Elisabete Gambatto[1]
Vera Lucia Dalzotto[2]
A Pastoral Carcerária pretende ser a presença de Cristo junto aos encarcerados, sendo um sinal de fé, esperança e acolhida, animados pelo Evangelho e tendo como objetivo evangelizar e promover a dignidade da pessoa. Ela também busca conscientizar a sociedade da real situação do sistema prisional, apontado para a superação da justiça retributiva/punitiva em vista da justiça restaurativa.
Ela atua junto àqueles que tem sua liberdade privada garantindo que os direitos previstos na lei e execução penal seja cumprido. A Pastoral atua também com as famílias, através de encontros de formação e espiritualidade, priorizando e apostando na valorização da pessoa em vista recuperar a dignidade perdida pelo aprisionamento e a reinserção social.
Atualmente usa-se em demasiado a expressão “fazer justiça!”, sendo urgente a interrogação: “O que é justiça para mim?” Alguns dirão que é dar a todos aquilo que lhe é de direito, como acesso à saúde, moradia, trabalho, educação, etc. Outros ainda afirmarão que é castigar quem burla as regras ou ainda colocar na cadeia quem comete erros, a fim de pagar pelo delito cometido.
No âmbito religioso, muitas vezes se pensa que a justiça vem de Deus que castiga ou recompensa conforme a conduta de cada um. Desse modo, é possível perceber que, de acordo com a situação, o termo justiça tem diversos modos de ser compreendido.
Enfim, o que é justiça? É aquilo que restaura. SIM, ela é capaz de restaurar! E, nesta restauração se destacam três erres: Reconhecer, Responsabilizar-se, Restaurar. Na justiça da igualdade de deveres e direitos vê-se que, quando a sociedade reconhece, se responsabiliza e repara, a justiça punitiva que encarcera e humilha não mais existirá.
A sociedade precisa agir de forma restaurativa. O perdão e a reconciliação têm sua beleza e complexidade, mas compreende-se que são fundamentais para um mundo sem cárceres, pois este é o elemento visível de uma injustiça maquiada de justiça, pois em nenhum momento prima-se pela ressocialização, reconexão ou crescimento do indivíduo preso e às vítimas destes delitos nada é restituído.
Com o objetivo de propor um mundo sem cárceres, a PCr está formando agentes com um novo método: a Justiça restaurativa, que busca colocar a vítima no centro do conflito, mas também proporcionar ao agressor o reconhecimento do dano causado a partir da escuta ativa de forma circular e assim acontece a responsabilização do agressor ou vítima.
A escola do perdão e reconciliação direciona a pessoa ao conhecimento de si mesmo, pois ao se confrontar, em sua interioridade, com as próprias limitações, é possível também controlar as próprias emoções. Isso implica em um processo, no qual o primeiro passo é perdoar-se a si mesmo para em seguida perdoar o outro. Quando se compreende que todos são sujeitos dos mais variados sentimentos, raiva, rancor e inclusive o nefasto ódio, é possível entrar em si e, conhecendo-se, ver a possibilidade de também cometer algum ato ilícito ou algum dano a outrem. O diferencial está no dar-se conta.
Um mundo sem cárceres só poderá acontecer quando ocorrer um “desencarceramento” da própria alma de todo e qualquer preconceito, prepotência, egoísmo, desejo de vingança, desamor, entre outras más inclinações. Só desta forma será possível vislumbrar a justiça sob outro prisma.
Juntamente com esta metodologia, a pastoral carcerária nacional busca construir a paz através dos agentes facilitadores, reparando danos, refazendo relações em processos circulares, unindo teoria, vivência e prática, o tripé que alicerça esta caminhada restaurativa.
Sendo assim, os agentes da pastoral carcerária, cientes da justiça restaurativa e de suas práticas circulares, fazem a visita religiosa às pessoas privadas e liberdade e também aos seus familiares. Restaurar os envolvidos no conflito e as relações quebradas por ele, através do diálogo entre os interessados, torna-se possível reparar danos e reatar laços, tendo em vista um mundo sem cárceres. O meio para atingir este fim é o da justiça restaurativa, uma ferramenta usada com a cultura da paz como firme convicção de romper com o ciclo da violência.
Ser agente na pastoral carcerária requer habilidade emocional e demasiado desejo de fazer acontecer o que Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). A pastoral quer devolver o direito de falar a quem isso lhe foi tirado e propõe deixar de lado o velho sistema e abraçar a nova restauração, sendo um sinal de ressurreição.
Ao superar a morte, Jesus supera também a cruz do medo, do egoísmo, da injustiça, fazendo nascer a vida plena. No mundo do cárcere as mortes são diversas e a ressurreição acontece quando todo cristão se compromete a encarnar os valores do Cristo no hoje da história, seguindo as pegadas daquele que é todo bem.
[1] Agente de Pastoral no Projeto Transformação e na Pastoral Carcerária e Bacharelanda em Teologia pela Itepa Faculdades.
[2] Agente de Pastoral carcerária/coordenação Nacional e Assessora Nacional da Justiça Restaurativa.