O Papa Francisco encerrou na última terça feira, 05 de fevereiro, uma visita muito significativa aos Emirados Árabes, pais da Península Arábica, expressando o desejo que todas as religiões assumam, verdadeiramente, o compromisso com a paz.
Tal princípio vale também para o cristianismo. As duas grandes cisões na tradição cristã, a saber, do século XI e do século XVI, serão superadas pelo princípio do diálogo, da convivência fraterna e da acolhida aos desígnios de Deus. O princípio do diálogo inter-religioso (entre religiões) e do ecumenismo (entre cristãos) continua válido e necessário, como um sinal de paz em um mundo com tantas feridas.
A visita do Papa Francisco nos reporta a um encontro anterior com uma profundidade ímpar. Refiro-me ao encontro de São Francisco de Assis com o Sultão de Al- Malik Al Kamil em 1219, oitocentos anos atrás. Naquela época o encontro teve o acento da cortesia, respeito e diálogo, ou seja, a experiência de que as diferenças não afastam, mas podem aproximar e enriquecer as pessoas.
A visita do Papa Francisco aos Emirados Árabes se insere no ideário daquela iniciativa primeira e, nos tempos atuais, sugere uma nova lógica de evangelização: paritária e não de superioridade, de encontro e não de afastamento. Implica na ousadia e humildade de ir ao encontro do outro para dialogar, partilhando dons e pontos de vista. É um caminho alternativo às proposições do fechamento, do fundamentalismo e da demonização de quem pensa, crê e reza diferente.
É de grande profundidade simbólica a assinatura do “Documento sobre a fraternidade humana pela paz mundial e a convivência comum”, texto marcado pela condenação ao terrorismo e à violência, principalmente quando são motivadas por questões religiosas.
Destaco três ideias do texto assinado pelo Papa e o grão imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyib, segundo o site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil:
a) Pedimos a nós mesmos e aos líderes do mundo, aos artífices da política internacional e da economia mundial, para que se empenhem seriamente em difundir a cultura da tolerância, da convivência e da paz, para que intervenham, o quanto antes, para deter o derramamento de sangue inocente e acabar com as guerras, os conflitos, a degradação ambiental e o declínio cultural e moral que vive o mundo de hoje.
b) As religiões não incitam nunca à guerra, não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo, e nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. Essas calamidades são fruto do desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de homens de religião.
c- Cesse a instrumentalização das religiões a fim de incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego, e parar de usar o nome de Deus a fim de justificar atos de homicídio, exílio, terrorismo e opressão. Deus, Onipotente, não precisa ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas.
O segundo momento significativo foi a missa celebrada para mais de 180 mil católicos da região, que lotou um estádio de futebol. Aliou-se o compromisso pela construção da paz e a celebração do mistério de Jesus, o príncipe da Paz.
Estas atitudes, de grande significado mundial, convidam todos os seres humanos se comprometerem na construção de pontes e não de muros. Sempre lembrar que a diferença, se bem acolhida, enriquece a fortalece os laços com o outro, que pensa, crê e reza diferente.
Pe. Ari Antonio dos Reis