A Pastoral das Migrações da Arquidiocese de Passo Fundo e a Itepa Faculdades promoveram a 8ª Mesa Migrações. O evento teve por tema geral “Escola e segunda gerações: políticas públicas e direito à educação dos migrantes”.
Inicialmente, a Coordenadora Arquidiocesana da Pastoral das Migrações, Ir. Norma Kleinubing, convidou a todos para um breve momento de oração dizendo que Jesus se identifica com os migrantes: “Vinde benditos de meu Pai, porque eu era estrangeiro e me acolhestes” (cf. Mt 25,31ss). Também citou o tema da Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados: “Livres de escolher se migrar ou ficar”.
Em seguida, Evania Calza, professora da rede municipal de ensino de Passo Fundo, comentou sobre a sua dissertação de mestrado que abordou a questão escolar de crianças e adolescentes imigrantes. Segundo ela, tudo começou, em 2017, quando, na escola em que trabalha, chegou um aluno de Bangladesh, o qual não falava e nem entendia português. De lá para cá, chegaram outras crianças filhas de imigrantes, com suas experiências complexas e ricas. A professora pesquisou sobre a legislação brasileira – os direitos e deveres dos estudantes migrantes no Brasil. Atualmente mais de 200 estudantes migrantes frequentam a rede municipal de ensino e um dos desafios é a aprendizagem da língua portuguesa e a inclusão social.
A Dra. Jéssica Paula Vescovi, professora do Instituto Federal do Paraná, de Coronel Vivida – PR e coordenadora de projetos destinados ao ensino de língua portuguesa para imigrantes disse que o Instituto oferece cursos de formação inicial e continuada de língua portuguesa, promovendo a cidadania. A linguagem é vista como uma (re)existência pois é um tema estratégico para o desenvolvendo de uma região e de um país. Há vários componentes curriculares como cultura popular brasileira, leitura e escrita em língua portuguesa, alimentação, história do Brasil, expressão oral em língua portuguesa, saúde e qualidade de vida: SUS, noções de direitos e legislação brasileira, caracterização espacial do Brasil… A professora disse que não somente ensina, mas aprende muito com os migrantes pois acontece um diálogo em que são socializados saberes construídos comunitariamente.
A imigrante venezuelana Carla Rocvir de Jesus Moreno Soto narrou a experiência de ser mãe de dois filhos, um de 10 anos e outro de um ano e meio. Ela relatou que está no Brasil há quatro anos e o filho mais velho chegou há dois anos. Carla ficou dois anos longe do filho por causa da pandemia. Ele chegou aqui, no Brasil, e não sabia falar português. Graças a Deus, encontrou uma professora que sabia falar espanhol, o acolheu bem e o ajudou na aprendizagem do português. Como a escola ficava distante, tiveram que trocar de colégio. E aí aconteceu um problema de bullying: “foi muito triste”… No ano seguinte, o filho trocou de turno – foi para o turno da tarde – e fez boas amizades. É bom aluno, elogiado pela professora e com boas notas. Já o filho mais novo nasceu no Brasil. Carla afirmou que ela e seu marido migraram em busca de um bom futuro para os filhos…
O Vice-presidente do Serviço Pastoral dos Migrantes, Pe. Alfredo José Gonçalves citou três textos do Papa Francisco. O primeiro é a Encíclica Laudato Si´ sobre o cuidado da Casa Comum. A Casa Comum inclui todos os que moram na Casa, sem exclusão de fronteiras; o segundo é a Fratelli Tutti que lembra que todos somos irmãos nesta Casa Comum, e; o terceiro é Pacto Educativo Global que chama todas as instâncias da sociedade para um pacto educativo na nossa Casa Comum. Afirmou que vivemos numa sociedade pluricultural e multiétnica, onde os meios de comunicação, os meios de transporte e a internet nos aproximam muito permitindo a coexistência com muitas visões de mundo, muitas culturas, muitos valores e isto é uma riqueza e, ao mesmo tempo, um desafio que recai, de maneira, especial para a Escola, a Universidade, a Igreja, o Governo. O desafio maior é a passagem da multiculturalidade à interculturalidade pois é mais fácil a coexistência com o diferente do que intercambiar nossas culturas e saberes. No “intercambiar” não basta conviver, mas é preciso tecer saberes e entrecruzar valores. Neste sentido, “o outro” nos interpela, nos questiona; provoca a fazer, desfazer e refazer a nossa identidade. O tecido da identidade é muito dinâmico e a migração permite, diante do “outro”, moldar, depurar, purificar e refazer nossos valores. Isto é mais fácil a partir das crianças pois nos adultos o modo de ver o mundo está mais petrificado e inflexível. Portanto, passar da multiculturalidade à interculturalidade é passar de uma convivência de diferentes ao intercâmbio de diferentes. O encontro, o confronto e o diálogo provocam um enriquecimento recíproco, que me purifica e purifica o outro, purifica a minha cultura e a cultura do outro. Permite ver o mundo a partir de diferentes ângulos. Assim é possível, construir um mundo novo, sem fronteiras, onde podemos falar a mesma linguagem em línguas distintas; em que podemos reconhecer os direitos do outro. A partir das crianças e dos adultos é possível fazer o que o Pacto Educativo nos pede: colocar o ser humano no centro. As crianças podem nos ensinar pois são mais abertas e têm menos preconceitos. Todos podemos ganhar com a interculturalidade.
O vídeo da 8ª Mesa Migrações está disponível no canal do Youtube da Itepa Faculdades.