o padroeiro dos jornalistas.
Uma das primeiras inquietações do Papa Franciso a respeito da comunicação hoje se traduz a partir das questões: “O que é então o homem, qual é a sua especificidade e qual será o futuro desta nossa espécie chamada homo sapiens na era das inteligências artificiais? Como podemos permanecer plenamente humanos e orientar para o bem a mudança cultural em curso?”. As novas e rápidas formas de linguagem, particularmente a artificial, tem colocado perguntas a respeito do quanto elas contribuem para qualificar as relações humanas, o sentir e o viver, a mobilizar experiências, a propor encontros, partilhas e reconhecimento do outro. Aliás, reiteradas vezes o Papa Francisco tem insistido que a lógica de conceber a vida como uma máquina gera uma cultura do descartável. O agravante é que não é descartável apenas o material, mas, as pessoas, e diante dessas, os mais vulneráveis: pobres, doentes, idosos. Torna-se válido apenas o sujeito que produz, que é ativo, empreendedor, sofisticado, produtivo, inovador… Esquece do humano, da docilidade, do encontro, da amizade, do coração, da partilha, do amor, da sabedoria que dá gosto/sabor à vida.
A preocupação do Papa Francisco ante a dimensão da comunicação, é que a cada dia que passa tem se tornado mais comum que máquinas tomem o lugar primeiro das comunicações, escanteando/descartando a mais apurada e perfeita comunicação: a dos seres humanos. Segundo o Papa, a maior e mais importante virtude no que diz respeito à comunicação se estabelece a partir da sabedoria do coração. De fato, não há máquina no mundo que transmita a bondade, os sentimentos e os desejos como o coração humano. Para ele, o coração é, diante das relações cada vez mais tecnicistas, o equilíbrio, a virtude que estabiliza o toque, o contato, a história, os acontecimentos, o ontem e o hoje. É o coração o responsável por comunicar esperança.
Com isso, o papa e a Igreja, não se colocam contra a Inteligência Artificial, tampouco negam a potencialidade de suas contribuições como a de trazer mais igualdade, aprimorar a informação correta, favorecer a escuta das diversidades que habitam o mundo, dar voz aos que hoje não tem voz… Entretanto, é necessário refletir e ter a clareza de que tudo aquilo que cai na mão do ser humano tem uma dupla dimensão: ou torna-se oportunidade ou perigo. O que será da IA, portanto, depende de nós, do humano.
Que cada um(a) de nós, comunicadores(as) da Boa Nova do Reino, possamos estar atentos(as) às formas de relações e comunicações que temos estabelecido com os nossos irmãos e irmãs. Que não nos apresentemos e, ao mesmo tempo, não coloquemos os outros como algoritmos, como alienados diante da IA, pois o Evangelho é carne, é vida, é história, é real, é experiência.
Gustavo Borges de Souza
Acadêmico de Teologia da Itepa Faculdades
Prof. Dr. Regiano Bregalda
Professor da Itepa Faculdades
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