“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. (Tempo de Travessia – Fernando Pessoa)
Mari Teresinha Maule[1]
Considerando a proposta de traçar um caminho, cujo ponto de partida seja a própria prática; pensar os processos metodológicos que compõe e refletir sobre a ação; tendo por referência as sagradas Escrituras, foi o desafio lançado na disciplina de Itinerário Bíblico-Metodológicos da Pastoral, do curso de Pós-graduação em Metodologia Pastoral e Iniciação à Vida Cristã, ministrada pelo Professor Rodinei Balbinot.
Neste sentido, considerando que a minha prática pessoal/profissional/vocacional, está imbrincada com o mundo jurídico, no qual encontram-se as leis, a Constituição Federal e seus princípios, a doutrina, a jurisprudência, pessoas, direitos e deveres… esta disciplina despertou para repensar o termo “Justiça”, tanto no mundo jurídico quanto na Doutrina Social da Igreja, que a tem como um dos eixos estruturantes.
A justiça, no mundo jurídico e na Doutrina Social da Igreja, possui um viés semelhante visto objetivarem proteger e garantir os direitos e deveres fundamentais. Ela é a base e tutela a dignidade a ser defendida e preservada. Assim como a “verdade” é a garantia dos sistemas de pensamento, a “justiça” é a garantia das leis que regulam os sistemas políticos e econômicos. Desta forma, de pouca importância se reveste na prática, a existência de instituições e estruturas bem ordenadas, se estas são mecanismos de injustiças e desigualdades.
Abordar o tema de justiça e de direitos numa sociedade que convive pacificamente com o fato de que esses direitos são continuamente violados e age de modo como se eles não existissem ou não fizessem nenhuma diferença, além de causar uma forte indignação, questiona nossa própria humanidade.
Isso, porque acreditamos que a razão mais sublime da dignidade do ser humano consiste na sua vocação à união com Deus, de um Deus que é amor, e que ama a todos indistintamente e sem quaisquer restrições ou desigualdades.
Por outro lado, em um mundo que reivindica uma consideração maior do valor de cada pessoa, para toda a sociedade humana; do valor de cada grupo étnico, região ou cultura particular como expressão da riqueza do ser humano; do valor da pluralidade para o próprio conceito de unidade; a revelação em Cristo do amor infinito, aberto e abrangente do Deus Trino transforma-se em uma experiência de salvação e torna-se um chamado que convoca, no Espírito, à construção de seu reino de comunhão.
Neste sentido, os textos selecionados e abordados com maestria no decorrer da disciplina foram: Etimologia da palavra pastoral. Sentido bíblico da Pastoral. Lc 1 – a revelação e a pastoral; Jo 4 – o processo dialógico na pastoral. Lc 5 – o superficial e o profundo (pastoral por boa vontade e pastoral por missão); Lc 10 – pastoral, cultura e o Ver; Jo 13 – a pastoral e o poder serviço; Lc 24 – os passos de um processo pastoral; Jo 20 – a conversão pastoral e os processos de ressignificação; aclararam e aprofundaram que a nossa essência mais profunda, é que somos comunhão, doação e relação, quando em alteridade, ou seja, quando nos colocamos em relação/serviço/solidariedade com a outra(o).
Temos a missão de combater todas as excessivas desigualdades econômicas e sociais entre os membros e povos da única família humana que provocam o escândalo e são obstáculo à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana. Em suma, trata-se de assumir o verdadeiro projeto de Jesus, que se torna um desafio diário e coletivo de ressignificação constante e permanente.
Somos todos chamados(as) e desafiados(as) em nossa prática a buscar efetivar que se chegue a condições de vida dignas, humanas e justas.
[1] Mari Teresinha Maule: Possui graduação-bacharelado em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (1993) e mestrado em Desenvolvimento Regional Político Institucional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (1999). Especialista pela Universidade de Passo Fundo em Direito Civil e Direito Processual Civil, no ano de 2015. Atua em Escritório de Advocacia. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito, atuando principalmente nos seguintes temas: responsabilidade civil, administração pública, direito, constituição, código processo civil, direito de família, direito do consumidor e estágios de prática jurídica.