Evangelização, cultura e vocação

Estamos no percurso do 3º ano vocacional com o tema “vocação, graça e missão” e lema “corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33). Compreendamos vocação como chamado de Deus e resposta humana, dada na fé.

Na Exortação Evangelli Gaudium, o Papa Francisco escreve que Deus toma a iniciativa de chamar o ser humano para contribuir na sua obra (EG 13). Ele dirige-se a todos e os convoca a cooperar. A manifestação do Papa Francisco ajuda a compreender que o compromisso vocacional, o atendimento ao chamado de Deus, não é signatário de apenas uma cultura. Deus, no seu amor e bondade, convida homens e mulheres das diferentes culturas a uma experiência fundante e significativa que transforma a vida de quem o faz.

O peregrinar evangelizador assumido pela Igreja é também o caminho que suscita pessoas disponíveis para trabalhar pelo Reino anunciado por Jesus, viabilizado na pertença eclesial, compromisso de todos os batizados. Assim como Deus age, a Igreja deve também agir, em fidelidade ao mandato do Pai. A obra evangelizadora não é restritiva, mas direciona-se a todos os batizados, dialoga com as diferentes culturas e tem com estas não uma relação de identificação estrita, mas de transformação a partir de dentro, da sua estrutura, como sugere São Paulo VI (EN 20). Dá-se o fenômeno que chamamos de “inculturação” do Evangelho. Uma cultura evangelizada e respeitada nos seus elementos fundantes, possivelmente será uma cultura geradora de vocações. O conhecimento da proposta de Jesus, no próprio arcabouço cultural, assim como aconteceu com os 12 discípulos, provocará o seguimento, a colaboração da Sua obra. Nesse sentido, a relação evangelização, cultura e vocação segue um tripé de ações necessárias que delineamos abaixo.

O primeiro critério é a evangelização mesma. Nos reportamos à carta de Paulo aos Romanos, que explicita a necessidade de anunciar o Evangelho: pois “todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Mas como poderão invocá-lo se não crerem nele? E como crerão nele se jamais tiverem ouvido a seu respeito? E como ouvirão a seu respeito se ninguém lhes falar? E como alguém falará se não for enviado? (Rm 10,13-15a). É necessário anunciar o Evangelho para que todos tenham a alegria de se encontrar e conhecer Jesus, afirma o Papa Francisco (EG 1). O conhecimento de Jesus, a experiência marcante de fé, provocará um outro passo assumido pelos primeiros cristãos, o testemunho. Lembremos o que os apóstolos Pedro e João disseram: não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos (At 4,20), também expresso na primeira carta de João: o que vimos e ouvimos estamos anunciando a vocês (1Jo 1,3). É o testemunho dado de forma convincente que gera adesão e seguimento.

Outro critério é o da proximidade do Evangelho com as diferentes culturas, que permite o anúncio de Jesus Cristo, o que compreende o respeito e a liberdade. No passado estes princípios foram negligenciados e geraram muita dor e sofrimento. A tradição cristã assegura um caminho de proximidade transformadora do Evangelho com as culturas que deve ser considerado. Ao longo dos dois mil anos, essa resposta foi sendo dada pela proximidade, sem asfixia, mas a partir da oferta de um caminho a ser percorrido na liberdade da escolha. Não foi um processo tranquilo. Aconteceram tensões e incompreensões (At 10,1-33;15,1-21). Todavia, na força do Espírito Santo, as dissenções foram superadas. A cultura evangelizada com respeito e liberdade de escolha tem condições de agregar diferentes respostas ao chamado de Jesus. E as respostas dadas legam grande riqueza para a Igreja. Unidos a Jesus Cristo, a partir das suas culturas, homens e mulheres vivem e testemunham a fé.

Por fim, o terceiro critério é de que o seguimento em nossos dias tem o acento vocacional, também marcado pelas diferentes pertenças culturais. Não é possível criar muros ou barreiras entre a pertença cultural e a vocação. É necessário ajudar o vocacionado ou vocacionada a encontrarem plena sintonia entre a sua pertença cultural e a vocação, o caminho encontrado para o seguimento de Jesus Cristo próximos a seus povos e culturas cf. DAp 325).

Evangelização, cultura e vocação não são realidades distantes, mas próximas e complementares.

Pe. Ari Antonio dos Reis