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FUNDAMENTOS PARA UMA
ESPIRITUALIDADE SACERDOTAL
À LUZ DO MAGISTÉRIO RECENTE
DA IGREJA
FOUNDATIONS FOR A PRIESTLY
SPIRITUALITY IN THE LIGHT OF THE
CHURCH'S RECENT MAGISTRY
Dom Cleocir Bonetti*
Leonardo Fávero**
Resumo: Este artigo intitulado de Fundamentos para uma espiritualidade
sacerdotal à luz do Magistério recente da Igreja tem por objetivo investigar
alguns dos principais documentos do Magistério pós Concílio Vaticano II a
respeito da espiritualidade sacerdotal, juntamente com algumas
manifestações dos Papas João Paulo II, Bento XVI e Francisco. O texto,
portanto, se divide em três partes: inicialmente, um enfoque à vida de
oração essencial do presbítero; em seguida, direciona a reflexão ao exercício
da caridade, da pregação e da celebração dos sacramentos; para finalmente,
fundamentar o valor da obediência e do espírito sacerdotal de pobreza como
um estilo de vida sacerdotal/presbiteral.
Palavras-chave: Espiritualidade sacerdotal. Presbíteros. Magistério. Papa
Francisco. Oração.
Abstract: This article, entitled Fundamentals for a priestly spirituality in
the light of the recent Magisterium of the Church, wants to investigate
some of the main documents of the Magisterium after the Second Vatican
Council on priestly spirituality, along with some manifestations of the
Popes John Paul II, Benedict XVI and Francisco. The text, therefore, is
divided into three parts: initially, it focuses on the essential prayer life of the
priest; then, it directs the reflection to the exercise of charity, preaching and
the celebration of the sacraments; to finally ground the value of obedience
and the priestly spirit of poverty as a priestly lifestyle.
Keywords: Priestly Spirituality. Priests. Magisterium. Pope Francis.
Prayer.
v. 38, n. 131, Passo Fundo,
p. 17-38, Jul./Dez./2021,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:https://doi.org/10.52451/teopraxis.v38i131.62
* Bispo da Diocese de Caçador/SC. Graduado
em Filosofia pela Faculdade Nossa Senhora
Imaculada Conceição, em Viamão (FAFIMC)
e em Teologia pelo Instituto de Teologia e
Pastoral (Itepa), em Passo Fundo. Pós-
graduado em Psicopedagogia pela Faculdade
Nossa Senhora Imaculada Conceição.
Mestrado em História da Igreja pela Pontifícia
Universidade Gregoriana de Roma.
https://orcid.org/0000-0002-5514-8569
** Diácono da Diocese de Erexim. Acadêmico
do Semestre do Curso de Bacharelado em
Teologia pela Itepa Faculdades. Formado em
Filosofia pelo Instituto Superior de Filosofia
Berthier (Ifibe).
E-mail: leonardo.favero@live.com
https://orcid.org/0000-0001-7084-8590
Recebido em 15/07/21
Aprovado em 22/09/21
18
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O magistério da Igreja diz muito sobre a espiritualidade sacerdotal. E o faz sobretudo com
o Decreto Presbyterorum Ordinis sobre o ministério e a vida dos sacerdotes do Concílio Vaticano II;
com o Diretório para o minisrio e a vida dos presteros da Congregação para o Clero e com a
Exortão Apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco; am de algumas homilias, mensagens e
discursos dos Papas Jo Paulo II, Bento XVI e Francisco. Importa conhecermos o que o
magistério nos pede atualmente, especialmente com relação aos presbíteros, que em nosso
contexto recebem a missão de zelar, em colaboração com os bispos, pelo povo de Deus com
cuidados de pastor (cf. Is 40,11) a exemplo do Bom Pastor (Jo 10,14), Jesus Cristo.
O magistério recente insiste que a espiritualidade do sacerdote consiste na profunda
relação de amizade com Cristo. Por isso, no século XXI, a Igreja reconhece que
Cada sacerdote age num contexto histórico particular, com os seus vários
desafios e exigências. Exatamente por isto, a garantia de fecundidade do
ministério radica numa profunda vida interior. Se o sacerdote não conta com o
primado da graça, não poderá responder aos desafios dos tempos, e cada plano
pastoral, por mais elaborado que possa ser, estaria destinado à falência
1
.
Assim como no passado, a Igreja soube interpretar os sinais do seu tempo e atuou
quase que em todos os setores da sociedade daquela época. Ela hoje está atenta a tudo aquilo
que envolve o ser humano em suas diversas dimensões. Por isso, solenemente declara na
Constituição Pastoral Gaudium et Spes: [...] as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos homens e mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que
sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de
Cristo (GS 1). Isso significa que nada do que é humano é estranho à Igreja
2
.
Dentre os discípulos de Cristo, os sacerdotes se revestem de uma particular
relevância
3
e ocupam na Igreja uma função especial, [...] como participantes da missão dos
apóstolos, servidores do Evangelho, é dada por Deus a graça de serem ministros de Cristo
Jesus junto a todos os povos, para que o culto prestado a Deus por todos seja aceito e
santificado pelo Espírito Santo (PO 2). E para dar cumprimento a essa missão, lhes [...] são
muito importantes as virtudes a que se dá, com razão, muito valor, como a bondade do
coração, a sinceridade, a força de ânimo e a constância, o senso de justiça, a afabilidade no
trato
4
e a busca da [...] sempre maior santidade, com os meios recomendados pela Igreja, a
fim de se tornarem instrumentos cada dia mais aptos ao serviço de todo o povo de Deus
5
.
Assim, a Igreja reconhece que os sacerdotes,
[...] estão hoje empenhados nos diversos campos de apostolado que requerem
generosidade e dedicação completa, preparação intelectual e, sobretudo, uma
vida espiritual amadurecida e profunda, enraizada na caridade pastoral, que é a
sua via específica para a santidade e que constitui também um autêntico serviço
aos fiéis no ministério pastoral.
6
Por isso, buscaremos compreender os fundamentos da espiritualidade sacerdotal em
três aspectos: na vida de oração; no exercício da caridade, da pregação e da celebração dos
sacramentos; e na obediência e no espírito sacerdotal de pobreza.
l1 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.89.
2 PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, Compêndio da doutrina social da igreja, n.455.
3 Cf. FRANCISCO, Mensagem do Papa Francisco para do 53º Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
4 FRANCISCO, Mensagem do Papa Francisco para do 53º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, n.3.
5 FRANCISCO, Mensagem do Papa Francisco para do 53º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, n.12.
6 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.90-91.
BONETTI, Cleocir; FÁVERO, Leonardo
Fundamentos para uma espiritualidade sacerdotal à luz do Magistério recente da Igreja
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p. 17-38, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.
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2 UMA VIDA DE ORAÇÃO
A Igreja está atenta às tensões hodiernas que fazem aumentar o risco do exercício do
ministério se tornar menos eficaz. Por isso, os Padres Conciliares reconheceram que,
No mundo de hoje tanta coisa a fazer e tantos são os problemas a resolver
com rapidez, que ninguém pode se ocupar com tudo sem se atrapalhar. Os
padres, no meio das múltiplas obrigações de ofício e tendo que atender a tantas
coisas diferentes, tornam-se frequentemente ansiosos, com dificuldades para
levar uma vida interior razoável, no meio de tão diversas atividades dentro de
certa harmonia e unidade (PO 14).
Perante o desafio de harmonizar a sua vida interior com a sua ação exterior é preciso
não deixar de reservar o primado da vida espiritual que se [...] ao estar sempre com
Cristo e ao viver com generosidade a caridade pastoral, intensificando a comunhão com
todos
7
.
Ao reconhecermos que foi na oração de Jesus ao Pai pelos seus apóstolos que o
sacerdócio da Nova Aliança foi concebido (Cf. Jo 17,15-20), reconhecemos que toda a sua
atividade quotidiana derivava da oração
8
e o sacerdote é chamado, a exemplo de Jesus, a
encontrar tempo para rezar. O diálogo pessoal com Cristo, [...] é uma prioridade pastoral
fundamental, é condição para o nosso trabalho para os outros! E a oração o é algo
marginal: a profissão do sacerdote é precisamente rezar, também como representante do
povo que não sabe [...] ou não encontra tempo para fazê-lo
9
, afirma o Papa Bento XVI.
Então, precisamos ter sempre presente que [...] o primeiro de todos os auxílios espirituais é
a dupla mesa da Sagrada Escritura e da eucaristia (PO 18), afinal, é justamente porque,
quando [...] guiados pela e alimentados pela leitura divina, os padres se tornam capazes
de identificar os sinais da vontade de Deus e os impulsos da graça em todos os
acontecimentos, tornando-se cada dia mais dóceis ao Espírito Santo, no cumprimento de
sua missão (PO 18).
