Estou sentido uma grande alegria, mas também certa preocupação. Alegre pelo chamado do Senhor para a missão do Diaconado; preocupado pela possibilidade de não corresponder adequadamente neste percurso vocacional, devido à minha pequenez. Que Maria venha em meu auxílio e me ajude com a sua conduta humilde, silenciosa e terna, a acolher a Palavra e a seguir sempre o seu Filho Jesus, amor encarnado, “caminho que ultrapassa todos os outros” (1Cor 12, 31).
Sabemos que nossos passos são apressados, mas é preciso, cotidianamente, construir de mãos dadas esse caminho, estabelecendo relações fraternas, apesar das dificuldades. Deus nos convida à santidade e o lema de ordenação – “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3) –, que é de todos nós, nos provoca permanentemente para esta realidade.
Inseridos num contexto complexo, percebemos que alguns dramas se tornam cada vez mais comuns. Ainda há muitos que choram, são submetidos e tem fome e sede de justiça. Porém, se formos sensíveis, sentiremos uma grande necessidade de viver humanamente, encontrar os últimos e ser solidários com eles.
Não podemos nos afastar das periferias e daqueles que mais sofrem, porque todos temos uma vocação diaconal, que é essencialmente doação, serviço. O Papa Francisco, disse: “o único modo de ser discípulo de Jesus é servindo aos outros”[1]. Ele continuou:
Somos convidados a viver na disponibilidade e na doação, renunciando aos próprios interesses. Quem serve não é escravo de quanto estabelece a agenda, mas, dócil de coração, disponível para o não-programado, pronto para o irmão, aberto ao imprevisto e às surpresas diárias de Deus. O servo sabe abrir as portas a quem vive ao seu redor e também a quem bate fora do horário. Sabe que o tempo não lhe pertence, mas é um dom recebido de Deus para ser oferecido e produzir fruto. Assim, disponíveis na vida, mansos e humildes de coração e em diálogo constante com Ele, não teremos medo de ser servos de Cristo e de encontrar e acariciar a carne do Senhor nos pobres de hoje.[2]
Estimados irmãos e irmãs: o projeto do Reino de Deus é atual e extremamente necessário. Não nos cansemos de trabalhar por esta proposta que envolve todas as dimensões da existência! Mesmo que às vezes os resultados sejam frágeis, vale a pena arriscar-se, na certeza de que a semente lançada com amor e simplicidade, produz o seu fruto.
Jesus disse: felizes os misericordiosos, aqueles que tem os pobres em seu projeto de vida. Segundo São Mateus é sobre isso que seremos julgados na plenitude dos tempos (Mt 25,31-46), pois o critério de avaliação da nossa caminhada é, antes de mais nada, o que fizemos pelos outros, especialmente os excluídos.
Bem-aventurados os que promovem a paz, fruto da justiça e do direito, contra toda a fofoca, más intenções, divisão e violência; felizes os puros de coração, que alimentam projetos e decisões transparentes, superam o egoísmo, a manipulação e a maldade. Neste mundo repleto de desigualdades, onde os mais fortes têm privilégios e sobressaem-se em relação aos fracos, aspiramos uma sociedade fraterna, vida digna e libertação para todos.
Felizes são também os perseguidos por causa da justiça, deles é o Reino. Segundo o Papa Francisco, “Jesus mesmo nos alertou que esta opção vai contracorrente, a ponto de nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a vida e que incomodam”[3]. Segundo ele, “se não queremos afundar numa obscura mediocridade, não pretendamos ter uma existência cômoda, porque, ‘quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la’ (Mt 16,25). [4]
No embate entre o Reino de Deus e as tramas políticas, econômicas, culturais, midiáticas e até mesmo religiosas do reino do pecado, o discípulo tem consciência de que receberá golpes. Sobre isso o Papa Francisco disse: “para viver o Evangelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja favorável, porque muitas vezes as ambições de poder e os interesses mundanos jogam contra nós”.[5] A perseguição, que pode significar violência física ou mesmo verbal – pela qual destroem-se a integridade e a honra de alguém, através da difamação e da calúnia – é o caminho da plena identificação com o Mestre, pois quem faz tudo o que estiver ao seu alcance para que este futuro bonito e utópico se transforme em presente, não tem repouso.
A oitava bem-aventurança, portanto, resume bem a mensagem de Jesus e evidencia a situação dos que se põem contra o “deus dinheiro”, isto é, a sociedade baseada na ambição do poder, do sucesso e da riqueza (Mt 4,1-12). Assim, a cruz não é um acidente no caminho do pobre em espírito, mas uma condição para o seguimento radical ao Mestre.
Por fim, agradeço imensamente à Arquidiocese de Passo Fundo e à Paróquia São Roque pela graça de fazer essa caminhada; aos formadores que me acompanharam e aos seminaristas, irmãos de cultivo e de partilha. Obrigado também a vocês, que acompanharam a minha ordenação, àqueles que não puderam participar e a todos que, de uma forma ou de outra, me ajudaram no caminho da formação. Não citarei os nomes porque foram muitos.
Obrigado à minha família, particularmente aos meus irmãos, cunhadas, sobrinhos, pai e mãe por tudo que vocês me ensinaram. Juntos enfrentamos muitas situações difíceis, mas nunca perdemos a esperança e a certeza de que Deus acompanha com grande amor os seus filhos e filhas.
Peço que, se possível, todos vocês rezem por mim para que eu seja um discípulo humilde e ousado do Senhor, instrumento do Reino de Deus evidenciado nas bem-aventuranças. Sigamos juntos nesta missão! Que o diácono e mártir São Vicente interceda por nós.
[1] Jubileu Extraordinário da Misericórdia: Jubileu dos Diáconos, Homilia do Papa Francisco. Disponível em: <w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2016/documents/papa-francesco_20160529_omelia-giubileo-diaconi.html>. Texto adaptado.
[2] Jubileu Extraordinário da Misericórdia: Jubileu dos Diáconos, Homilia do Papa Francisco. Disponível em: <w2.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2016/documents/papa-francesco_20160529_omelia-giubileo-diaconi.html>. Texto adaptado.
[3] Papa FRANCISCO, Gaudete et exsultate, n. 90. Texto adaptado.
[4] Papa FRANCISCO, Gaudete et exsultate, n. 90. Texto adaptado.
[5] Gaudete et exsultate, n. 91.