Regiano Bregalda[1]
A sinodalidade não é novidade na Igreja, visto ser fruto de uma experiência das primeiras comunidades cristãs que significava “o povo caminhando junto”. Caminhar juntos é ainda hoje a insistência da Igreja que, por sua vez, se torna uma proposta revolucionária em tempos marcados pelo individualismo, egocentrismo, idolatrias, atomismo social e fechamentos. O percurso sinodal é um caminho de abertura, de escuta, de atenção: um convite para novamente sonharmos juntos e esperançar em torno de uma pauta comum. A perspectiva sinodal busca não só ser um caminho interno da Igreja, mas ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14), capaz de estimular a confiança, curar as feridas, renovar as relações, recuperar o reconhecimento mútuo e construir pontes para buscarmos juntos um mundo de amor, cuidado, comunhão, participação e fraternidade.
Para além de um compromisso eclesial, a sinodalidade oportuniza olhar para um horizonte mais amplo, a sociedade. Neste ano de eleições gerais, as demandas por reflexão e amadurecimento são ainda mais prementes. Sendo assim, requer que a Igreja seja capaz de pautar a política de acordo com os princípios do Evangelho, para que esta venha a ser sinal de justiça, paz e esperança. Nesse sentido, a experiência sinodal é luz para repensar a política, visto ser capaz de promover a dignidade, a democracia e a comunhão, ou seja, um lugar onde todos tenham vida plena e em abundância (Jo 10,10b). A vivência da sinodalidade é aquilo que Deus espera da Igreja e dos cristãos, capazes de escutar a Palavra e ser semente de um mundo novo, construtores da civilização da fraternidade e do amor.
Neste contexto marcado por crises de todas as ordens, sejam elas sociais, políticas, econômicas e culturais, a Igreja é convocada a exercer seu papel no mundo. O sistema vigente marcado pelo neoliberalismo motiva e mobiliza ao egoísmo, à privação das relações, à responsabilização individual de fragilidades sociais, à discriminação, às injustiças e às inúmeras mazelas sociais. Portanto, impulsionar a vivência da sinodalidade em tempos plurais e complexos é um esforço em agir profeticamente, sensibilizando os cristãos a serem ainda mais participantes e ativos na política. Tal perspectiva pode ser vislumbrada por meio da capacidade de cada uma e cada um em pautar a construção de um ethos democrático, além de oportunizar canais evangélicos de formação da opinião pública e da ocupação do espaço público com vistas a promoção de políticas de igualdade, justiça e equidade. Somado a isso, um caminho sinodal diz respeito, também, à possibilidade de decisão coletiva em relação ao futuro que queremos, o que requer renunciar o individualismo, a precarização do debate público e aos mecanismos que corrompem o Evangelho. Diante disso, é necessária sempre a questão: Como impulsionar o espírito sinodal nos espaços eclesiais e sociais que ocupamos? Como despertar o protagonismo cristão para pautar políticas de igualdade, justiça e equidade?
[1] Possui graduação em Filosofia (L e B) pela Universidade de Passo Fundo, graduação em Teologia pelo Instituto de Teologia e Pastoral, mestrado e doutorado em Educação pela Universidade de Passo Fundo. É professor no curso de Teologia no Instituto de Teologia e Pastoral – Itepa.