É nessa perspectiva as exortações proferidas pelos bispos nas ordenações:
Por isso, fazendo da Palavra o objeto da tua contínua reflexão, crê sempre no que
lês, ensina o que crês, realiza na vida o que ensinas. Deste modo, enquanto com a
doutrina darás alimento ao Povo de Deus e com o bom testemunho da vida lhe
servirás de conforto e sustento, tornar-te-ás construtor do templo de Deus, que é
a Igreja. [...] Sê, portanto, consciente do que fazes, imita o que realizas e dado
que celebras o mistério da morte e da ressurreição do Senhor, leva a morte de
Cristo no teu corpo e caminha na novidade de vida. E, enfim, em relação à guia
pastoral do Povo de Deus para conduzi-lo até o Pai: Por isso não deixes nunca
de ter o olhar fixo em Cristo, bom Pastor, que veio, não para ser servido, mas
para servir e para procurar e salvar os que estavam perdidos
10
.
Sendo assim, sem fazer do estudo, da contemplação e do conhecimento da Escritura
algo essencial na sua vida e no seu ministério, o presbítero verá seu ministério pastoral se
tornar frágil, porque o alicerce que usou é a areia e não a rocha (Cf. Mt 7,21.24-27). Além
disso, a Palavra de Deus assume na vida do presbítero um carro-chefe: ela é para ser crida,
ensinada, vivida e testemunhada.
Ademais, o presbítero precisa ter a consciência de que, ao ser ministro de Cristo, ele
associa a si, em sua carne, o mistério da morte e ressurreição do Senhor. Esse é o caminho
7 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.96.
8 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.103.
9 BENTO XVI, Vigília por ocasião da conclusão do Ano Sacerdotal (10 de junho de 2010).
10 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.105.
BONETTI, Cleocir; FÁVERO, Leonardo
Fundamentos para uma espiritualidade sacerdotal à luz do Magistério recente da Igreja
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para desenvolver a harmonia entre a vida interior e a vida exterior. Para o Papa Bento XVI,
uma vez que, [...] o sacerdócio se tornou algo de novo: não é uma questão de
descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus
11
, é justamente nele, que o
sacerdote deve integrar sua vida, em todas as dimensões, e alicerçar seu ministério. Desse
modo, [...] entramos numa comunhão existencial com Ele, que o seu e o nosso ser
confluem, se compenetram reciprocamente
12
.
Portanto, a Igreja insiste que,
Tal vida espiritual deve ser encarnada na existência de cada presbítero mediante
a liturgia, a oração pessoal, o estilo de vida e a prática das virtudes cristãs que
contribuem para a fecundidade da ação ministerial. A própria conformação a
Cristo exige que o sacerdote cultive um clima de amizade e de encontro pessoal
com o Senhor Jesus, fazendo experiência de um encontro pessoal com ele, e de
colocar-se a serviço da Igreja, seu Corpo, à qual o sacerdote demonstrará amar
pelo cumprimento fiel e incansável dos deveres próprios do seu ministério
pastoral
13
.
Desse modo, a fim de cultivar a vida espiritual, nunca deve faltar ao presbítero: a
celebração eucarística cotidiana
14
centro da vida espiritual, fonte e alimento do ministério
pastoral
15
; a reconciliação frequente
16
, que favorece uma contínua conversão do coração ao
projeto de Jesus; a direção espiritual
17
para discernir a vontade de Deus; a recitação da
liturgia das horas
18
, o exame de consciência
19
, a lectio divina
20
, os retiros espirituais
21
, a
devoção mariana
22
, aspecto particularmente significativo para o crescimento espiritual e
ministerial de todo cristão; a vida austera, pois o ministério ordenado exige renúncias e
sacrifícios que somente uma e equilibrada pedagogia ascética pode favorecer
23
; e outros
meios que possam fazê-lo crescer espiritualmente, vocacionalmente, ministerialmente.
Quanto aos sacramentos da Eucaristia e Reconciliação, abordaremos adiante. Mas,
dentre esses outros modos de cultivar a espiritualidade, destacamos a lectio divina, que [...]
consiste em permanecer prolongadamente sobre um texto bíblico, lendo-o e relendo-o,
quase ruminando-o, como dizem os Padres, e espremendo, por assim dizer, todo o seu
sumo, para que alimente como linfa a vida concreta
24
.
O Papa Francisco sintetiza com maestria o método da lectio divina e nos mostra sua
finalidade e seus frutos. Para ele,
11 BENTO XVI, Homilia do Papa Bento XVI na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (13 de abril de 2006).
12 BENTO XVI, Homilia do Papa Bento XVI na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (05 de abril de 2007).
13 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.98-99.
14 Cf. PO, 5; 18; PDV, 23; 26,38,46,48; CDC, cânn.246,1; 276,2,2º.
15 Na Mensagem do Papa João Paulo II para o 37ª Dia Mundial de Oração pelas Vocações, no ano de 2000, o Papa João Paulo II
afirmou que [...] a Eucaristia constitui o momento culminante no qual Jesus, no seu Corpo doado e no seu Sangue
derramado pela nossa salvação, desvela o mistério da sua identidade e indica o sentido da vocação de toda pessoa de,
que consiste no fazer-se dom para os outros, à exemplo do que fez Jesus ao doar seu Corpo e Sangue; e nisso cita
Santo Agostinho: Sede aquilo que recebeis e recebei aquilo que sois (Discurso 271 1: Nella Pentecoste) indicando que o
fiel que se nutre daquele Corpo entregue e daquele Sangue derramado recebe a foa de transformar-se tamm em dom.
16 Cf. PO, 5;18; CDC, cânn. 246, 4; 276,2,5º; PDV, 26; 48.
17 Cf. PO, 18; CDC, cân. 239; PDV, n.40; 50; 81.
18 Cf. PO, 18; CDC, cânn. 246, 2; 276,2,3º; PDV, 26; 72; CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A
DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS, Respostas Celebratio integra acerca de algumas questões sobre a obrigatoriedade
da recitação da Liturgia das Horas (15 de novembro de 2000).
19 Cf. PO, 18; PDV, n.26; 47; 51; 53; 72.
20 Cf. PO, 4; 13; 18; PDV, 26; 47; 53; 70; 72.
21 Cf. PO, 18; PDV, 80.
22 Cf. PO, 18; PDV, 36; 38; 45; 82.
23 Cf. JOÃO PAULO II, Mensagem do Papa João Paulo II para o 27ª Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
24 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.121.
BONETTI, Cleocir; FÁVERO, Leonardo
Fundamentos para uma espiritualidade sacerdotal à luz do Magistério recente da Igreja
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uma modalidade concreta para escutarmos aquilo que o Senhor nos quer
dizer na sua Palavra e nos deixarmos transformar pelo Espírito: designamo-la
por lectio divina. Consiste na leitura da Palavra de Deus num tempo de oração,
para lhe permitir que nos ilumine e renove. Esta leitura orante da Bíblia não está
separada do estudo que o pregador realiza para individuar a mensagem central
do texto; antes, pelo contrário, é dela que deve partir para procurar descobrir
aquilo que essa mesma mensagem tem a dizer à sua própria vida. A leitura
espiritual de um texto deve partir do seu sentido literal. Caso contrário, uma
pessoa facilmente fará o texto dizer o que lhe convém, o que serve para
confirmar suas próprias decisões, o que se adapta aos seus próprios esquemas
mentais. E isto seria, em última análise, usar o sagrado para proveito próprio e
passar esta confusão para o povo de Deus (EG 152).
Desse modo, no contato com a Palavra de Deus, o Espírito penetra no coração do
presbítero. Ao se tornar íntimo da Palavra, o presbítero descobrirá o que ela lhe diz,
primeiro, pela literalidade, depois pelo estudo exegético. O presbítero deve resistir à
tentação de adaptar a Escritura aos seus interesses, mas sim mergulhar no mistério de
Deus que se revela mediante o texto bíblico. Assim, em espírito de contemplação, o
presbítero encontrará alimento na Palavra e a anunciará ao povo de Deus, cujo cuidado
lhe é confiado.
Outro modo de cultivar a espiritualidade é a recitação da liturgia das horas. O
Concílio Vaticano II afirma que aqueles [...] que rezam assim, cumprem, por um lado, a
obrigação própria da Igreja, e, por outro, participam da imensa honra da Esposa de Cristo,
porque estão em nome da Igreja diante do trono de Deus, a louvar o Senhor (SC 85). Ela é a
[...] oração que Cristo, unido aos seu Corpo, eleva ao Pai (SC 84) e por isso, é uma
obrigação de amor
25
.
