Itepa Faculdades participa da Audiência Pública sobre intolerância religiosa

O vice-diretor da Itepa Faculdades, Prof. Pe. Rogério Luís Zanini, representou a Itepa Faculdades na Audiência Pública sobre a intolerância religiosa. A audiência aconteceu na Câmara de Vereadores, de Passo Fundo, na tarde de 10 de maio. O encontro foi solicitado pela Comissão de Cidadania, Cultura e Direitos Humanos e contou com a presença dos vereadores, representantes do Executivo, de organizações religiosas e lideranças comunitárias.

Segundo Pe. Rogério, “a intolerância religiosa é um tema urgente. Se estamos participando de uma audiência pública na Câmara dos vereadores e mobilizada por um dos vereadores, significa que existe a preocupação com este tema que também consideramos tão candente na atualidade. Outrossim, se este tema ganha espaço e é levado para uma audiência pública significa que existe intolerância religiosa. A intolerância existe e se faz presente e, mais do que isso, significa que existe uma camada expressiva de pessoas que praticam a intolerância. É salutar perguntar-se: Quem é intolerante? O que significa ser intolerante? Quais as causas? Existem possíveis caminhos de superação?

A primeira constatação é que somos intolerantes. Isso pode assustar, mas pode ser o começo do processo de superação, através de nossa conversão. Se somos uma cidade ou um povo religioso, consequentemente, a intolerância é expressada pelos religiosos, os que se dizem cristãos também. Por isso, vale se perguntar: qual a minha parcela de intolerância e como manifesto e incentivo os preconceitos religiosos? O reconhecimento é o primeiro passo para a superação. Sem este exame de consciência continuamos na mesma, sem entrar no caminho da conversão. Dizer que quem precisa se converter são os outros é o pior ponto de partida. Isso serve para muitas outras realidades: na linguagem cristã é se achar santo e puro e não assumir como ser limitado e pecador.

Uma segunda constatação está ligada a compreensão do que significa ser intolerante. A intolerância religiosa é discriminar, ofender, caluniar e rechaçar religiões, liturgias e cultos. Não aceitar a diversidade de crenças, e, muitas vezes, a questão também pode estar relacionada ao racismo, já que as religiões de matrizes africanas são as que mais sofrem preconceito na sociedade atual, como o candomblé e a umbanda, por exemplo.

Se perguntamos pelas causas é possível irmos descobrindo as raízes de nossas intolerâncias e mesmo racismos cristalizados. A questão é bem de fundo e está ligada a um cordão umbilical, isto é, tem raízes antigas na educação recebida e na forma de compreender os diferentes na nossa existência. Citar um fato – alguém foi morar em determinado lugar e dizia ser o primeiro morador daquele vilarejo. Perguntado sobre o que fez, falou que tinha uma bodega e vendia algumas coisas para os índios e alguns negrinhos que moravam próximos. Fato que expressa como os preconceitos vão se arraigando na vida da gente. Certas pessoas passam décadas ou acabam vivendo uma geração sem entrar em processo de conversão. Umas das expressões fortes para cristalizar os preconceitos é repetir – não sou racista, não tenho preconceito com ninguém… Neste caso, precisa registrar suas práticas para averiguar e descobrir o quanto é preconceituoso e intolerante. É uma forma sensível, sutil, mas satânica de fortalecer, justificar e manter o problema sem superação.

Como é possível encontrar caminhos de superação? Para os cristãos, o caminho é abrir-se para beber da fonte que brota em Jesus. Como lembramos no subtítulo, se ‘Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade’ (Ef 2,14) se torna uma contradição insistir e manter-se na ideia da intolerância. Seguir este caminho é ser contrário à proposta de Jesus, que veio para possibilitar a vida plena para todas as pessoas (Jo 10,10).

Como nos lembram as autoras Aíla Luzia Pinheiro de Andrade e Solange Maria do Carmo,

se Deus é comunhão – Pai, Filho e Espírito Santo – e se por meio de Cristo ele restaurou a unidade dos humanos, derrubando definitivamente o muro da separação, o que dizer dos muros de separação que ainda hoje se erguem entre nós? Por que ainda tanta violência contra os homossexuais, tanto preconceito e racismo em relação aos negros, tanta imposição sobre as culturas dos povos originários e tanta sujeição das mulheres aos varões?[1]

No entanto, esta superação no âmbito teológico ainda está bem longe de nossas igrejas e dos corações dos crentes. Nenhum testemunho cristão pode ser mais eficaz que o da tolerância e do diálogo entre as religiões. Sabemos que a fé cristã, em nome da verdade salvífica revelada por Jesus, não pode ser instrumento de divisão, de preconceito e intolerância. ‘Deixar que o outro seja, que ele se descubra e que construa para si uma identidade confiável, é sem dúvida a maior dádiva que podemos ofertar aos outros’. Em vez de perdão e ajuda mútua, encontramos juízos pesados e exclusão, quando se deveria saber que a tolerância é a marca característica principal da verdade de Cristo.[2]

A Carta aos Efésios com sua mensagem central sobre a unidade nos convida a enxergar além de nossas convicções intransigentes e a derrubar os muros de separação. Toda pessoa merece e exige respeito, pois possui uma dignidade absoluta. Não escolhemos ser irmãos deste ou daquele sujeito, irmãos a gente não escolhe; são-nos dados. E uma vez que nos são dados, estamos obrigados ao amor. Certamente, ao cristão, é possível tolerar tudo, menos a intolerância.[3]

Com estes breves elementos percebemos que para os cristãos a intolerância é obra do maligno – não faz parte do ‘coração ardente’ para dizer com as palavras presentes no lema do ano vocacional. Porque um coração ardente, vencer os preconceitos, assume seus pecados e se lança sem medo de colocar os pés a caminho para acolher os diferentes, como imagem e semelhança do mesmo Deus – bom e rico em misericórdia – que se revela como um Deus de muitas moradas (Jo 14,2). Para um Deus que é amor, ninguém tem superioridade e privilégios, seja de raças, cores ou nações, ou mesmo status sociais. Por que, com Cristo não há divisão, intolerância, racismo; mas prevalece o amor. E no amor de Cristo ‘não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus’ (Gl 3,28).

[1] Aíla Luzia Pinheiro de Andrade e Solange Maria do Carmo. Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2,14). Encontros Teológicos. v. 35. n. 3. Set.-Dez. 2020, p. 487-504. Aqui, 502.

[2] Aíla Luzia Pinheiro de Andrade e Solange Maria do Carmo. Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2,14). Encontros Teológicos. v. 35. n. 3. Set.-Dez. 2020, p. 487-504. Aqui, 503.

[3] Aíla Luzia Pinheiro de Andrade e Solange Maria do Carmo. Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2,14). Encontros Teológicos. v. 35. n. 3. Set.-Dez. 2020, p. 487-504. Aqui, 503.

 

 

 

Outras informações em:

https://www.camarapf.rs.gov.br/noticia/5152/audiencia-publica

https://www.youtube.com/watch?v=BdsmrzvGpIk&t=2982s