Estamos nos aproximando do Sínodo para Amazônia, enquanto momento decisório, que acontecerá em outubro próximo. Na verdade, o processo Sinodal já vem acontecendo a um bom tempo, desde a convocação do Papa Francisco em outubro de 2017. Na época o Pontífice manifestou preocupação quanto à ação evangelizadora naquela região, o que justificava a convocação do Sínodo. Parte do objetivo confirma a preocupação: “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente os povos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise na Floresta Amazônica”.
Para os bispos brasileiros a proposta do Sínodo é uma resposta ao pedido feito à Francisco em 2016, durante o II Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, que convocasse um encontro para refletir a evangelização da Amazônia. Vê-se que a preocupação da Igreja Católica com a evangelização da Amazônia vem de muito tempo, não é algo recente.
Em 1972, na cidade de Santarém, os bispos trataram do tema a partir da orientação do Papa Paulo VI que afirmou: “Cristo aponta para a Amazônia”. As assembleias se repetiram em 1974, tratando da juventude e em 1990. Esta última gerou um documento intitulado “a Igreja se fez carne e armou sua tenda na Amazônia”. Ainda em termos de articulação da Igreja no Brasil em 2013 aconteceu o I Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal na cidade de Manaus-AM, seguido de outros em 2016, na cidade de Belém-PA e 2018, novamente na cidade de Manaus-AM.
Em 2007 a Conferencia dos Bispos do Brasil propôs uma campanha da fraternidade voltada para a Amazônia como o tema “a fraternidade e a Amazônia” e o lema “vida e missão neste chão”. Um dos resultados desta campanha foi a criação da Comissão Episcopal Pastoral da Amazônia, voltada a articulação das atividades eclesiais na Amazônia brasileira. Em 2015 foi criada a Rede Eclesial Panamazônica agregando as Igrejas e entidades dos diferentes países da grande Amazônia, num esforço mais amplo de articulação das atividades de evangelização, através da metodologia do trabalho em rede. Em 2017, através da Campanha da Fraternidade voltada aos biomas brasileiros, a região Amazônica novamente foi objeto de reflexão, sobretudo pela explicitação da importância da sua preservação para o equilíbrio climático do restante do país e dos países do cone sul.
A preocupação do Sínodo é louvável. Muitas críticas que estão sendo feitas carecem de fundamento ou partem de compreensões equivocadas do papel da Igreja na sociedade e do sentido da evangelização. A Igreja se preocupa com a região e com os povos que lá habitam. E esta preocupação, por ser voltada à dimensão evangelizadora, tem sim uma perspectiva política, pois toda a ação evangelizadora é ação política, porque se volta para o bem comum.
Os processos de preparação ao Sínodo, foram marcados pela disponibilidade de escuta e acolhida das sugestões, posteriormente apresentadas no instrumento de trabalho que orientará as reflexões em Roma. Neste diálogo ficou explicito o clamor por uma presença mais efetiva da Igreja na região, uma igreja que “marca presença” e não apenas uma “Igreja que visita”. As reflexões do Sínodo ajudarão a sustentar novos processos de trabalho em fidelidade ao evangelho de Jesus, aquele que passou no mundo fazendo o bem e convida todos os cristãos a serem instrumentos do bem.
Pe Ari Antonio dos Reis