Assim sendo, para ser fonte de espiritualidade, ao rezar a liturgia das horas,
[...] é necessário interiorizar a Palavra divina, estar atentos ao que o Senhor me diz
nesta Palavra, escutar o comentário dos Padres da Igreja ou também do Concílio
Ecunico Vaticano II, aprofundar na vida dos Santos e também no discurso dos
Papas, na segunda Leitura do Ofício das Leituras, e rezar com esta grande invocação
que são os Salmos, com os quais somos inseridos na oração da Igreja
26
.
uma riqueza espiritual neste ofício, que fornece, inclusive, um método de oração
herdado dos mosteiros. Ao entrar no profundo mistério da oração, recordando as ordens
monásticas, Bento XVI afirmava que,
Os pensamentos não devem vaguear aqui e ali por detrás das preocupações e das
expectativas da vida quotidiana; os sentidos não devem ser atraídos pelo que ali,
no interior da Igreja, casualmente os olhos e os ouvidos gostariam de captar. O
meu coração deve abrir-se docilmente à palavra de Deus e estar recolhido na
oração da Igreja, para que o meu pensamento receba a sua orientação das
palavras do anúncio e da oração. E o olhar do meu coração deve estar dirigido
para o Senhor que está no meio de nós: eis o que significa ars celebrandi o justo
modo de celebrar. Se eu estou com o Senhor, então com o meu ouvir, falar e agir
atraio também o povo dentro da comunhão com Ele
27
.
Assim, ao trazer para a centralidade do encontro com o Senhor na oração as
dificuldades e os acontecimentos cotidianos, o sacerdote não as exclui nem as combate, mas as
integra e oferece ao Pai. O cotidiano é confrontado e iluminado pela Palavra no silêncio da
oração do sacerdote que [...] deve ser alguém que vigia. Deve estar alerta diante dos poderes
25 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.150.
26 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.151.
27 BENTO XVI, Homilia do Papa Bento XVI na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (05 de abril de 2007).
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Fundamentos para uma espiritualidade sacerdotal à luz do Magistério recente da Igreja
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ameaçadores do mal. Deve manter o mundo desperto para Deus. Deve ser alguém que es em
: firme diante das correntes do tempo. Firme na verdade. Firme no compromisso do bem
28
.
Ligado à vigilância está a escuta do povo. Para o Papa Francisco,
O pregador deve também pôr-se à escuta do povo, para descobrir aquilo que os
fiéis precisam ouvir. Um pregador é um contemplativo da Palavra e também um
contemplativo do povo. Dessa forma descobre as aspirações, as riquezas e as
limitações, as maneiras de orar, de amar, de encarar a vida e o mundo, que
caracterizam este ou aquele aglomerado humano, prestando atenção ao povo
concreto com os seus sinais e símbolos e respondendo aos problemas que
apresenta (EG 154).
Desse modo, através da oração constante, o presbítero encontra maneiras de discernir
como relativizar as adversidades e temer os sucessos. O modo de fazer isso é olhando para a
prática de Jesus, como anteriormente afirmamos, mas isso é realizado com e na oração. Isso
pode ser intuído na oração do salmista: nossos olhos estão fitos no Senhor (Cf. Sl 122(123),
2). Ter os olhos fixos no Senhor significa contemplar com toda a existência a pessoa e a
prática do Filho. Fazendo isso, ele terá condições de enfrentar as adversidades e não se
deixar desviar pelos sucessos, permanecendo firme no caminho da missão assumida. Na
prática, trata-se da [...] sensibilidade espiritual para saber ler nos acontecimentos a
mensagem de Deus, e isto é muito mais do que encontrar algo interessante para dizer.
Procura-se descobrir o que o Senhor tem a dizer nessas circunstâncias (EG 154).
Portanto, a firmeza do sacerdote não é para si, mas para o rebanho, para o Povo fiel
de Deus que lhe é confiado. Nesse sentido, afirma o Papa Francisco,
As pessoas agradecem-nos porque sentem que rezámos a partir das realidades da
sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças.
E, quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de
Cristo, animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor:
Reze por mim, padre, porque tenho este problema, abençoe-me, padre, reze
para mim”… Estas confidências são o sinal de que a unção chegou à orla do
manto, porque é transformada em súplica plica do Povo de Deus
29
.
E ao tomar consciência disso, o sacerdote encontra sua profunda identidade de ser
ministro de Cristo, chamado a estar próximo DEle e do povo de Deus. Então, outra vez
ecoa com sabedoria o discurso do Papa São João Paulo II pelo 30º aniversário do Decreto
Presbyterorum Ordinis:
A identidade sacerdotal é uma questão de fidelidade a Cristo e ao povo de Deus,
ao qual somos mandados. A consciência sacerdotal não se limita a algo de
pessoal. É uma realidade continuamente examinada e sentida pelos homens,
porque o sacerdote é tomado dentre os homens e estabelecido para intervir nas
suas relações com Deus. [...] Assim como o sacerdote é um mediador entre Deus
e os homens, muitas pessoas se dirigem a ele pedindo as suas orações. A oração,
num certo sentido, cria o sacerdote, especialmente como pastor. Ao mesmo
tempo, cada sacerdote cria-se a si mesmo graças à oração
30
.
Por isso, entendemos que a Igreja, sabiamente, insiste na identidade sacerdotal dos
presbíteros, para que tenham uma consciente e constante vida de oração. Consciente
porque ela é despertada pelos condicionamentos da realidade histórica que exigem do
presbítero uma resposta evangélica discernida à luz da Palavra e do Espírito. Constante
28 BENTO XVI, Homilia do Papa Bento XVI na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (20 de março de 2008).
29 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (28 de março de 2013).
30 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.153.
BONETTI, Cleocir; FÁVERO, Leonardo
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porque sempre mais o presbítero é chamado para estar em comunhão com o Senhor, a ser
íntimo dEle através do encontro com Cristo na oração pessoal e comunitária. Para tanto
mais ser fiel à persona christi, tanto mais deve, através da oração, se deixar preencher pelo seu
Espírito que lhe foi confiado com a unção.
Entretanto, o Papa Francisco reconhece que existe ainda hoje,
[...] uma preocupação exacerbada pelos espaços pessoais de autonomia e
relaxamento, que leva a viver os próprios deveres como mero apêndice da vida,
como se não fizessem parte da própria identidade. Ao mesmo tempo, a vida
espiritual confunde-se com alguns momentos religiosos que proporcionam
algum alívio, mas não alimentam o encontro com os outros, o compromisso no
mundo, a paixão pela evangelização. Assim, é possível notar em muitos agentes
evangelizadores não obstante rezem uma acentuação do individualismo, uma
crise de identidade e um declínio do fervor. São três males que se alimentam
entre si (EG 78).
O individualismo, a crise de identidade e o declínio do fervor, sobretudo missionário,
são riscos frequentes que os presbíteros estão sujeitos. Se eles não forem enfrentados e
discernidos à luz da Palavra, os presbíteros acabam por desenvolver um complexo de
inferioridade e [...] não se sentem felizes com o que são nem com o que fazem, não se
sentem identificados com a missão evangelizadora. Acabam por sufocar a alegria da missão
numa espécie de obsessão por serem como todos os outros e terem o que possuem os
demais (EG 79). Essa situação os leva a perder sua identidade presbiteral e cristã e, ademais,
[...] a tarefa da evangelização torna-se forçada e dedica-se-lhe pouco esforço e um tempo
muito limitado (EG 79).
O Papa Francisco faz diversos alertas, dentre eles, quanto à acédia egoísta e
paralisadora (EG 8), camuflada de uma tristeza adocicada
31
; à tristeza sem esperança (EG
83); ao pessimismo estéril e sufocante (EG 85); e à desertificação espiritual (EG 86). Tudo
isso é confrontado com uma relação pessoal e comprometida com Deus, que ao mesmo
tempo nos comprometa com os outros. Afinal, afirma:
Nisto está a verdadeira cura: de fato, o modo de nos relacionarmos com os
outros que, em vez de nos adoecer, nos cura é uma fraternidade mística,
contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir
Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência
agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para
procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom (EG 92).
O percurso que o Papa Francisco sugere como via de solução destes riscos e
tentações é a fraternidade. Ela é [...] a arte do encontro, embora haja tanto desencontro
na vida (FT 215), com todos, também com as periferias do mundo porque [...] de todos
se pode aprender alguma coisa: ninguém é inútil, ninguém é supérfluo (FT 215). Além
disso, propõe que se dê [...] à nossa capacidade de amar uma dimensão universal (FT 83)
que favoreça a cultura do encontro (FT 30), uma Igreja em saída (EG 24) e a conversão
pastoral (EG 25).
Por isso, [...] o compromisso missionário não é algo que vem acrescentar-se à vida
cristã como se fosse um ornamento, mas, pelo contrário, situa-se no âmago da própria fé: a
relação com o Senhor, implica ser enviados ao mundo como profetas da sua palavra e
testemunhas do seu amor
32
. Desse modo, afirma o Papa Francisco,
31 FRANCISCO, Mensagem do Papa Francisco para o 57ª Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
32 FRANCISCO, Mensagem do Papa Francisco para o 54ª Dia Mundial de Oração pelas Vocações.
BONETTI, Cleocir; FÁVERO, Leonardo
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É impressionante como até aqueles que aparentemente dispõem de sólidas
convicções doutrinais e espirituais acabam, muitas vezes, por cair num estilo de
vida que os leva a agarrarem-se a seguranças econômicas ou a espaços de poder e
de glória humana que se buscam por qualquer meio, em vez de dar a vida pelos
outros na missão. Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário! (EG 80).
