Neri Mezadri
Coordenador pedagógica na Itepa Faculdades
Dando continuidade à reflexão que tem como ponto de referência o Documento número 105 da CNBB, Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade, vamos apontar algumas questões sobre o protagonismo dos leigos na Igreja e no mundo no contexto atual.
Iniciamos com uma breve retomada do slogan ou do que poderia ser considerado o lema do Documento: Sal da Terra e luz do Mundo, expressão extraída do Evangelho de Mateus, capítulo cinco, versículos 13 e 14. A analogia da participação dos cristãos na sociedade e no mundo aponta para uma questão fundamental, à medida que, seguindo o princípio apontado pelo Papa Francisco da Igreja em saída, elucida e desafio para uma relação de transformação por dentro e que encoraja contra o medo paralisante da “contaminação” e da prévia condenação da “sociedade”.
O espírito do Documento e o discernimento da realidade
Em sintonia com esta dinâmica de evangelizar desde dentro, um dos critérios apontados pelo referido Documento da CNBB considera (n. 248, b) que o “mundo é uma realidade a ser constantemente discernida. Não deve ser rejeitado ou assumido por si mesmo em qualquer condição”. E ainda orienta: “A partir da fé e dos valores do Reino de Deus, a Igreja ilumina as realidades do mundo”.
Outras duas passagens do Documento ajudam a evidenciar o caminho a ser percorrido: “O mundo carrega, por sua vez, sinais do Reino, na medida em que avança por todos os meios na busca de condições de vida e de convivência humana que tornem mais viável a realização da liberdade e da fraternidade” (n. 241). “O Reino de Deus é o horizonte maior e a reserva inesgotável de justiça e de fraternidade que orienta a ação transformadora dos cristãos no mundo” (n. 247).
Desta forma, pensamos que seja possível traduzir o espírito e evitar perigos iniciais diante da sociedade e do mundo, em que os leigos têm o enorme desafio de, ao lado dos ministros ordenados, ser o sal – tempero na medida certa – e a luz – não esquecer que a luz verdadeira é o Evangelho e de que somos instrumentos dele – do mundo. Precisamos evitar, por um lado, o medo da contaminação e a atitude de rejeição antecipada – às vezes, nos considerarmos tão perfeitos diante de um mundo ambíguo e imperfeito, que nos separamos dele. Por outro lado, evitar a aceitação total sem ajudar no discernimento dos sinais do verbo e nos sinais de contradição da sociedade e da cultura da sociedade atual.
Algumas pistas
No capítulo III, A ação transformadora na Igreja e no mundo, no item 5, A ação transformadora do cristão leigo no mundo, o Documento aponta modos, critérios e princípios da ação transformadora do leigo em sociedade. No item 6, A ação dos cristãos leigos e leigas nos areópagos modernos, estão postos alguns dos espaços de atuação dos leigos.
Seguindo a espiritualidade do seguimento e do encontro pessoal com Jesus Cristo, o leigo e a leiga, não podem esquecer que o anúncio não se restringe aos outros, implicando sempre em conversão pessoal. Ao lado disso, o exercício da cidadania e a eclesialidade se dão como movimento único.
É com este espírito que os cristãos leigos são chamados a atuam na vida da Igreja e a dar testemunho de vida, mas também engajar-se na sociedade para imprimir o modo cristão próprio em realidades como: a família, o mundo da política, o mundo do trabalho, na realidade cultural e educacional e das comunicações. A atitude de cuidado para com a Casa Comum e inúmeras realidades, como a das migrações, das catástrofes ambientais, da pobreza e de tantas outras é o desafio do modo próprio de exercer a cidadania batismal por parte do leigo e da leiga.