Acreditando que a espiritualidade é uma extensão essencial da pessoa humana para o seu realizar nesta vida, o mergulhar nos estudos da espiritualidade capacita-nos a de fato sermos humanos e a promovermos a humanidade dos irmãos.
Ao debruçarmos na realidade do Pentateuco descobrimos a importância de reconhecermos sua atualidade, pois sabemos que a Palavra de Deus é o fundamento de nossa vida cristã.
Podemos refletir a espiritualidade no Pentateuco a partir de muitos textos dos Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, mas vamos nos fixar no livro dos Gênesis, nos capítulos doze e vinte e dois.
No capítulo doze temos o relato do chamado de Deus a Abraão. “Certo dia o Senhor Deus disse a Abraão: Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá para uma terra que eu lhe mostrarei. Os seus descendentes vão formar uma grande nação. Eu o abençoarei, o seu nome será famoso, e você será uma benção para os outros. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem. E por meio de você Eu abençoares todos os povos do mundo” (Gn 12, 1-4). No capítulo vinte e dois Deus põe Abraão à prova. “Algum tempo depois Deus pôs Abraão à prova. Deus o chamou pelo nome, e ele respondeu: – Estou aqui. Então Deus disse: – Pegue agora Isaque, o seu filho, o seu único filho, q quem você tanto ama, e vá até a terra de Moriá. Ali, na montanha que eu lhe mostrar, queime o seu filho como sacrifício” (Gn 22, 1-2).
Percebe-se que temos um chamado de Javé a Abraão de romper com todas as suas relações, ligações terrestres, isto é, depositar sua total confiança no Senhor, seu Deus, seu único e verdadeiro Deus. Este romper leva-nos a compreender que existe a necessidade de abandonar por total o mundo dos ídolos e assumir a nova e radical proposta de Javé e assim tornar-nos abençoados pelo Senhor.
Seguindo nossa reflexão iremos nos defrontar com outro pedido do Senhor Deus a Abraão: que tomasse seu filho Isaque e que o sacrificasse como oferta a Ele. O que mais uma vez é acolhido o pedido de Deus por Abraão, que se prepara para mais esta prova de fé. Vamos nesta etapa da vida de Abraão notar que o Senhor Deus que pediu, no capítulo doze, seu rompimento com o seu passado (família, terra, rebanho) desejar o rompimento com o seu futuro (a morte de Isaque).
Aprendemos com toda esta trajetória que Abraão passa para a história como AMIGO DE DEUS. A carta de são Tiago nos apresenta esta afirmação: “E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado como justiça e ele foi chamado amigo de Deus” (Tg 2,23).
Amigo de Deus por que soube, apesar de todas as fragilidades e dificuldades, ouvir a voz de Deus. Amigo de Deus por que soube obedecer a voz de Deus. Amigo de Deus por que testemunhou firmemente a voz de Deus.
Agora devemos perceber que é o nosso momento para verdadeiramente sermos amigos de Deus. Compreendendo quem somos, de onde viemos, a quem devemos ouvir e obedecer zelando pela nossa casa comum, construindo no mundo o Reino de Deus.
“Não tenhamos medo de nos despojar daquilo que nos afasta do mandato missionário” (Papa Francisco).
Padre Francisco Gonçalves Veloso Júnior
Aluno do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Especialização em Espiritualidade