Por isso, apesar de todas as dificuldades a serem enfrentadas, algumas assumidas e
outras carregadas, o estilo de vida do presbítero é semelhante ao de São José. O seu silêncio,
em comparação ao silêncio orante do presbítero
[...] não manifesta um vazio interior, mas, ao contrário, a plenitude de fé que ele
traz no coração, e que orienta todos os seus pensamentos e todas as suas ações.
Um silêncio que, como o do santo Patriarca, conserva a Palavra de Deus,
conhecida através das Sagradas Escrituras, comparando-a continuamente com os
acontecimentos da vida de Jesus; um silêncio impregnado de oração constante,
de oração de bênção do Senhor, de adoração da sua santa vontade e de confiança
sem reservas na sua providência
33
.
Portanto, no silêncio do coração, na aparente solio, o prestero estabelece a comuno
com o Senhor. Ao lado dEle, encontra a foa e os meios para reaproximar as pessoas a Deus,
para acender a chama da fé, para suscitar o compromisso da vivência da fé e a partilha em favor
do bem comum. E essa sensibilidade espiritual cultivada na oração se manifesta pastoralmente no
exercício da caridade, na pregação da Palavra e na celebrão dos sacramentos.
3 O EXERCÍCIO DA CARIDADE, DA PREGAÇÃO E DA CELEBRAÇÃO DOS SACRAMENTOS
A harmonia de vida do ministério pastoral, sem ser alheia à espiritualidade, mas com
as suas atividades cotidianas, sejam ordinárias ou extraordinárias, expressam [...] a caridade
pastoral, intimamente conexa à Eucaristia, que constitui o princípio interior e dinâmico
capaz de unificar as múltiplas e diversas atividades pastorais do presbítero e conduzir os
homens à vida da Graça
34
. Assim sendo, toda e qualquer atividade, realizada com um
espírito de doação de si, [...] deve ser uma manifestação da caridade de Cristo, da qual o
presbítero saberá exprimir atitudes e comportamentos, até a doação total de si em benefício
do rebanho que lhe foi confiado
35
.
Isso porque, o presbítero é configurado a Jesus Cristo que é a Cabeça da Igreja.
Segundo o Papa João Paulo II,
É "Cabeça" no sentido novo e original de ser "servo", segundo as suas próprias
palavras: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
própria vida em resgate por todos" (Mc 10,45). O serviço de Jesus atinge a
plenitude com a morte na cruz, ou seja, com o dom total de si mesmo, na
humildade e no amor: "Despojou-se a si próprio, assumindo a condição de servo
e tornando-se igual aos homens; aparecendo em forma humana, humilhou-se a
si mesmo fazendo-se obediente até à morte e morte de cruz" (Fil 2,7-8). A
autoridade de Jesus Cristo Cabeça coincide, portanto, com o seu serviço, o seu
dom, a sua entrega total, humilde e amorosa pela Igreja. E tudo isto em perfeita
obediência ao Pai: Ele é o único verdadeiro servo sofredor, conjuntamente
Sacerdote e Vítima (PDV 21).
Ao fazer-se, a exemplo de Cristo o, sacerdote e vítima, com o exercício do seu
ministério, o presbítero deverá ser próximo dos sofredores, dos pequenos, daqueles em
dificuldades, dos marginalizados e, sobretudo, dos pobres e dos doentes, e todos aqueles que
33 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.104.
34 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.106.
35 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.107.
BONETTI, Cleocir; FÁVERO, Leonardo
Fundamentos para uma espiritualidade sacerdotal à luz do Magistério recente da Igreja
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muitas vezes o desprezados e esquecidos. Afinal, como afirma o Papa Francisco na
Evangelii Gaudium, [...] hoje e sempre, os pobres são os destinatários privilegiados do
Evangelho e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio
trazer. que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa e os
pobres (EG 48).
Por isso, [...] para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teogica que
cultural, sociogica, política ou filosófica. [...] Esta prefencia divina tem consequências na vida
de de todos os cristãos. (EG 198). Sem a compreeno teológica dessa opção, o significado
profundo da caridade pastoral corre o risco de ser esvaziado pela gica do funcionalismo. E,
nessa perspectiva, o sacercio acaba reduzido apenas aos seus aspectos funcionais, de modo que
[...] ser padre consistiria em realizar alguns servos e garantir algumas prestações de trabalho
36
.
Essa mentalidade faz do sacerdócio não mais uma vocão à qual o homem respondeu com seu
sim, e se torna uma profissão eclesiástica como qualquer outra. A Igreja não é mais uma
expreso do misrio do amor de Deus, o sinal e instrumento da uno com Deus e da unidade
de todo o gênero humano como proclamou o Conlio Vaticano II. Mas uma empresa
meramente humana, frequentemente submissa à economia, que sustenta um profissional do
sagrado, ou então, submissa à política. Como afirma o Papa Francisco, [...] é verdade que os
ministros da religião não devem fazer potica partiria, própria dos leigos, mas mesmo eles não
podem renunciar à dimensão potica da existência que implica uma atenção constante ao bem
comum e a preocupação pelo desenvolvimento humano integral (FT 276).
Um alerta nos é dado pelo Papa Bento XVI quando afirma,
[...] enquanto sacerdotes de Jesus Cristo, fazemo-lo com zelo. As pessoas o
devem jamais ter a sensação de que o nosso horário de trabalho cumprimo-lo
conscienciosamente, mas antes e depois pertencemo-nos apenas a s mesmos.
Um sacerdote nunca se pertence a si mesmo. As pessoas devem notar o nosso zelo,
através do qual testemunhamos de modo credível o Evangelho de Jesus Cristo
37
.
Pelo próprio fato do anúncio e do testemunho do Evangelho perpassarem o todo do
ministério, [...] o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da missão da Igreja e
expressão irrenunciável de sua própria essência. Assim como a Igreja é missionária por
natureza, também brota inevitavelmente dessa natureza a caridade efetiva com o
próximo (EG 179). E, por isso, [...] a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como
uma forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a
Tradição da Igreja (EG 198).
Contudo, Francisco alerta que
Ao mesmo tempo, que rejeitar a tentação de uma espiritualidade intimista e
individualista, que dificilmente se coaduna com as exigências da caridade, com a
lógica da encarnação. o risco de que alguns momentos de oração se tornem
desculpa para evitar de dedicar a vida à missão, porque a privatização do estilo de
vida pode levar os crisos a refugiarem-se nalguma falsa espiritualidade (EG 262).
E o antídoto para essa tentação e esse risco, como aponta o Papa Francisco, é o
testemunho dos primeiros cristãos e de tantos irmãos ao longo da história que se
mantiveram [...] transbordantes de alegria, cheios de coragem, incansáveis no anúncio e
capazes de uma grande resistência ativa. [...] temos de reconhecer que o contexto do
Império Romano não era favorável ao anúncio do Evangelho, nem à luta pela justiça, nem à
defesa da dignidade humana (EG 263).
36 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.108.
37 BENTO XVI, Homilia do Papa Bento XVI na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (05 de abril de 2012).
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Em tudo isso, o presbítero é chamado a doar-se a si mesmo. O dom de si é, ao mesmo
tempo, uma tarefa e uma resposta livre e responsável do sacerdote. Para o Papa João Paulo
II,
O conteúdo essencial da caridade pastoral é o dom de si, o total dom de si mesmo
à Igreja, à imagem e com o sentido de partilha do dom de Cristo. A caridade
pastoral é aquela virtude pela qual nós imitamos Cristo na entrega de si mesmo e
no seu serviço. Não é apenas aquilo que fazemos, mas o dom de nós mesmos que
manifesta o amor de Cristo pelo seu rebanho. A caridade pastoral determina o
nosso modo de pensar e de agir, o modo de nos relacionarmos com as pessoas. E
não deixa de ser particularmente exigente para nós (PDV 23).
O zelo pastoral pelo anúncio do Evangelho pode levar muitos sacerdotes ao cansaço e
à exaustão. Contudo, o Papa Francisco nos faz perceber que [...] uma chave da fecundidade
sacerdotal reside na forma como repousamos e como sentimos que o Senhor cuida do nosso
cansaço
38
. Afinal,
Pode acontecer também que, ao sentir o peso do trabalho pastoral, nos venha a
tentação de descansarmos de um modo qualquer, como se o repouso não fosse
uma coisa de Deus. Não caiamos nesta tentação! A nossa fadiga é preciosa aos
olhos de Jesus, que nos acolhe e faz levantar o ânimo: Vinde a Mim, todos os
que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos (Mt 11,28). Se uma
pessoa sabe que, morta de cansaço, pode prostrar-se em adoração e dizer:
Senhor, por hoje basta!, rendendo-se ao Pai, sabe também que, ao fazê-lo, não
cai, mas renova-se, pois o Senhor que ungiu com o óleo da alegria o povo fiel de
Deus, também a unge a ela: Muda a sua cinza em coroa, o seu semblante triste
em perfume de festa e o seu abatimento em cantos de festa (cf. Is 61,3)
39
.
