Animação Bíblica da Pastoral (ABP)

O Colegiado da Animação Bíblico-Catequética do Regional Sul 3 CNBB, que compreende as coordenações (arqui)diocesanas das dezoito (arqui)dioceses do estado do Rio Grande do Sul organizou no dia 4 de setembro de 2019 um estudo do Documento do Celam intitulado: “Orientações para a Animação Bíblica da Pastoral na América Latina e no Caribe”, tendo como assessor Dom Jacinto Bergmann (Arcebispo da arquidiocese de Pelotas e referencial para a Animação Bíblico Catequética do Regional Sul 3 CNBB).

Em sua apresentação, retomando o que diz Bento XVI, o Documento aponta o objetivo da ABP: mostrar que “a Igreja é fundada sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela” (VD 73). Complementa essa ideia com o que diz o Papa Francisco: “‘Toda a evangelização se fundamenta na Palavra de Deus, escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada’. As Sagradas Escrituras são a fonte da evangelização, portanto, é necessário formar-se continuamente para a escuta da Palavra. A Igreja não evangeliza se não se deixa continuamente evangelizar. É indispensável que a Palavra de Deus seja cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial” (EG 174).

Dom Jacinto ressaltou que o Documento quer ser um instrumento de comunhão e pedagogia, inspirado nos Discípulos de Emáus (Lc 24,13-36), subdividindo-se em sete sinais que expressam as etapas deste processo: o Caminho, o Peregrino, a Escritura, a Casa, o Pão, o Coração e a Missão. Neste texto tentaremos responder o que significa na prática a ABP.

A ABP e o Concílio Vaticano II

A Igreja Católica, depois do Concílio Vaticano II, tem consciência de que os batizados necessitam de um “amplo acesso à Sagrada Escritura e precisam se familiarizar de modo seguro e útil, com ela, embebendo-se do seu espírito” (DV 25). A novidade apareceu com clareza na 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizada em Aparecida, no ano de 2007: “Faz-se, pois, necessário propor aos fiéis a palavra de Deus como dom do Pai para o encontro com Jesus Cristo vivo, caminho de ‘autêntica conversão e de renovada comunhão e solidariedade’ (DAp 248)

A partir desta perspectiva busca-se o encontro com o Senhor através da palavra revelada, contida na Escritura, como fonte de evangelização. Entende-se que os discípulos de Jesus desejam se alimentar com o pão da Palavra e, por isso, querem chegar à interpretação adequada dos textos bíblicos, empregando-os como mediação de diálogo entre os homens e Jesus Cristo. A Igreja, portanto, animada pela exortação do Concílio Vaticano II e ratificada pela exortação da Conferência de Aparecida, deseja que a palavra de Deus seja alma da própria evangelização e do anúncio do Reino de Deus a todos. A Sagrada Escritura é a fonte de toda a ação evangelizadora.

A ABP pós Concílio Vaticano II

O Papa Bento XVI, na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini (VD) propõe a animação bíblica da pastoral inteira. Ou seja, não existe uma pastoral bíblica, como se o estudo das Sagradas Escrituras, sua vivência e meditação fossem mais um departamento dentro da vida paroquial. Pelo contrário, o estudo e a apropriação da palavra de Deus deve ser a alma que sustenta toda a ação eclesial. A vida das pastorais, dos movimentos, dos serviços deve ser impulsionada pela palavra revelada contida nas Sagradas Escrituras.

A Bíblia, portanto, está acima e, mais ainda, perpassa todo o fazer e o ser da Igreja (VD 76). A Palavra precisa estar em tudo o que a Igreja faz. Não se trata simplesmente de acrescentar em qualquer encontro na paróquia ou na arquidiocese um texto bíblico, mas de verificar que, nas atividades habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nos serviços e nos movimentos, tenha-se realmente o encontro pessoal com Jesus Cristo que se comunica a nós na sua palavra. Dado que: “a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo” (São Jerônimo apud VD 73), então podemos esperar que a animação bíblica de toda a pastoral ordinária e extraordinária levará a um maior conhecimento da pessoa de Jesus Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina.

A ABP na vida dos batizados

A ABP é meio de preparar bem os batizados para se fortalecerem na fé e no amor. Por isso, é necessário prover também a uma preparação adequada dos presbíteros e dos leigos, para poderem instruir o povo de Deus na genuína abordagem das Escrituras. Uma formação que não só estimule um contínuo e fascinante contato-comunhão com a palavra de Deus encarnada, Jesus Cristo, mas também dinamize as pessoas para uma forte e vibrante ação evangelizadora, pelo testemunho de vida, pelo anúncio da boa-nova e por uma ação profética de transformação das pessoas e da sociedade, segundo os valores do reino de Deus.

Um dos métodos formativos de grande incidência na vida das pessoas e de toda a Igreja, que deve ser promovido e incentivado, é a leitura orante da palavra de Deus. Vivenciada com todo o empenho em nível pessoal, mas sobretudo comunitário, e dentro de um clima orante, celebrativo, fraterno e comprometedor, esse método educa gradativa e paulatinamente na fé, na esperança e no amor. E assim, os discípulos missionários de hoje e de todos os tempos vão se apaixonando por Jesus Cristo, sedentos e famintos de intimidade com ele – que se doa plenamente no alimento da Palavra, da eucaristia e da vida comunitária eclesial – e desejosos de experimentarem uma ação libertadora profética, para a construção do Reino de Deus.

Bíblia na mão e no coração é pé na missão!

A leitura orante nos enriquece privilegiadamente para a missão de anunciar, com conhecimento de causa a palavra de Deus a todos os povos, com a força da sabedoria que vem do alto e por meio de uma caridade criativa que nos leva ao encontro dos pequenos, dos sofredores, dos injustiçados e dos excluídos. Com a Bíblia na mão, a palavra de Deus no coração e os pés na missão, pessoas e comunidades são transformadas e assim passam a semear abundantemente a esperança no mundo. A missão de todo o discípulo missionário é cultivar cuidadosamente as sementes dessa palavra, que fazem produzir na Igreja e na sociedade frutos de amor, de solidariedade, de misericórdia, de justiça e de paz.

Uma das ações da ABP consiste, portanto, em incentivar, motivar, assessorar e subsidiar as Igrejas particulares, para que suas pastorais, movimentos, organismos, associações, novas comunidades, círculos bíblicos, grupos de família e outras expressões comunitárias adotem a leitura orante em seus diversos métodos e expressões, entre os quais está, privilegiadamente, a lectio divina. Essa prática, indiscutivelmente, servirá de alicerce para que tudo na Igreja tenha como ponto de partida a palavra de Deus e dela se alimente e, à sua luz, realize a missão e avalie constantemente a caminhada que está sendo feita.