Professor Cláudio Dalbosco
No dia 27/04/2022 o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo (PPGEDU/UPF) fechou com chave de ouro seu Seminário e Curso de Extensão intitulado Os clássicos e a formação, dedicado ao estudo da vida obra do Padre e Professor Elli Benincá. Este último encontro foi conduzido pelos professores e alunos do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo (ITEPA), desenvolvendo a temática “A prática eclesial e social benincaniana”. Da riqueza da exposição feita é possível reter ao menos cinco pontos que servem para continuidade da investigação sobre a Práxis Benincaniana.
- O trabalho do Pe Elli tornou-se fonte constante de inspiração para estabelecer com cuidado o diálogo entre filosofia, pedagogia e religião, tendo a educação como fio condutor deste diálogo. Destacam-se neste contexto, questões de natureza metodológica, sobretudo, relacionadas à formação de uma postura ético-formativa para orientação da práxis educacional, pastoral e política.
- Sua aposta firme e decidida na formação de novas lideranças. Daí depreende-se seu compromisso com a formação integral do ser humano e sua opção preferencial em formar a juventude, onde ela se encontra, independentemente de credo religioso, classe social, gênero, etc. Sua procura pelos jovens e seu esforço constante em buscar aprender com as novas gerações foi uma constante em sua trajetória pessoal e profissional. Isso tornou-se evidente tanto no ITEPA como na UPF, preservando seu vínculo originário com a Juventude Operária Católica (JOC), em seu período de trabalho pastoral, na época em que era seminarista, na periferia da Grande Porto Alegre, na década de 1960.
- Sua insistência na formação intelectual sólida, aberta, ampla e plural. Daí seu pioneirismo, do ponto de vista institucional, em introduzir a pesquisa sobre as Humanidades tanto no ITEPA como na UPF. Mas, o mais interessante, sobre este aspecto, foi sua insistência na leitura, na escrita (vide o exemplo da memória escrita), na meditação e na reflexão e debate em grupos de estudo e de ação pastoral e educacional. Ele enxergava no preparo intelectual crítico e comprometido, a melhor forma de enfrentar os limites do senso comum e, ao mesmo tempo, de valorizar o que a cultura e religiosidade popular traz de importante e indispensável.
- Sua trajetória intelectual e de vida também pode ser estuda como referência para tratar da fé cristã (e humana, no sentido mais amplo), na perspectiva crítica. O ato de fé é uma decisão individual, assim ele sempre insistia conosco, mas que precisa vir acompanhada pela capacidade de discernimento crítico sobre o que está acontecendo à sua volta, pelo autoexame crítico constante e pelo engajamento concreto. É este vínculo tensional entre fé e razão que impede que a fé se torne fonte de dominação e alienação, transformando-se sim em fonte de libertação dos seres humanos em relação a estruturas sociais e políticas injustas e opressoras. Só o coração ou só a razão isoladamente é fonte motivadora suficiente para o agir. A sensibilidade pelo outro e a energia transformadora das coisas, do mundo, das pessoas e de si mesmo brotam do difícil e tenso enlace entre ambos, fazendo a fé mover em última instância o discernimento ético e político crítico e transformador.
- Por último, a trajetória do Padre e Professor Elli Benincá nos inspira a pensar no outro e a se comprometer com ele, sobretudo, com o outro marginalizado e excluído, que se encontra alheio de todas as oportunidades sociais e políticas. Neste sentido, colocar o conhecimento a serviço do outro sem se anular como sujeito (pessoa) talvez seja um dos maiores desafios da atualidade, sobretudo, em um contexto neoliberal no qual as pessoas e instituições são empurradas cada vez mais para o individualismo possesivo do sujeito empreendedor de si mesmo, para a concorrência e competição desregradas, que anulam a possibilidade de construir formas de vida solidárias (fraternas) e cooperativas. Neste sentido, apostar na força de transformação que reside em cada um, na busca frequente de ser melhor coletivamente, do ponto de vista ético-formativo, com base na formação intelectual sólida e no engajamento concreto constituem parte do legado deixado pelo Benincá e que precisa ser reavivado e reatualizado criticamente.
É este legado sólido, aberto e plural, que o torna nosso “clássico regional”, que pelo seu testemunho e seu discernimento crítico soube universalizar as singularidades regionais da cultura e da religiosidade popular. Por isso, temos o desafio, na sequência, de continuar investigando seu pensamento e trajetória de vida, visando atualizá-lo criticamente, para contribuir na construção de uma “ideia de educação” transformadora e comprometida socialmente, pastoral, pedagógica e humanamente.