Dia mundial dos pobres

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Jesus Cristo fez-Se pobre por vós (cf. 2 Cor 8,9).

No próximo domingo, 13 de novembro, em comunhão com toda a Igreja e atendendo a sugestão do Papa Francisco, lembramos o VI Dia Mundial dos Pobres. A proposição da data ocorreu no final do Ano da Misericórdia (2016) e aconteceu pela primeira vez em 19 de dezembro de 2017 sob o lema “amamos não com palavras, mas com obras”. Desde então acontece no penúltimo domingo do ano litúrgico com a intencionalidade de reafirmar pela oração e pelas ações o compromisso dos cristãos com os pobres. A lembrança visa atiçar a consciência cristã recordando que o compromisso com os pobres é condição para a salvação (Mt 25,31ss). É inerente à fé cristã o compromisso com a superação da pobreza e as demais condições de vida que ferem a dignidade humana.

Tal compromisso tem fundamentação na Palavra de Deus. O Livro do Deuteronômio, conhecido como o Livro da Lei, apresenta um critério de fidelidade ao Deus da aliança através de uma expressão muito simples, porém densa. Diz o texto: Quando no seu meio houver um pobre, mesmo que seja um só dos seus irmãos, numa só das portas de suas cidades, na terra de que Javé seu Deus, dará a você não endureça o coração, nem feche a mão para esse irmão pobre. Pelo contrário, abra mão e empreste o que está faltando para ele na medida em que o necessitar (Dt 15,7-8). Segundo o texto, o empobrecido, ou seja, quem foi tornado pobre pelo sistema social merece do fiel a Deus um compromisso de fraternidade que pode ser um aporte para a superação da condição de pobreza que, certamente, compreende a ação de justiça, reparação das causas da pobreza.

A tradição profética também assinala de forma inequívoca a necessidade de superação da pobreza, viabilizada pelo compromisso com a pessoa do pobre. Não se desconhece que a temática está ligada às situações que geram pobreza. No primeiro momento era a crítica à pessoa do Rei e suas atitudes contrárias ao desejo de Deus. Posteriormente segue-se uma crítica mais densa e profunda estendida toda a estrutura social, mantenedora da monarquia e geradora de situações de pobreza. O profeta Amós revela com grande coragem as situações geradoras de pobreza (Am 5,10-12). A literatura sapiencial também coloca como critério de fidelidade ao Deus da aliança a atenção aos pobres. São muitas referências. Destacamos o texto de provérbios que relata como uma característica da mulher virtuosa a atitude de abrir a mão para o pobre e estender o braço para o indigente (Pr 31,20). No livro do Eclesiástico, dentre os vários conselhos para enfrentar o mal o compromisso de estender a mão para o pobre como forma de receber a bênção de Deus (Eclo 7,32).

Jesus, o Filho de Deus enviado para a salvação do mundo, revelou na sua missão a opção fundamental pelos pobres. No texto de Mateus está a narrativa da missão de Jesus cuidando das pessoas e ajudando-as compreender o seu lugar no plano de Deus (Mt 4,23-27). Lamenta a situação difícil do povo que vivia cansado e abatido como ovelhas sem pastor (Mt 9,16). Lucas lembra o projeto de Jesus, ungido por Deus, na força do Espírito Santo, para proclamar o ano da graça, a libertação dos pobres (Lc 4,16-20). Revela grande alegria pelo fato dos pequeninos estarem acolhendo a boa nova (Mt 11,26). Sobretudo o Filho de Deus deixa para os cristãos o critério de salvação, a acolhida às diferentes dimensões da pobreza (Mt 25,32-45).

Os primeiros cristãos, segundo o desafio de levar a boa nova de Jesus para o mundo a partir do mandato apostólico (Mt 28,16ss) se depararam com situações de pobreza e o desafio de superá-la. No livro dos Atos dos Apóstolos vê-se a denúncia do problema (At 6,1-2); e a iniciativa assumida para resolver o problema, a nomeação de pessoas para o serviço da caridade (At 6,4-6). Tradição que os cristãos assumiram posteriormente como serviço de diaconia. Também se apresenta a orientação doutrinária sobre a relação dos cristãos com os pobres. Tiago chama a atenção para os cristãos do pecado que consiste em fazer acepção de pessoas desprezando os pobres (Tg 2,2-9). Vê-se o compromisso com a superação da situação de pobreza e a orientação sobre as normas de conduta em relação aos pobres. Não podemos deixar de trazer presente os Santos Padres que escrevem sobre a necessidade de se estar atento às realidades de pobreza. Dentre eles destaca-se São João Crisóstomo, que pregava contra aqueles que acumulavam e esbanjavam, afirmando que os bens da terra são para todos.

A Doutrina da Igreja Católica tem, ao longo dos últimos séculos, reiterado a opção preferencial pelos pobres. Na Abertura da Conferência de Aparecida (2007) o então Papa Bento XVI afirmou que ela é intrínseca à fé cristã e a fundamentada em Jesus Cristo, que se fez pobre para nos enriquecer. Destaca-se a reflexão Latino-americana alinhavada nas últimas Conferências. Na Conferência de Medellín (1968) há a menção dos clamores dos pobres no continente, pobreza esta que é fruto da injustiça que clama aos céus (DM 1.1). Na Conferência de Puebla (1979), os bispos reunidos mencionam os rostos dos pobres presentes no continente (DP 32). A Conferência de Aparecida (2007) retoma o tema e apresenta os novos rostos dos pobres, segundo o texto os rostos daqueles que sofrem, fruto da exclusão social e considerados supérfluos e descartáveis (DAp 65). A missão evangelizadora da Igreja compreende a promoção da vida e com compromisso com os pobres e tem-se claro que este compromisso nasce da fé e não de uma ideologia.

Acolhamos o que pede o Papa Francisco na mensagem enviada por ocasião desse dia: Oxalá este VI Dia Mundial dos Pobres se torne uma oportunidade de graça, para fazermos um exame de consciência pessoal e comunitário, interrogando-nos se a pobreza de Jesus Cristo é a nossa fiel companheira de vida.

Pe. Ari Antonio dos Reis

Seminarista Jean Gonçalves Vassmann