Os tempos mudaram? Ou mudou o que é colocado no coração do tempo? Estão relativamente distantes os tempos em que o pai de família, o professor na escola, o padre na Igreja, o prefeito gozavam de posição privilegiada e dificilmente contestada. A tradição, transmitida oralmente, constituía-se forte alicerce sobre o qual as novas gerações erguiam as suas tendas e a partir dela traçavam seus itinerários de vida. Mesmo que tivessem que migrar para longe de suas terras, mantinham-se orientados pela tradição, sua bússola. O futuro ia, assim, se construindo no presente vivido a partir de um passado sólido. A ação de planejar as diversas dimensões da vida constituía-se, então, numa atividade de menor importância.
Nos tempos e espaços pós-modernos, altamente tecnificados, a bússola não faliu, mas se tornou obsoleta. O GPS ocupou o espaço e a função que lhe cabiam. Mergulhada em “tempos líquidos”, a humanidade vivencia profundas e piscantes transformações econômicas, sociais, éticas e tecnicoculturais. As luzes do passado, ofuscadas por uma baixa, densa e incerta neblina, formada por novos e fugazes princípios e concepções sobre Deus, homem, vida, não alcançam espaços mais vastos e deixam de iluminar os horizontes. Tal como numa longa viagem, é tempo de diminuir a velocidade, ligar os faróis para visualizar perspectivas ou seguir, balizados num roteiro previsto. Para clarear estes horizontes, a mudança de época exige uma espiritualidade encarnada com atenção redobrada sobre o modo de ver, pensar e agir.
Contraposto à liquidez pós-moderna, continua o chamamento para a vivência da sólida espiritualidade e da mística do discípulo missionário a caminho. Atônito e tentando responder a este compromisso Agenor Brighenti escreveu: “A pastoral dá o que pensar”1. Parafraseando o seu pensamento se pode dizer que, para superar a inevitável tensão entre o traçado demarcado pelos objetivos da ação pastoral e a prática executora das metas, o planejamento pastoral “dá o que pensar”.
Face aos desafios evangélicos, eclesiais, aos clamores do povo empobrecido, somados aos que são postos pelas necessidades pastorais deste tempo de mudanças, a Itepa Faculdades vem acelerando, cautelosa e reflexivamente, seu caminhar. Além disso, vem reforçando o compromisso de subsidiar a abertura de novos caminhos para o andar missionário e pastoral que avança, traçando perspectivas para preencher os vazios de fé, usurpados pelas seduções desses tempos pós-modernos. A partir do diálogo com teólogos, pesquisadores e formadores, esta IES coloca nas mãos de seus leitores o número 123 da Revista Caminhando com o Itepa com reflexões que se agrupam em três enfoques sobre o Planejamento Pastoral 1 – O lastro histórico do planejamento pastoral; 2 – Concepções didático-pedagógicas de planejamento, plano e projeto; 3 – O planejamento pastoral e a ação evangelizadora.
Com o título Histórico do planejamento pastoral na Igreja do Brasil o Pe. Ari Antonio dos Reis revisita a história do processo de planejamento da ação evangelizadora no Brasil construído em resposta às interrogações oriundas dos diferentes contextos históricos. Toma como ponto de partida a forma como Jesus, o Filho de Deus encarnado, assumiu a missão na Palestina tendo em vista o Reino de Deus. Em continuidade, aborda a ação evangelizadora da Igreja primitiva após o mandado recebido do Ressuscitado. Em uma terceira parte retoma a trajetória do planejamento pastoral no Brasil, tendo como ponto de partida o período pós-proclamação da República, quando se deu a separação da Igreja com o Estado, até os dias atuais.
Com o objetivo de clarificar conceitos e suas respectivas abrangências, o Pe. Jair Carlesso com o tema: Planejamento, plano, projeto, caminho da ação evangelizadora reflete sobre a relação entre planejamento, plano e projeto da ação evangelizadora. O pesquisador pergunta se seria possível distinguir estes conceitos. Em sua reflexão, Carlesso recoloca o sentido de planejamento, compreendendo-o como um ato relacionado à natureza da ação. A Igreja, fundada por Jesus Cristo, tem uma identidade e uma missão a ser exercida numa realidade concreta. Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar. A partir de sua identidade e missão, procura distinguir os conceitos, ressaltando o planejamento como um processo contínuo, o plano como a efetivação do planejamento para um determinado tempo e lugar e o projeto como uma ação específica do plano.
O Pe. José Adalberto Vanzella reúne, sob o título A importância das diretrizes gerais para a elaboração de planos de pastoral, as reflexões da CNBB, desde as suas origens. Afirma que desde seus primórdios esta entidade procura realizar um trabalho de pastoral de conjunto que responda às necessidades da evangelização no Brasil e aos apelos da realidade. A principal ferramenta elaborada pela CNBB para esse trabalho são as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que devem ser a pedra de toque no processo de planejamento de todas as Igrejas Particulares no Brasil, assim como das pastorais. Por isso, as Diretrizes Gerais devem ser o elemento fundamental do Referencial Teórico em todos os trabalhos de planejamento pastoral.
Sob o título A pastoral em chave cristológico-antropológica. Evangelizar a partir dos cinco sentidos, o Pe. Rogério L. Zanini aborda o tema da ação evangelizadora, missão da Igreja. O autor considera que hoje com as mudanças rápidas e profundas em todos os níveis da sociedade a fé, consequentemente sofre abalos e precisa se solidificar dentro deste ‘mar’ revolto. O desafio que urge é, nas palavras de Francisco: “responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro” (EG 89).
