Nas aulas de Espiritualidade sobre o Pentateuco, com o Professor Padre Jair Carlesso, tivemos o conhecimento da caminhada histórica de Israel, para entender melhor o contexto da escrita do Pentateuco. Trabalhamos de certa forma 3 figuras principais do Pentateuco para nossa caminhada: Abraão, José e Moisés. Conhecemos suas histórias, seus projetos, suas missões e a espiritualidade de cada um deles. Voltarei aqui para a figura de Moisés, figura conhecida quase mais midiaticamente, do que teologicamente em seu caminhar.
Devemos trazer Moisés, e seu exemplo de espiritualidade, para nossa vida pessoal e pastoral. Quem são os Moisés? O que ele nos ensina? Recordamos que o caminho da escravidão para a Terra Prometida, não foi somente um caminho histórico/geográfico, e sim, principalmente, um caminho teológico, de mudanças.
Assim deve ser nossa caminhada cristã. Devemos olhar ao nosso redor, para a nossa sociedade, e ver quem são os que nos escravizam, nos oprimem, que têm em mãos o poder, possuem a maior parte das riquezas, que pensam e falam por nós. Temos presente tantos políticos, empresários, redes de comunicação, monopólios, que se citados, iríamos alongar o texto muito, mas que sabemos muito bem quais são.
Depois, temos que enxergar que a caminhada inicia com a defesa da vida das crianças, assim como fizeram as parteiras e a filha do Faraó, nos capítulos inicias do Êxodo (Ex 1, 15-2,10). Moisés também nos dá o exemplo que às vezes até podemos estar inseridos junto com os opressores, mas temos que sair e ir aos nossos irmãos, no meio do povo sofredor (Ex 2, 11-15). E nesse caminhar, Moisés vem nos ensinar a ouvir Deus, a escutar seu chamado de libertação, pois Ele nos escolhe, mesmo que encontramos desculpas (Ex 3, 1-4,17).
E essa caminhada de vitória contra os opressores, vai precisar de mudança de pensamento comunitário. Atravessar o mar não deve ser entendido simplesmente como ação divina (Ex 14, 15-31). O mar, para os antigos, era o local do mal, então, atravessá-lo, é deixar todo um projeto escravizador e opressor para trás, e adentrar num novo projeto de libertação.
Nessa caminhada, onde cada um possui seu tempo de mudança, muitas dificuldades encontraremos, como o povo que teve fome no deserto, mas Deus nos ensina um novo sistema econômico: da partilha, de cada um ter igual, sem acúmulos (Ex 16). E para o povo entrar nesse projeto, teve que seguir sempre em grupo, formando uma nova organização de poder: não corruptível e não maliciosa, mas que visa o vem comum (Ex 18, 13-27).
E só assim, depois de um processo de mudança e conversão, baseado nessa caminhada de Moisés, reconhecemos que o Deus Javé é o Deus único, verdadeiro, vivo e libertador (Ex 20, 1-11) e que seu principal ensinamento/mandamento é a Defesa da Vida humana, sem mortes, sem desejo de vinganças, sem inveja ou calúnia contra os irmãos (Ex 20, 12-17).
Olhando para sua vivência, seu caminho é libertador?
Ricardo Felipe Melere
Aluno do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Especialização em Espiritualidade