Ana Lucia Alves de Oliveira
O período eleitoral é um tempo propício para questionarmos nossa atuação enquanto leigos e leigas no mundo da política. É ocasião para cada um de nós, enquanto cidadão, confrontar sua reflexão-ação, ou seja, avaliar a própria práxis sobre o mundo, com o objetivo de transformá-lo.
O Papa Francisco ensina que “…a política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. […] Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres”[1]. O Papa expressa o sentido bonito da política, mas também constata os limites em relação à ética e ao diálogo verdadeiramente democrático, que estão em falta no contexto global, marcado pela sociedade capitalista neoliberal, que é extremamente excludente, injusta e violenta.
Diante deste cenário, nós, leigas e leigos, devemos ter a coragem de assumir nossa atuação política, nos destacando pela fé, ética e compromisso solidário com os sofrimentos e esperanças dos pobres. Isso pode ser efetivado através da escolha de representantes convictos de seu papel transformador sócio-político-cultural, bem como a possibilidade de se candidatar, encarar a política como serviço e se apresentar como uma opção para que o “novo” aconteça.
Desde o Concílio Vaticano II, fomos estimulados, como católicos versados em política e devidamente firmes na fé e na doutrina cristã, a não recusar cargos públicos, se pudermos por digna administração prover o bem comum[2]. A Doutrina Social da Igreja e a opção pelos pobres deve ser a orientação de nossa conduta em todos os espaços possíveis (família, grupos, comunidade), para uma coerência de vida de fé. É o próprio evangelho que afirma o nosso protagonismo de cristãos leigos “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13-14).
No entanto, nossa missão enquanto leigos e leigas vai além, e é mais ampla do que o espaço das agremiações partidárias e suas ideologias. Somos chamados a ser sinais da presença do Reino de Deus na sociedade em geral, defendendo a vida de todos os excluídos e excluídas, participando ativamente dos espaços públicos de decisão, contribuindo na construção de políticas públicas para a construção do bem comum, a superação das desigualdades sociais e o respeito aos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais.
O modo de assumir e viver a política é uma espiritualidade. Nosso testemunho enquanto cristãos leigas e leigos deve ser transparente e motivar novas formas de vivenciar o Evangelho, em comunhão com as causas sociais, revelando uma espiritualidade fundamentada e relacionada com o chão da história, uma prática desalienante. É nessa proposta que a Igreja tem a missão de incentivar, preparar e acompanhar os cristãos leigos e leigas para serem profetas no mundo da política partidária e das políticas públicas.
[1] CNBB. Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade: Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5, 13-14). Brasília: CNBB, 2016, p.129.
[2] Ibidem, n. 130.