Com o texto Planejamento da ação evangelizadora em perspectiva metodológica, o Prof Neri José Mezadri, secundado pelo Pe. Giovani Momo da Diocese de Erexim e pelo Acadêmico do Bacharelado em Teologia Elizeu de Lisbôa Moreira, afirma que planejar é ordenar forças e recursos que se têm a disposição. É partir de um ponto e chegar a outro. O caminho a ser percorrido, especialmente, “como” percorrê-lo, explicita a orientação metodológica do planejamento. A organização das forças implica avaliar as próprias e conjugá-las com as outras disponíveis. O espírito do planejamento abarca uma cumplicidade formativa, em sentido integral. A instrução caminha noutra direção e implica outra relação. A decisão pessoal livre e a vigilância coletiva são condições fundamentais para esta formação alargada. O planejamento pastoral participativo tem a mesma raiz, enquanto desencadeador de processos formativos mobilizadores de agentes e organizador de metas e estratégias que visam à eficiência da ação evangelizadora.
Para Dom Joel Portella Amado Paira um grande desafio para as pequenas comunidades eclesiais em tempos de globalização. Estas, segundo o insigne Prelado, fazem parte do conjunto de indicações pastorais da Igreja na América Latina e Caribe há décadas. No Brasil, estas pequenas comunidades são consideradas urgências da ação evangelizadora. Sua implantação corresponde ao atual momento da história humana, em que emergem novas formas de territorialidade. Por exigirem o que o Documento de Aparecida denomina como conversão pastoral, as pequenas comunidades eclesiais não podem ser implantadas de forma automática ou discricionária. É necessário compreender como acontecem as relações entre as pessoas e os espaços para, só então, num processo geralmente mais lento do que se espera, trabalhar missionariamente no sentido de catalisar o surgimento de pequenas comunidades territoriais ou ambientais.
O título Serviços, Ministérios e Planejamento Pastoral, sintetiza a reflexão de Dom Rodolfo Luiz Weber, Arcebispo de Passo Fundo. Segundo Dom Rodolfo, a eclesiologia do Concílio Ecumênico Vaticano II, para se tornar institucional, requer serviços, ministérios e planejamento pastoral. Pois é uma eclesiologia de comunhão e participação. Necessita constantemente ser atualizada e revisitada. É um processo envolvente e faz dos membros vivos da Igreja, sujeitos eclesiais. Uma multiplicidade de dons, carismas, serviços, atuando de forma orgânica, em vista do bem de todos, são necessários para a realização da missão da própria Igreja.
O Pe. Sidnei Marco Dornelas, CS, contribui nesse processo reflexivo com o título Planejamento pastoral para uma igreja em saída missionária. Nesse artigo procura fazer uma reflexão sobre o planejamento pastoral participativo a partir das intuições presentes na Evangelii Gaudium e em vista de uma Igreja em saída missionária. O texto parte de uma contextualização da realidade, do planejamento pastoral no momento atual, para desenvolver suas reflexões e terminar com algumas considerações a partir da realidade concreta dos migrantes.
Neste ano de 2018 Dom Silvio Guterres Dutra iniciou sua missão episcopal na Diocese de Vacaria, sufragânea da Arquidiocese de Passo Fundo. A Comunidade da Itepa Faculdades, professores, acadêmicos e funcionários, congratulam-se com a Comunidade Católica Vacariense. Agradecemos a valiosa contribuição de Dom Irineu Gassen e pedimos a Deus que o acompanhe em sua jornada pastoral.
Em homenagem a Dom Silvio e, ao mesmo tempo, colocando-se a serviço de sua Diocese, a Itepa Faculdades anexa ao conjunto dos textos que integram este número da CCI, a homilia proferida pelo Pe. Ivanir Antonio Rampon na solenidade de posse do novel Bispo, no dia cinco de agosto de 2018.
Nesta edição você encontrará:
- Histórico do planejamento pastoral na Igreja do Brasil, texto de Pe. Ari Antonio dos Reis
- Planejamento, plano e projeto, caminho da ação evangelizadora, texto de Pe. Jair Carlesso
- A Importância das Diretrizes Gerais para a elaboração de planos de pastoral, texto de Pe. José Adalberto Vanzella
- A Pastoral em chave cristológica-antropológica: evangelizar a partir dos cinco sentidos, texto de Pe. Rogério L. Zanini
- Planejamento da Ação Evangelizadora em perspectiva metodológica: mobilizando os agentes e organizando as ações pedagógico-pastorais, texto de Elizeu de Lisbôa Moreira, Pe. Giovani Momo e Me. Neri José Mezadri
- Relacionamento, articulação e serviço: o desafio das pequenas comunidades eclesiais em tempos de globalização, texto de Dom Joel Portella Amado
- Serviços, Ministérios e Planejamento Pastoral, texto de Dom Rodolfo Luiz Weber
- Planejamento Pastoral para uma Igreja em saída missionária, texto de Pe. Sidnei Marco Dornelas, CS
- Homilia para a Missa na qual inicia a Missão de Dom Silvio Guterres Dutra como Bispo de Vacaria, texto de Pe. Ivanir Antonio Rampon
Veja aqui a versão completa em PDF [em breve]
Para assinaturas e informações sobre edições anteriores envie e-mail: revista@itepa.com.br, ou preencha formulário aqui.
Informações técnicas
Título: Revista Caminhando com o Itepa – Planejamento Pastoral
Autor: Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – ITEPA FACULDADES
Número: 123
ISSN: 1677-860X
Mês/Ano: Abril/2018
Páginas: 214