PADRE E EDUCADOR ELLI BENINCÁ: fonte de inspiração e de compromisso

Livro: Formação de educadores-pesquisadores: contribuições de Elli Benincá / Eldon Henrique Mühl, Telmo Marcon, organizadores. - Passo Fundo: EDIUPF, 2022. 435 p.;23 cm. - (Praxis Benincaniana).
Livro: Formação de educadores-pesquisadores: contribuições de Elli Benincá / Eldon Henrique Mühl, Telmo Marcon, organizadores. - Passo Fundo: EDIUPF, 2022. 435 p.;23 cm. - (Praxis Benincaniana).

Professor Cláudio Dalbosco

No dia 27/04/2022 o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo (PPGEDU/UPF) fechou com chave de ouro seu Seminário e Curso de Extensão intitulado Os clássicos e a formação, dedicado ao estudo da vida obra do Padre e Professor Elli Benincá. Este último encontro foi conduzido pelos professores e alunos do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo (ITEPA), desenvolvendo a temática “A prática eclesial e social benincaniana”. Da riqueza da exposição feita é possível reter ao menos cinco pontos que servem para continuidade da investigação sobre a Práxis Benincaniana.

  1. O trabalho do Pe Elli tornou-se fonte constante de inspiração para estabelecer com cuidado o diálogo entre filosofia, pedagogia e religião, tendo a educação como fio condutor deste diálogo. Destacam-se neste contexto, questões de natureza metodológica, sobretudo, relacionadas à formação de uma postura ético-formativa para orientação da práxis educacional, pastoral e política.
  2. Sua aposta firme e decidida na formação de novas lideranças. Daí depreende-se seu compromisso com a formação integral do ser humano e sua opção preferencial em formar a juventude, onde ela se encontra, independentemente de credo religioso, classe social, gênero, etc. Sua procura pelos jovens e seu esforço constante em buscar aprender com as novas gerações foi uma constante em sua trajetória pessoal e profissional. Isso tornou-se evidente tanto no ITEPA como na UPF, preservando seu vínculo originário com a Juventude Operária Católica (JOC), em seu período de trabalho pastoral, na época em que era seminarista, na periferia da Grande Porto Alegre, na década de 1960.
  3. Sua insistência na formação intelectual sólida, aberta, ampla e plural. Daí seu pioneirismo, do ponto de vista institucional, em introduzir a pesquisa sobre as Humanidades tanto no ITEPA como na UPF. Mas, o mais interessante, sobre este aspecto, foi sua insistência na leitura, na escrita (vide o exemplo da memória escrita), na meditação e na reflexão e debate em grupos de estudo e de ação pastoral e educacional. Ele enxergava no preparo intelectual crítico e comprometido, a melhor forma de enfrentar os limites do senso comum e, ao mesmo tempo, de valorizar o que a cultura e religiosidade popular traz de importante e indispensável.
  4. Sua trajetória intelectual e de vida também pode ser estuda como referência para tratar da fé cristã (e humana, no sentido mais amplo), na perspectiva crítica. O ato de fé é uma decisão individual, assim ele sempre insistia conosco, mas que precisa vir acompanhada pela capacidade de discernimento crítico sobre o que está acontecendo à sua volta, pelo autoexame crítico constante e pelo engajamento concreto. É este vínculo tensional entre fé e razão que impede que a fé se torne fonte de dominação e alienação, transformando-se sim em fonte de libertação dos seres humanos em relação a estruturas sociais e políticas injustas e opressoras. Só o coração ou só a razão isoladamente é fonte motivadora suficiente para o agir. A sensibilidade pelo outro e a energia transformadora das coisas, do mundo, das pessoas e de si mesmo brotam do difícil e tenso enlace entre ambos, fazendo a fé mover em última instância o discernimento ético e político crítico e transformador.
  5. Por último, a trajetória do Padre e Professor Elli Benincá nos inspira a pensar no outro e a se comprometer com ele, sobretudo, com o outro marginalizado e excluído, que se encontra alheio de todas as oportunidades sociais e políticas. Neste sentido, colocar o conhecimento a serviço do outro sem se anular como sujeito (pessoa) talvez seja um dos maiores desafios da atualidade, sobretudo, em um contexto neoliberal no qual as pessoas e instituições são empurradas cada vez mais para o individualismo possesivo do sujeito empreendedor de si mesmo, para a concorrência e competição desregradas, que anulam a possibilidade de construir formas de vida solidárias (fraternas) e cooperativas. Neste sentido, apostar na força de transformação que reside em cada um, na busca frequente de ser melhor coletivamente, do ponto de vista ético-formativo, com base na formação intelectual sólida e no engajamento concreto constituem parte do legado deixado pelo Benincá e que precisa ser reavivado e reatualizado criticamente.

É este legado sólido, aberto e plural, que o torna nosso “clássico regional”, que pelo seu testemunho e seu discernimento crítico soube universalizar as singularidades regionais da cultura e da religiosidade popular.  Por isso, temos o desafio, na sequência, de continuar investigando seu pensamento e trajetória de vida, visando atualizá-lo criticamente, para contribuir na construção de uma “ideia de educação” transformadora e comprometida socialmente, pastoral, pedagógica e humanamente.