Desse modo, o Papa Francisco nos faz perceber que o cansaço pastoral, fruto de
dedicação ao povo de Deus, do consumir-se em favor do rebanho, é um cansaço santo, um
cansaço que se torna uma fonte de espiritualidade, de novidade e [...] uma graça que está ao
alcance de todos nós, sacerdotes
40
. E, ademais, [...] o povo fiel não nos deixa sem atividade
direta, a não ser que alguém se esconda num escritório ou passe pela cidade com vidros
escuros. E este cansaço é bom, é um cansaço saudável. É o cansaço do sacerdote com o
cheiro de ovelhas
41
.
Contudo, é preciso estar alerta que nem todo cansaço é assim. Há aquele que podemos
chamar de o cansaço dos inimigos: [...] o diabo e os seus sectários não dormem. [...] Aqui o
cansaço de enfrentá-los é mais árduo. Não se trata apenas de fazer o bem, com toda a fadiga
que isso implica, mas é preciso também defender o rebanho e defender-se a si mesmo do
mal
42
. E, além desse, o cansaço de nós próprios, que, segundo Francisco, [...] este
cansaço é o mais autorreferencial: é a desilusão com nós mesmos. [...] Trata-se do cansaço
que resulta do querer e o querer, [...] de jogar com a ilusão de sermos outra coisa
qualquer
43
. Nesse sentido, o cansaço pastoral deve também ser discernido na oração e
assumido como uma graça que o Senhor concede ao seu ministro com cheiro de ovelha,
anunciador do Evangelho.
Portanto, nesse conjunto de atividades que fazem parte da missão presbiteral, o Papa
João Paulo II afirma que a caridade pastoral,
38 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (02 de abril de 2015).
39 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (02 de abril de 2015).
40 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (02 de abril de 2015).
41 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (02 de abril de 2015).
42 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (02 de abril de 2015).
43 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (02 de abril de 2015).
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[...] constitui o princípio interior e dinâmico capaz de unificar as múltiplas e
diferentes atividades do sacerdote. Graças a ela, pode encontrar resposta a
exigência permanente e essencial de unidade entre a vida interior e tantas
atividades e responsabilidades do ministério, exigência sempre mais urgente
num contexto sociocultural e eclesial fortemente assinalado pela complexidade,
desagregação e dispersão. Somente a concentração de cada instante e de cada
gesto à volta da opção fundamental e qualificante de dar a vida pelo rebanho
pode garantir esta unidade vital, indispensável para a harmonia e para o
equilíbrio espiritual do sacerdote: A unidade de vida - recorda o Concílio - pode
ser conseguida pelos presbíteros seguindo, no desempenho do próprio
ministério, o exemplo de Cristo Senhor, cujo alimento era o cumprimento da
vontade d'Aquele que o tinha enviado a realizar a sua obra (...) Assim,
representando o Bom Pastor, no mesmo exercício pastoral da caridade,
encontrarão o vínculo da perfeição sacerdotal que tornará efetiva a unidade
entre a sua vida e atividade (PDV 23).
A atividade pastoral do ministro de Cristo implica na pregação, e esta exige fidelidade
à Palavra. Uma vez que, Cristo confiou aos Apóstolos e à Igreja a missão de pregar a Boa
Nova a todos os homens, transmitir a é preparar um povo para o Senhor, revelar,
anunciar e aprofundar a vocação cristã; isto é, a chamada que Deus dirige a cada homem
44
.
O caráter missionário da transmiso da e a exigência de autenticidade e de
conformidade com a da Igreja se fazem indispenveis. Afinal, o Magisrio compreende que o
[...] ministério da palavra não pode ser abstrato ou distante da vida das pessoas; ao contrário, ele
deve referir-se diretamente ao sentido da vida do homem, de cada homem, e, portanto, deve
entrar nas questões mais vivas que se colocam à consciência humana
45
. Esse cuidado com os
destinatários do Evangelho e com a fidelidade à Palavra é sinal do caráter missionário da
pregação, que rompe as fronteiras geográficas e existenciais ou condicionantes, de modo que,
para cada pessoa humana, uma palavra de vida nova e eterna. E, inclusive, [...] deve ser
feito com sentido de extrema responsabilidade, consciente de que se trata de uma questão de
xima importância, enquanto es em jogo a vida do homem e o sentido da sua existência
46
.
Sendo assim, hoje, [...] o presbítero deve dar o primado ao testemunho de vida, que
faz descobrir a potência do amor de Deus e torna persuasiva a sua palavra
47
. Isso significa
que não [...] descuidará da pregação explícita do mistério de Cristo aos crentes, aos não
cristãos e aos não crentes; da catequese, que é a exposição ordenada e orgânica da doutrina
da Igreja; e da aplicação da verdade revelada à solução dos casos concretos
48
. Isso porque
[...] a fé depende da pregação e a pregação, por sua vez, se atua pela Palavra de Cristo (Rm
10,17), o que exige que os presbíteros sejam [...] não as testemunhas, mas também os
anunciadores e transmissores da
49
.
Por isso, o Papa Bento XVI afirma que,
Consequentemente, as suas palavras, as suas opções e atitudes devem ser cada
vez mais uma transparência, um anúncio e um testemunho do Evangelho;
permanecendo na Palavra, é que o presbítero se tornará perfeito discípulo do
Senhor, conhecerá a verdade e será realmente livre (VD 102).
Ou seja, a pregação não pode ser reduzida à mera comunicação de ideias e
pensamentos próprios ou manifestações de experiências pessoais, nem às explicações
44 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.119.
45 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.120.
46 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.120.
47 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.120.
48 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.20-121.
49 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.122.
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simplicistas de acento psicológico, sociológico, filantrópico ou ideológico. Por isso, o
Diretório afirma que para ser eficaz e credível, é importante que o presbítero [...] conheça,
com um sentido crítico construtivo, as ideologias, a linguagem, os laços culturais, as
tipologias difundidas pelos meios de comunicação e que, em grande parte, condicionam as
mentalidades
50
. E, além disso, o presbítero deve evitar a excessiva retórica, típica da
comunicação de massa. Desse modo, é indispensável ao presbítero a consciência da missão
própria do anunciador do Evangelho, como instrumento de Cristo e do Espírito, que
pastoralmente ele desenvolve e concretiza seu ministério.
O anúncio da Boa-Nova está intimamente ligado, na pastoral cotidiana, à catequese.
Por isso, [...] é importante que ele [o presbítero] saiba integrar tal atividade num projeto
orgânico de evangelização, garantindo, antes de tudo, a comunhão da catequese da própria
comunidade com a pessoa do Bispo, com a Igreja particular e com a Igreja universal
51
.
Desse modo, [...] o sacerdote deverá ser o catequista dos catequistas, formando com eles
uma verdadeira comunidade de discípulos do Senhor, que sirva como ponto de referência
para os catequizandos
52
.
Se o serviço da Palavra é o elemento fundamental do ministério presbiteral, o seu
coração é, sem dúvida, a Eucaristia, que é, sobretudo, a presença real, no tempo, do único e
eterno sacrifício de Cristo. Ela [...] é princípio, meio e fim do ministério sacerdotal
53
.
Jesus, afirma o Papa Francisco, [...] nos deixa a Eucaristia como memória cotidiana
da Igreja, que nos introduz cada vez mais na Páscoa (cf. Lc 22,19). A alegria evangelizadora
refulge sempre no horizonte da memória agradecida (EG 13). E, justamente por isso, ela,
[...] embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos,
mas um remédio generoso e um alimento para os fracos (EG 47). E isso implica
radicalmente na ação pastoral do presbítero, porque não é controlador da graça, mas
facilitador para o seu acesso.
Apresentamos aqui o apelo do Papa Francisco aos sacerdotes e leigos de Buenos
Aires: [...] prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a
uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias
seguranças (EG 49). O caminho é a missão, vivida com compaixão, com amor e miserirdia.
E não uma vida fechada e focada nos bens, nas seguranças das estruturas do mundo.
O Concílio Vaticano II afirma que, uma profunda e íntima [...] conexão entre a
centralidade da Eucaristia, a caridade pastoral e a unidade de vida do presbítero
54
. Por
isso, justamente pelo fato do mistério do sacerdócio o vincular mais propriamente ao
Verbo encarnado, [...] o presbítero empresta a Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, a
inteligência, a vontade, a voz e as mãos para, mediante o seu ministério, poder oferecer
ao Pai o sacrifício sacramental da redenção, deverá fazer próprias as disposições do
Mestre e viver, como Ele, sendo dom, para os seus irmãos
55
. E mais, é seu dever e
obrigação [...] aprender a unir-se intimamente à oferta, colocando sobre o altar do
sacrifício toda a sua vida como sinal manifestativo do amor gratuito preveniente de
Deus
56
.
E, ainda que [...] o sacerdócio reservado aos homens, como sinal de Cristo Esposo
que Se entrega na Eucaristia, é uma questão que não se põe em discussão, mas pode tornar-
50 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.124.
51 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.127.
52 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.128.
53 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.130.
