O Vaticano II falou e falou bem sobre a missão dos Leigos

Prof. Pe. Ivanir Antonio Rampon

Dom Helder Camara, um dos dez mais importantes padres conciliares, gostava de afirmar que o Vaticano II disse uma palavra perfeita sobre a Igreja, pondo em relevo a ideia fecunda de Povo de Deus, abrindo espaço para os Leigos e Leigas. O Concílio falou e falou bem, de modo oportuno e justo, sobre a missão e o apostolado dos Leigos.

Palavras do Concílio

“O SANTO CONCÍLIO, desejando tornar mais intensa a atividade apostólica do Povo de Deus, volta-se de maneira solícita aos cristãos leigos” cuja responsabilidade específica é necessária para a missão da Igreja no mundo atual. Assim começa o Decreto do Vaticano II sobre o Apostolado dos Leigos (Apostolicam Actuositatem). Sua missão – continua o decreto – é expandir o Reino de Deus no mundo, ou seja, nos ambientes familiares, nas realidades profissionais e na Igreja.

A Constituição Dogmática sobre a Igreja (Lumen Gentium) afirma que pelo Batismo, somos incorporados a Cristo e fazemos parte do Povo de Deus, recebendo a missão de buscar o Reino de Deus através das funções familiares e sociais. Nelas, vivendo o Evangelho, os leigos santificam o mundo (LG 31). Imbuídos do Espírito de Cristo, colabaram na busca da justiça, da caridade e da paz.

Avaliação dos resultados do Concílio

Houve uma evolução na missão e no apostolado dos leigos. De início, a Igreja reconheceu que a missão de todos os cristãos se fundamenta no Batismo. O que mais nos une é o mesmo Batismo e, portanto, nossa irmandade fundamental em Jesus Cristo. Pelo Batismo, todos somos enviados – não apenas os sacerdotes e os religiosos – para sermos instrumentos e sinais do Reino de Deus no mundo. O Concílio nos colocou numa dinâmica nova, mais dialógica, comunitária e de grande respeito.

O Vaticano II fortaleceu uma nova espiritualidade quando afirmou que as alegrias e as angústias dos homens e das mulheres do nosso tempo – principalmente dos pobres e dos que sofrem são as alegrias e as angústias dos discípulos de Cristo. Assim, a Igreja permitiu e aprovou, oficialmente, uma espiritualidade histórica, real, na qual entram todos os conteúdos vitais, e acima de tudo, os mais dramáticos. Aprovou uma espiritualidade “encarnada” ao invés de propor uma espiritualidade intimista.

Sem o Vaticano II não haveria a Conferência de Medellín. Nesta, bispos proféticos e sábios, iluminados pelo Espírito Santo, tomaram decisões de como “aplicar” o Vaticano II na América Latina. Perceberam que o mais dramático no nosso Continente era o empobrecimento. Éramos e somos pobres não por causa da natureza (que é tão generosa para conosco), nem por falta de talentos (nossos povos são criativos), mas por causa de uma situação pecaminosa de injustiça social e estrutural. Daí a necessidade de lutar pela verdadeira justiça assumindo as alegrias e as tristezas, as angústias e as esperanças dos povos historicamente oprimidos. Optar pelos pobres é uma questão de justiça, é expressão de fidelidade a Jesus Cristo; é viver na Graça Divina que santifica e liberta!

Esta “espiritualidade Vaticano II-Medellín” gerou uma primavera bela e audaciosa na Igreja. Leigos e leigas, unidos aos sacerdotes e religiosos, criaram dezenas de Pastorais, tais como: da Terra, Operária, Juventude, Criança, Pescadores, Refugiados, Carcerária, Povo da Rua, Pessoa Idosa… que buscaram agir para transformar as realidades sociais tendo como meta o Reino de Deus. Surgiram comunidades e agentes de pastoral, que alimentados pela Palavra de Deus, buscaram a conscientização e a libertação dos oprimidos.

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