As aulas de Teologia da Espiritualidade ministradas pelo professor Pe. Ivanir Antonio Rampon, no curso de pós-graduação em Espiritualidade da Itepa Faculdades, nos propiciaram refletir a relação entre Deus, a Humanidade e a Criação. Se compreendemos a Teologia da Espiritualidade como o estudo do sentido da vida humana dentro do projeto de Deus, logo somos desafiados a buscar compreender também a relação do Criador, com suas Criaturas e Co-Criaturas.
Desde o olhar semita compreendendo o Espírito (terminologia masculinizada na tradução), como a Ruah Divina, ou seja, a ventania, inspiração, expiração, a feminilidade, o sopro de vida. Perpassando pela ótica grega que divide o ser humano em corpo e alma. Ao adentrarmos a perspectiva greco-latina que manteve aproximadamente o conceito grego, mas criou o mundo espiritual diferindo-o do mundo material, vamos mergulhando nos mistérios do Criador. Penetrar na dinâmica da espiritualidade é ir, processualmente, compreendendo a vocação humana no mundo: somos chamados a participar da obra criadora, redentora/libertadora e santificadora. Deus Pai e Mãe, Filho e Ruah Divina, Criador, redentor/libertador e santificador. Deus é a perfeita unidade e perfeita Trindade. Uno e Trino. Nele não há divisão, nem individualismo. É um só Deus em três pessoas divinas, é a comunidade perfeita! Deus não precisava estabelecer diálogo com a criação. Ele, na Trindade, já estabelece diálogo. Nele há o diálogo perfeito. Qualquer diálogo que fizesse não acrescentaria nada. No entanto, em seu misterioso plano de amor, na sua liberdade eterna e infinita, Ele resolveu criar por conta da sua humildade, não pela sua grandeza. A criação não alterou em nada a sua grandeza, foi puro gesto de humildade. Ao nos criar seres humanos Ele foi ainda mais humilde. Nos aceitou como seus parceiros e nos concede uma responsabilidade e uma dignidade: de sermos co-criadores. Renunciou a missão de ser o único criador e partilhou conosco essa missão. Na face da terra só os humanos criam. Animas, plantas e tudo que há reproduzem, mas não criam.
Diante disso, qual então a missão do ser humano na terra? Adorar a Deus, cuidar da casa comum e entre nós sermos irmãos. É nisso que surge o pecado que é aquilo que nos afasta da nossa missão. O pecado nos leva a perversão. A perversão é a inversão das relações. O perverso também adora, cuida e confraterniza, mas faz tudo errado. O grande deus do nosso tempo é o mercado capitalista neoliberal. Nossa sociedade adora o mercado! É idolátrica! O mercado sempre exigirá sacrifícios, sangue e suor dos pobres. E nunca há que chega. O ídolo é insaciável! Os ídolos sempre tiraram o sangue dos pobres. No entanto, o ídolo mercado tem tirado o sangue do povo e do planeta terra! Por isso, há dois grandes gritos: dos pobres e da terra. Esses gritos nunca estiveram tão articulados como hoje. Ainda, qual a diferença de Deus vivo e verdadeiro e dos ídolos? O Deus vivo e verdadeiro desce para nos fazer subir. Não nos tira o sangue, mas dá o seu sangue por nós.
Jesus Cristo é o máximo da humildade de Deus. Nele o Criador se fez criatura co-criadora. Com 33 anos, em apenas três viveu publicamente. Viveu 30 anos morando silenciosamente no meio da nossa perversidade. Claro que sua mãe é Santa. Ele era um leigo e ocupava o espaço dos leigos. Fala com seu povo com toda a humildade de seu Pai. Traz em pauta seus ensinamentos sobre o Reino de Deus a partir da realidade do seu povo. A nossa perversidade, expressada nos homens do tempo de Jesus, renegam o Reino de Deus em nome do próprio Deus. Nisso surge o conflito. Jesus vive e assumiu a espiritualidade do conflito que inclusive o leva à crucificação. A Cruz revela o fracasso de Jesus, o fracasso da encarnação. O que aconteceu é que ninguém esperava: a ressurreição da vítima! Nós não cremos na ressurreição, mas cremos na ressurreição de um crucificado! A crucificação e ressurreição de Jesus mostra a opção de Deus pelas vítimas, pelos crucificados da história. Deus não está do lado dos algozes, crucificadores, reis. Ele está com as vítimas! E, se não estivesse então seria um ídolo, um desgraçado. Na cruz, inclinando o pescoço, entregou ao Pai a Ruah. O Pai, em Pentecostes, a devolve aos discípulos tornando a Igreja o seu próprio sopro de vida. Assumindo essa missão, de sermos profetas que denunciam os opressores, que anunciam o Reino de Deus, e que testemunham o Projeto de Jesus, estamos desejosos de que esse espaço de sala de aula nos inspire no comprometimento com o Divino que mora em cada um de nós e especialmente nos pobres e oprimidos.
Eduardo Nischespois Scorsatto
Ricardo Felipe Melere
Alunos do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Especialização em Espiritualidade