54 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.130.
55 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.131.
56 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.131.
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se particularmente controversa se se identifica demasiado a potestade sacramental com o
poder (EG 104). De modo que [...] a configuração do sacerdote com Cristo Cabeça isto é,
com a fonte principal da graça não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos
demais (EG 104).
Por isso, o mistério da unidade entre Eucaristia e ministério sacerdotal é tão estreito e
forte que a celebração eucarística tem um valor insubstituível na vida do presbítero. Ela é
fonte e ápice (Cf. LG 11; SC 10; PO 18) de toda ação litúrgica e, mesmo que a liturgia não
seja sua única atividade (SC 9), ela deve ser celebrada cotidianamente, como antes
afirmamos. Inclusive, e esse é um ponto de tensão especialmente no contexto da pandemia
do coronavírus, que a orientação para celebração cotidiana é tão forte que ela supera o
impedimento de o presbítero celebrar mesmo sem a presença de algum fiel
57
.
A celebração eucarística deve ser vivida como momento central do dia e do ministério
cotidiano, [...] fruto dum desejo sincero e ocasião de encontro profundo e eficaz com
Cristo. Na Eucaristia, o sacerdote aprende a doar-se a cada dia, não apenas nos momentos
de grande dificuldade, mas também nas pequenas contrariedades diárias
58
, sem se descuidar
de que ela [...] é, antes de tudo, celebrada para a glória de Deus e em ação de graças pela
salvação da humanidade
59
.
Segundo o Papa Francisco,
O encontro com Jesus na Escritura conduz-nos à Eucaristia, onde a própria
Palavra atinge a sua eficácia máxima, porque é a presença real dAquele que é a
Palavra viva. Ali, o único Absoluto recebe a maior adoração que pode ser dada a
ele neste mundo, porque é o próprio Cristo quem se oferece. E quando o
recebemos em comunhão, renovamos a nossa aliança com ele e lhe permitimos
realizar cada vez mais a sua ação transformadora (GeE 157).
O presbítero é chamado a desenvolver uma profunda espiritualidade eucarística,
capaz de torná-lo consciente de que, através da sua ação litúrgica-sacramental, o memorial
do mistério da entrega do Senhor se repete no tempo e se torna acessível aos homens e
mulheres de hoje. Assim, reconhecemos que dons de Deus que são sempre atuais e
contêm [...] uma força que transcende todos os tempos e as circunstâncias: a Palavra do
Senhor sempre viva e eficaz, a presença de Cristo na Eucaristia que nos alimenta e o
Sacramento do Perdão que nos liberta e fortalece (ChV 229).
Os presbíteros são, também, ministros da reconciliação. Os sacerdotes são [...] por
vontade de Cristo, os únicos ministros do sacramento da reconciliação [...] enviados a
chamar os pecadores à conversão e a reconduzi-los ao Pai mediante o julgamento da
misericórdia
60
. Através deles é restabelecida [...] a amizade com Deus Pai e com todos os
seus filhos na sua família que é a Igreja
61
. Se, com a pregação catequética, o pastor exorta os
fiéis à consciência da ortodoxia e, com o testemunho, à ortopráxis, no nível sacramental, ele
deve estimular a dor pelo pecado e a confiança na graça, superando qualquer redução da
reconciliação a uma atividade psicológica ou meramente formalística
62
.
Por isso, [...] ele é o primeiro a saber que a prática deste sacramento o fortalece na fé
e na caridade para com Deus e para com os irmãos
63
, porque na confissão frequente ele
aprende a compreender os outros, e é estimulado a [...] colocá-lo no centro das
57 Cf. CDC, cân. 904; CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.132.
58 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.132.
59 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.138.
60 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.142-143.
61 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.143.
62 Cf. CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.147.
63 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.147.
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preocupações pastorais
64
, como o fez o Santo Cura DArs.
Segundo o Papa Francisco, [...] a verdadeira no Filho de Deus feito carne é
inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação
com a carne dos outros. Na sua Encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da
ternura (EG, n. 88). E como um modo próprio para experimentar a ternura do amor de
Deus, Francisco, ainda, recorda que, [...] com convicção, ponhamos novamente no centro
o sacramento da Reconciliação, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da
misericórdia (MV 17). Afinal, no sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados,
que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos
nossos comportamentos e pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais
forte também do que isso (MV 22).
Para o Papa Francisco,
A Igreja tem a missão de anunciara misericórdia de Deus, coração pulsante do
Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa.
A Esposa de Cristo assume o comportamento do Filho de Deus, que vai ao
encontro de todos sem excluir ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está
comprometida na nova evangelização, o tema da misericórdia exige ser
reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. É determinante
para a Igreja e para a credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela
mesma, a misericórdia. A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no
coração das pessoas e desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar
ao Pai, devem irradiar misericórdia (MV 12).
Ao irradiar com sua vida e ministério a misericórdia do Pai, o presbítero cumpre mais
fielmente a missão que lhe foi confiada e, mais ainda, revela que [...] a misericórdia não é
contrária à justiça, mas exprime o comportamento de Deus para com o pecador,
oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, converter e acreditar (MV 21).
E, ademais, paralelamente à Reconciliação, o presbítero deve exercer o ministério da
direção espiritual, sendo eles mesmos assíduos a ela e [...] com a ajuda do acompanhamento
ou conselho espiritual [...] é mais fácil discernir a ação do Espírito Santo na vida de cada
indivíduo
65
.
Para o Papa Francisco,
Embora possa soar óbvio, o acompanhamento espiritual deve conduzir cada vez
mais para Deus, em quem podemos alcançar a verdadeira liberdade. Alguns
crêem-se livres quando caminham à margem de Deus, sem se dar conta que
ficam existencialmente órfãos, desamparados, sem um lar para onde possam
sempre voltar. Deixam de ser peregrinos para se transformarem em errantes,
que giram indefinidamente ao redor de si mesmos, sem chegar a lado nenhum.
O acompanhamento seria contraproducente, caso se tornasse uma espécie de
terapia que incentive esta reclusão das pessoas na sua imanência e deixe de ser
uma peregrinação com Cristo para o Pai (EG 170).
O presbítero deve se exercitar na arte de escutar o outro, de ir ao seu encontro e
estabelecer com ele uma relação de proximidade, de amizade, de fraternidade. Assim, ele
será capaz de fazer despertar o anseio de corresponder aos apelos que Deus faz na vida de
todas as pessoas. Então, de errantes, animados pelo Espírito, nos tornamos todos peregrinos
com Cristo rumo ao Pai.
Portanto, segundo o Papa Francisco,
64 BENTO XVI, Carta de proclamação do Ano Sacerdotal por ocasião do 150º aniversário do Dies natalis de João Maria Vianney
(16 de junho de 2009).
65 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.149.
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Fundamentos para uma espiritualidade sacerdotal à luz do Magistério recente da Igreja
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p. 17-38, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.
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Quem acompanha sabe reconhecer que a situação de cada pessoa diante de Deus
e a sua vida em graça são um mistério que ninguém pode conhecer plenamente a
partir do exterior. O Evangelho propõe-nos que se corrija e ajude a crescer uma
pessoa a partir do reconhecimento da maldade objetiva das suas ações (cf. Mt
18,15), mas sem proferir juízos sobre a sua responsabilidade e culpabilidade (cf.
Mt 7,1; Lc 6,37). Seja como for, um válido acompanhante não transige com os
fatalismos nem com a pusilanimidade. Sempre convida a querer curar-se, a pegar
no catre (cf. Mt 9,6), a abraçar a cruz, a deixar tudo e partir sem cessar para
anunciar o Evangelho. A experiência pessoal de nos deixarmos acompanhar e
curar, conseguindo exprimir com plena sinceridade a nossa vida a quem nos
acompanha, ensina-nos a ser pacientes e compreensivos com os outros e
habilita-nos a encontrar as formas para despertar neles a confiança, a abertura e
a vontade de crescer (EG 172).
Sendo assim, os presbíteros devem ser companheiros e zelar pela justiça, devem
conhecer o povo de Deus que está sob seus cuidados e caminhar com ele. Ao zelar pela
justiça, saberá como orientar de volta ao caminho quando se desviarem, denunciando sem
dúvida o erro, mas o fazendo sempre com misericórdia. Afinal, como afirma o Papa, o
acompanhamento espiritual autêntico começa sempre e prossegue no âmbito do serviço à
missão evangelizadora (EG 173).
4 A OBEDIÊNCIA E O ESPÍRITO SACERDOTAL DE POBREZA
A obediência é uma virtude indispensável ao presbítero. Sua raiz última e sentido
profundo se encontra no mistério de entrega do próprio Cristo na Cruz, que revela o valor
salvífico da obediência e da fidelidade à vontade do Pai. São Paulo escrevia aos Filipenses
que Cristo [...] foi obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2,8) e a Carta aos Hebreus
atesta que Jesus [...] aprendeu por experiência a obediência pelas coisas que sofreu (Hb
5,8). Percebemos [...] que a obediência ao Pai está no próprio coração do Sacerdócio de
Cristo
66
e que a obediência está estreitamente unida à caridade. Na caridade pastoral, como
afirmava São Paulo VI, se supera a relação de obediência jurídica, a fim de que ela seja
voluntária, leal e segura
67
.
