Cristo vivo e o chamado a ser santo com o jovem

A Exortação Apostólica Christus Vivit constitui-se numa bela reflexão sobre a realidade dos jovens, um convite à santidade no espírito do seguimento ao “Cristo vivo”. Convém iniciar com a invocação da abertura do texto: “Cristo vive: é Ele a nossa esperança e a mais bela juventude deste mundo! Tudo o que toca torna-se jovem, fica novo, enche-se de vida. […] Ele vive e quer-te vivo!” (n. 1)

Muitas reflexões estas palavras inicias suscitam diante de um contexto complexo e que tem apresentado inúmeras opções aos jovens. De forma proporcional às oportunidades oferecidas estão as exigências para encontrar um caminho de autenticidade à vocação humana e cristã. Parece que o discernimento acerca do rumo a seguir e dos referenciais a serem adotados são tarefas cada vez mais difíceis. Entre as dificuldades para se ter lucidez no agir estão as roupagens diferentes com que são apresentadas as perspectivas de vida. Mesmo em nome de Jesus são cometidas tantas enganações e leviandades.

Encorajamento e discernimento

O Papa Francisco através da Exortação faz um ato de fé no jovem e convoca a todos a participarem deste processo de interpretação e discernimento vocacional neste contexto complexo e aparentemente confuso. A energia e a vitalidade da juventude, que faz com que quem se aproxime também seja revitalizado é um dos sinais sobre o qual se deposita confiança. Nesta perspectiva, a Exortação “encoraja a crescer na santidade e no compromisso em prol da própria vocação” (n. 3).

Um critério fundamental para auxiliar no discernimento das atitudes e ações é olhar para seus efeitos, tanto os imediatos e, ainda mais, os mais duradouros. Vamos usar um exemplo, para ajudar a evidenciar o que se quer dizer. Pode-se em nome da paz disseminar ódio e agir com violência, seja ela explícita ou implícita? A precipitação na classificação das pessoas por cores, orientações ou preferências está de acordo com o Evangelho de Jesus Cristo, ou é justamente o que era condenado por Ele?

Isso significa que o discernimento é aparentemente difícil porque as coisas são, muitas vezes, apresentadas com uma roupagem bonita – e é muito bom cuidarmos para que a conotação e o discurso “religioso” não nos ganhe de forma equivocada – e agradável, mas que não passa de hipocrisia e está carregada de incoerências. Ao rompermos a casca, ao ultrapassarmos o nível da superfície, não restará dúvidas do que produz vida e do que produz morte, do que produz alegria profunda e do que não passa de um “simples sorriso”.

A vocação à santidade no rosto do Cristo vivo

O Papa Francisco deposita fé na juventude não porque os jovens são puros e santos ao modelo da separação do mundo real. Antes pelo contrário, porque são aí sinais da contradição e das incoerências que vivemos enquanto sociedade e que, muitas vezes, queremos impor aos jovens. Pretendemos que adotem os princípios da concorrência como regra de vida e não percebemos que a vida fraterna parece indicar para outra direção. Estimular para que busquem sua vocação autêntica e a santidade a seu modo implica revisar nosso modo de vida, quando incoerente com o Cristo vivo.

Aliás, somos convidados a teologizar desde o carnaval. Quando parece que perdemos a força e o entusiasmo de apresentar o Cristo histórico e vivo, aquele que segue se encarnando no contexto atual. É de lá, de uma festa popular tão banalizada e também por nós malfalada, que grita o rosto humilde, pobre, com rosto desfigurado e real, negro, índio…

Que saibamos tirar lições e discernir a dimensão sagrada do rosto de tantos sofredores de hoje!

Neri Mezadri, coordenador pedagógico na Itepa Faculdades