“Vos sois a luz do mundo” (Mt 5,14).
A presença junto aos diferentes grupos humanos, sobretudo os mais fragilizados, é compromisso evangélico e ético. Poder-se-ia estar em outros lugares, contudo a vida consagrada marca presença junto a estes grupos, pois são chamados a fazer destes lugares de presença, de sua, de sua vida fraterna em comunhão e de suas obras, lugares de anúncio explicito do Evangelho, principalmente aos mais pobres, como tem sido em nosso continente desde o início da evangelização. Desse modo, segundo seus carismas fundacionais, colaboram com a gestação de uma nova geração de cristãos discípulos e missionários e de uma sociedade onde se respeite a justiça e a dignidade da pessoa humana (cf. DAp 217).
Destaco dois exemplos de vida consagrada que, com sua atuação evangélica, fizeram a diferença em seu campo de missão doando-se pela causa do R.
Irmã Dorothy Stang (1931-2005), religiosa norte americana da Congregação de Notre Dame de Namour, deu a sua vida atuando junto aos povos da Amazônia. Conjugou a defesa da vida humana com a defesa da floresta, lembrando que são causas comuns, pois tudo está interligado segundo o princípio da ecologia integral, reafirmada na Encíclica Laudato Si (LS 156). A ação profética de Irmã Dorothy incomodou muitas pessoas poderosas e ela foi covardemente assassinada na cidade de Anapu-PA em fevereiro de 2005. Este assassinato reforça o equívoco em acreditar que ao tirar vidas, mata-se a causa do Reino. Jesus já afirmava “não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt 10,28). Ele também aponta o caminho da ressurreição como horizonte último dos comprometidos e comprometidas com seu Projeto no serviço aos mais pobres. Irmã Dorothy, que “alvejou suas roupas no sangue do Ccordeiro” (Ap 22,14) intercede por todos.
Também lembro Dom Pedro Casaldáliga (1928-2020), consagrado claretiano, bispo emérito da Prelazia de São Felix do Araguaia – MT. Ao longo do seu ministério revelou um compromisso inequívoco com os povos indígenas e pequenos agricultores. O compromisso de Dom Pedro colocou, em muitos momentos, a sua vida em risco. Porém, ele não desistiu. Não tinha medo. Seu compromisso permaneceu até o último instante de sua vida. Sua voz e seus escritos, fundamentados no Evangelho, demonstraram como viver a opção pelos pobres no ministério episcopal. Conjugou na sua vida e ministério o espírito profético, a poesia e a mística. Estas três dimensões da sua vida foram recordadas por ocasião da sua morte ocorrida recentemente quando, de diferentes lugares do Brasil, fez-se memória do seu testemunho.
Os testemunhos da Ir. Dorothy e de Dom Pedro confirmam que a vida consagrada é significativa para a Igreja e para a humanidade. Permite que o Evangelho chegue aos diferentes lugares do mundo a partir do serviço abnegado à causa do Reino. São as velas acesas por Deus em lugares onde a vida segue difícil, marcada por situações de trevas. Estas velas, por vezes vacilantes, mas teimando em se manterem acesas, ajudam a iluminar o caminho de tantas pessoas que não têm a quem recorrer senão aos consagrados e consagradas.
Agradeçamos ao Senhor pelo testemunho de tantos homens e mulheres e pedimos que continuem nos ajudando a promover uma Igreja em saída, fortalecendo o anúncio do Reino de Deus e de sua justiça.
Pe. Ari Antônio dos Reis