Por isso, consideramos que,
Como para Cristo, assim também para o presbítero, a obediência exprime a total
e alegre disponibilidade de se cumprir a vontade de Deus. Por isso, o sacerdote
reconhece que esta vontade é manifestada também pelas indicações dos legítimos
superiores. Esta disponibilidade deve ser entendida como uma verdadeira
realização da liberdade pessoal, consequência duma escolha amadurecida
constantemente diante de Deus na oração. A virtude da obediência, requerida
intrinsecamente pelo sacramento e pela hierarquia da Igreja, é claramente
prometida pelo clérigo, primeiro no rito da ordenação diaconal e, depois, no da
ordenação presbiteral. Mediante ela, o presbítero fortalece a sua vontade de
comunhão, entrando, assim, na dinâmica da obediência de Cristo, feito Servo
obediente até a morte de Cruz (cf. Fl 2,7-8)
68
.
O amadurecimento e o discernimento da obediência fazem com que o presbítero se
doe a si mesmo, de modo que a sua vontade pessoal se torna aquilo que o Espírito lhe pede
na Igreja. Não é possível ser servo sem obediência. Um serviço rebelde, no sentido negativo
do termo, rompe com o mistério eclesiológico e a fraternidade cristã, que são fundamentais
para sua identidade. O Decreto Presbyterorum Ordinis, sobre o mistério da Igreja afirma que
66 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.109.
67 PAULO VI, Carta Encíclica Sacerdotalis caelibatus, n.93.
68 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.109.
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[...] o ministério sacerdotal, porém, sendo ministério da própria Igreja, em comunhão
hierárquica com todo o corpo se pode desempenhar (PO 15). E, ainda, sobre a fraternidade
afirma:
[...] a caridade pastoral instiga que os presbíteros, agindo nesta comunhão,
entreguem a sua vontade por obediência ao serviço de Deus e dos seus irmãos,
recebendo com espírito de e executando o que lhes é preceituado ou
recomendado pelo Sumo Pontífice, pelo próprio Bispo e outros superiores,
entregando-se e super-entregando-se, de todo o coração, a qualquer cargo,
ainda que humilde e pobre, que lhes seja confiado (PO 15).
Nesse sentido, a obediência do sacerdote é uma obediência libertadora das vontades
meramente pessoais e de outras potestades. Além disso, a obediência é fundamental para a
realização da vocação. Uma vez que é um chamado de Deus, ela expressa a vontade DEle
para o sujeito. Sem obediência a esse chamado, que é discernido pela Igreja e sacramentado
na ordenação, a vocação sacerdotal se torna um projeto humano e não aquele dom [...]
conferido por Deus no coração de alguns homens, [que] exige da Igreja propor-lhes um
sério caminho de formação (RFIS 1). Caminho este, que conduz a [...] uma especial
obrigação de respeito e obediência ao Sumo Pontífice e ao Ordinário próprio
69
. Isso porque
[...] o presbítero está agregado ao serviço duma Igreja particular, cujo princípio e
fundamento de unidade é o Bispo, que tem sobre ela todo o poder ordinário, próprio e
imediato, necessário para o exercício do seu múnus pastoral
70
e do qual é colaborador nas
obrigações pastorais e na ação evangelizadora.
E em segundo lugar, a obediência à hierarquia eclesial liberta da obediência a
quaisquer outros poderes. Pelo fato de que [...] a obrigação de adesão ao Magistério em
matéria de fé e de moral está intrinsecamente ligada a todas as funções que o sacerdote deve
desenvolver na Igreja
71
, a obediência deve ser compreendida pelo sacerdote, como uma
recusa à submissão a qualquer outra força que possa afastá-lo da unidade com Cristo, com a
Igreja, com o Bispo, com o povo de Deus ao qual é enviado como pastor e cuidador.
Podemos considerar, nesse momento, que uma ruptura com essa perspectiva quando a
espiritualidade do mercado conquista o coração do presbítero e ele não mais é pastor das
ovelhas, mas um mercenário que foge ao sinal do perigo ou se beneficia das próprias
ovelhas (Cf. Jo 10,12-13).
Podemos considerar que, assim como as partes do corpo estão sujeitas à cabeça, na
Igreja, corpo de Cristo cabeça, o ordenamento hierárquico e as normas [...] servem para
proteger adequadamente os dons do Espírito Santo confiados à Igreja
72
. Por isso, o
presbítero [...] assume generosamente o empenho de observar fielmente todas e cada uma
das normas, evitando aquelas formas de adesão parcial, segundo critérios subjetivos, que
criam divisão e se repercutem, com notável dano pastoral, também sobre os fiéis leigos e
sobre a opinião pública
73
. E, além disso, a adesão ao estatuto canônico [...] é fonte de
liberdade, enquanto não impede, mas estimula a espontaneidade amadurecida do
presbítero, que saberá assumir uma atitude pastoral serena e equilibrada, em relação ao que
está estabelecido, criando a harmonia
74
necessária na vida e no ministério do presbítero, do
sacerdote, do pastor.
69 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.111.
70 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.111-112.
71 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.112.
72 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.113.
73 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.113.
74 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.114.
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Outro elemento que é essencial para o presbítero é o espírito sacerdotal de pobreza. O
seu sentido profundo é [...] a pobreza de Jesus [que] tem uma finalidade salvífica. Cristo,
sendo rico, fez-se pobre por nós, para que nos tornássemos ricos pela sua pobreza (2Cor
8,9)75. Sobretudo o exemplo do esvaziamento, que São Paulo chama de Kenosis, [...] deve
levar o presbítero a conformar-se com Ele, na liberdade interior, em relação a todos os bens
e riquezas do mundo
76
.
Segundo o Papa Francisco, o sacerdote foi ungido [...] em Cristo com óleo da alegria,
e esta unção convida-nos a acolher e cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo sacerdotal.
A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto para si mesmo como para o povo fiel de
Deus
77
. A alegria que é impregnada no sacerdote pela unção do Espírito traz consigo o
desejo de seguir o Senhor por toda a vida e, ao contemplar a Kenosis de Cristo, se reconhece
pequeno diante da [...] grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério
relega-nos entre os menores dos homens
78
.
Para Francisco,
O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua
pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco
dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais
indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não
ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças; por isso, a
nossa oração de defesa contra toda a cilada do Maligno é a oração da nossa Mãe:
sou sacerdote, porque Ele olhou com bondade para a minha pequenez (cf. Lc 1,48).
E, a partir desta pequenez, recebemos a nossa alegria. Alegria na nossa pequenez
79
.
Alegria na pequenez é a alegria na Kenosis, no seguimento sincero e radical a Jesus Cristo
animado pelo Espírito. Nesse sentido, o Magistério reconhece que [...] na verdade, dificilmente
o sacerdote se tornará verdadeiramente servo e ministro dos seus fiéis, se estiver excessivamente
preocupado com as suas comodidades e com um excessivo bem estar
80
. Eno, ecoa a pergunta:
[...] que aproveita o homem ganhar o mundo inteiro, se depois perde a sua alma? E que coisa
poderia o homem dar em troca da sua alma? (Mc 8,36-37). Desse modo, [...] cada sacerdote é
chamado a viver a virtude da pobreza, que consiste essencialmente em entregar o coração a
Cristo, que é o verdadeiro tesouro, e não às riquezas materiais
81
.
Ao viver a virtude da pobreza o presbítero encontrará uma profunda alegria no
sacerdócio. Isso porque, segundo o Papa Francisco, trata-se de [...] uma alegria que nos
unge. Quer dizer, penetrou no íntimo do nosso coração, configurou-o e fortificou-o
sacramentalmente
82
. Essa alegria também é [...] uma alegria incorruptível. A integridade
do Dom ninguém lhe pode tirar nem acrescentar nada é fonte incessante de alegria [...] a
propósito da qual prometeu o Senhor que ninguém no-la podetirar
83
. E, ainda, [...] a
alegria do sacerdote está intimamente relacionada com o povo fiel e santo de Deus, porque
se trata de uma alegria eminentemente missionária
84
.
O sacerdote é pobre de alegrias meramente humanas porque ele faz muitas renúncias
para encontrar e assumir sua identidade presbiteral. Para o Papa Francisco,
75 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.169.
76 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.170.
77 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
78 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
79 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
80 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.170.
81 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.170.
82 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
83 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
84 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
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O sacerdote que pretende encontrar a identidade sacerdotal indagando
introspectivamente na própria interioridade, talvez não encontre nada mais
senão sinais que dizem saída: sai de ti mesmo, sai em busca de Deus na
adoração, sai e ao teu povo aquilo que te foi confiado, e o teu povo terá o
cuidado de fazer-te sentir e experimentar quem és, como te chamas, qual é a tua
identidade e fazer-te-á rejubilar com aquele cem por um que o Senhor prometeu
aos seus servos. Se não sais de ti mesmo, o óleo torna-se rançoso e a unção não
pode ser fecunda. Sair de si mesmo requer despojar-se de si, comporta pobreza
85
.
