Dentre as diversas temáticas eclesiológicas da atualidade, o laicato ocupa um lugar de destaque. A multiplicidade de reflexões sobre os Leigos contribuiu para uma atualização da noção desta categoria eclesiológica e entendimento de sua função na vida eclesial. Evidentemente, das origens do cristianismo até a nossa contemporaneidade, a noção de leigo passou por várias transformações e renovadas atualizações de compreensão e sentido.
Alexandre Faivre, em sua obra Os leigos nas origens da Igreja[1], identifica as dificuldades para a compreensão, desde a origem, da noção do termo leigo na história da Igreja. Conforme Faivre, vicejaram as ambiguidades e os paradoxos que o próprio vocábulo traz em si mesmo. Segundo ele, “o Novo Testamento não conhece o laicato, mas um povo, um povo santo, um povo eleito, um povo posto à parte, um Kleros que exerce todo ele um sacerdócio régio e que chama cada um de seus membros a prestar a Deus um culto verdadeiro em espírito”[2]. Na verdade, não se encontra nos escritos neotestamentários uma teologia do laicato, não há leigos e/ou sacerdotes como entendemos na atualidade, mas um povo todo sacerdotal, profético e régio, o Povo de Deus. A institucionalização da Igreja a partir do IV século provocou a sua hierarquização, colocando no ápice bispos e clérigos e na base, na condição de dependentes e submissos, os Leigos.
As mudanças profundas na compreensão da missão do laicato têm como marco histórico o Concílio Vaticano II, que empreendeu uma renovada compreensão teológica e pastoral da identidade e missão dos fiéis leigos. O ponto chave dessa ação é a valorização do laicato na Igreja, que ganha nas reflexões conciliares um impulso renovador.
No Concílio Vaticano II “pela primeira vez na bimilenar história da Igreja se presta atenção à identidade e ao papel dos leigos tanto na Igreja como no mundo”[3]. Este Concílio “estabeleceu o pressuposto do novo status dos Leigos: A Igreja é o Povo de Deus”. A noção de Povo de Deus exprime a profunda unidade, a comum dignidade e fundamental habilitação de todos os membros da Igreja à participação na vida eclesial e à corresponsabilidade na missão na Igreja e na sociedade.
Entendidos como membros desse povo, clérigos e leigos têm sua função própria. De modo específico, cabe aos leigos a missão de ordenar o mundo e a sociedade na perspectiva do Reino de Deus (cf LG 31). Na condição de colaboradores com os pastores e corresponsáveis com eles, Leigos e Leigas são chamados à santidade como testemunhas do ressuscitado. Incorporados a Cristo pelo Batismo são e constituem o Povo de Deus, participando ativamente das funções de Cristo Profeta, Sacerdote e Rei.
Referência bibliográficas
ALMEIDA, José de: Uma abordagem histórica. Leigos em quê? São Paulo: Paulinas, 2006.
FRAIVRE, Alexandre. Os Leigos nas Origens da Igreja. Petrópolis: Vozes, 1992.
[1] Alexandre FAIVRE. Os Leigos nas origens da Igreja. 1982.
[2] Alexandre FAIVRE. Os Leigos nas origens da Igreja. p. 21.
[3] Antônio José de ALMEIDA. Leigos e Leigas: história e interpretação. p. 178.