É, portanto, o compromisso missionário assumido no sacramento da Ordem que faz
com que aquele óleo perfumado da uão produza frutos no ministério do presbítero. E, além
disso, há a fidelidade, chave para a fecundidade, cujos [...] filhos espirituais que o Senhor dá a
cada sacerdote, [...] todos eles o esta Esposa que o sacerdote se sente feliz em tratar como
sua predileta e única amada e ser-lhe fiel sem cessar. É a Igreja viva
86
. E, por isso, [...] a
obediência à Igreja no serviço: disponibilidade e prontidão para servir a todos, sempre e da
melhor maneira
87
. Essa disponibilidade, fruto da obediência, [...] faz da Igreja a Casa das
portas abertas, regio para os pecadores, lar para aqueles que vivem na rua, casa de cura para
os doentes, acampamento para os jovens, sessão de catequese para as crianças
88
.
É com esse espírito que o presbítero deverá administrar os bens que lhe são
confiados. Nesse sentido, o Magistério deixa claro que,
O sacerdote, cuja parte de herança é o Senhor (cf. Nm 18,20), sabe que a sua
missão, como a da Igreja, se realiza no seio do mundo e que os bens criados são
necessários para o desenvolvimento pessoal do homem. Porém, ele usará tais
bens com espírito de responsabilidade, moderação, reta intenção e distância,
próprio de quem tem o seu tesouro nos céus e sabe que tudo deve ser usado para
a edificação do reino de Deus (Lc 10,7; Mt 10,9.10; 1Cor 9,14 Gl 6,6)
89
.
E mais,
[...] que o presbítero evite dar motivos, até a mais leve insinuação, relativos ao
fato de que possa conceber o próprio ministério como uma oportunidade para
obter benefícios, favorecer os seus ou buscar posições privilegiadas. Ele, ao
contrário, deve estar em meio aos homens para servir os outros sem medida,
seguindo o exemplo de Cristo, o Bom Pastor (cf. Jo 10,10). Recordando, além
disso, que o dom que recebeu é gratuito, esteja disposto a dar gratuitamente (Mt
10,8; At 8,18-25) e a empregar para o bem da Igreja e para obras de caridade o
que recebe por ocasião do exercício do seu múnus, depois de ter providenciado à
sua honesta sustentação e ao cumprimento dos deveres próprios do estado
90
.
Isso nos mostra que o sonho de uma Igreja pobre para os pobres (EG 198) recebe novo
impulso com o pontificado de Francisco. O presbítero [...] é obrigado levar uma vida simples
e a abster-se de tudo o que pode ter sabor de vaidade, abraçando assim a pobreza voluntária,
para seguir mais de perto a Cristo
91
. E, por isso, [...] em tudo (habitação, meios de transporte,
rias, etc.), o presbítero elimine todo o tipo de requinte e de luxo. [...] deve lutar diariamente
para não cair no consumismo e numa vida mole, que hoje invade a sociedade
92
.
85 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
86 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
87 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
88 FRANCISCO, Homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa (17 de abril de 2014).
89 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.170-171.
90 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.171.
91 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.171-172.
92 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.172.
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É, portanto, pelo testemunho da pobreza evangélica que a credibilidade da sua
pregação e a eficácia do seu apostolado se realizam. O presbítero,
Amigo dos mais pobres, reservará para eles as mais delicadas atenções da sua
caridade pastoral, com a opção preferencial por todas as pobrezas, velhas e
novas, tragicamente presentes no mundo, recordando sempre que a primeira
miséria de que deve ser libertado o homem é o pecado, raiz última de todo o mal
93
.
A opção pelos pobres, exigência do espírito sacerdotal de pobreza, exige que, antes de
mais nada, o sacerdote se reconheça amigo dos pobres, e por isso a sua relação com eles
deve ser pautada por aquele amor que emana do coração do próprio Deus e se sentir
corresponsável pela condição na qual eles se encontram. A exemplo de Cristo que se fez
pobre entre os pobres, o sacerdote é chamado para estar junto daqueles obrigados à margem
do caminho, e, movido pelo mesmo amor que fez o samaritano socorrer o caído, se fazer
próximo e derramar vinho e óleo nas feridas profundas da existência humana, material e
espiritual.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
No exercício do seu ministério, os presbíteros deverão manifestar o desprendimento,
o desapego e uma profunda experiência de e de encontro com Jesus Cristo. Eles devem
ter a consciência de que, pelo fato de serem ministros de Cristo pelo sacramento da Ordem,
associam a si o mistério da morte e ressurreição do Senhor. E para sustentar a vontade
contínua de doar-se com alegria às responsabilidades do ministério, carecem de uma
firme, cujas convicções são maduras, livres e generosas.
Isso significa que o presbítero, ao oferecer a sua vida a serviço do Evangelho, deve
buscar tornar credível seu anúncio, através das diversas formas de caridade e do testemunho
da santidade cristã, manifestadas num estilo de vida sóbrio, simples, obediente e humilde. E,
em vista disso, faz a opção por aqueles que têm a sua dignidade ferida: os pobres e
marginalizados, os migrantes e os que fazem da rua seu lar, os humildes, os doentes e
idosos. Assim, a vivência de um espírito sacerdotal de pobreza faz renunciar à arrogância, à
indiferença, ao desprezo e à intolerância, às tentações do carreirismo, do poder, dos likes e
da mídia; da vida fútil e vazia.
Essas renúncias poderiam causar desânimo e desvio por caminhos aparentemente
mais cômodos. Contudo, assim como os dons de Deus se multiplicam justamente onde
fé, oração e caridade, o espírito sacerdotal de pobreza se torna vínculo de união entre o
presbítero e Cristo, ressignificando as dificuldades e o cansaço pastoral. Por isso, não pode
haver fidelidade vocacional nem espírito de pobreza fora de um caminho espiritual
vigoroso. Desse modo, o estilo de vida de um presbítero exige um constante cuidado da vida
divina recebida no Batismo, com todos os meios que favoreçam seu desenvolvimento, tais
como: a celebração eucarística cotidiana que é centro da vida espiritual, fonte e sustento do
ministério pastoral; a reconciliação frequente, que favorece uma contínua conversão; a
direção espiritual, a fim de discernir a vontade de Deus; a recitação da liturgia das horas, o
exame de consciência, a lectio divina, os retiros espirituais; a devoção mariana; a vida austera,
pois o ministério ordenado exige renúncias e sacrifícios que somente uma e equilibrada
pedagogia ascética pode favorecer; e outros meios que possam fazê-lo crescer
espiritualmente, vocacionalmente, ministerialmente.
93 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.172.
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Então, reconhecemos que a espiritualidade sacerdotal alicerçada na vida de oração,
no exercício da caridade, da pregação, da celebração dos sacramentos e, ainda, as virtudes da
obediência e do espírito de pobreza é fundamental para que o presbítero seja um
verdadeiro pastor da comunidade que lhe é confiada. Ele, à imagem de Cristo, Bom Pastor,
oferece a sua vida por toda a Igreja, comunidade que reúne o Povo de Deus. Por isso, [...] o
sacerdote existe e vive para ela; por ela reza, estuda, trabalha e se sacrifica; por ela está
disposto a dar a vida, amando-a como Cristo, dirigindo para ela todo o seu amor e a sua
estima
94
.
Assim, sua vida como pastor será dedicada a todos e cada um dos membros da sua
comunidade, [...] esclarecendo as suas consciências com a luz da verdade revelada,
defendendo a autenticidade evangélica da vida cristã com autoridade, corrigindo os erros,
perdoando, sanando as feridas, consolando as aflições, promovendo a fraternidade
95
.
Obviamente, isso não será isento de possíveis conflitos eclesiológicos, políticos e de
outras ordens. Contudo, para ser bom guia do seu povo, o presbítero precisa estar sempre
atento aos sinais dos tempos: a respeito da Igreja universal, da história humana, da realidade
concreta da sua comunidade. Para ter melhores condições de discernir esses sinais, ele deve
se atualizar constantemente [...] no estudo das ciências sacras e dos diversos problemas
teológicos e pastorais, e o exercício duma sábia reflexão sobre os dados sociais, culturais e
científicos que caracterizam nosso tempo
96
.
Finalmente, ele precisa mostrar profundo amor pela Igreja, que é sua mãe e mestra, e
viver com alegria a pertença eclesial, testemunhando com a vida a comunhão com o Papa,
os bispos, com o presbitério e com todos os fiéis leigos. O presbítero é um homem chamado
por Deus e enviado pela Igreja para ser sinal de comunhão na comunidade de fiéis que lhes
são confiados.
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94 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.154.
95 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.154.
96 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO, Diretório para o ministério e a vida dos presbíteros, p.155.
BONETTI, Cleocir; FÁVERO, Leonardo
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