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O MINISTÉRIO DA MU L HER/L EIGA
NA IGREJA
Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14)
THE MINISTRIES OF LAY WO M EN IN
CHURCH
Salt of the earth and light of the world (Mt
5,13-14)
Ourora Rosalina Bolzan*
Resumo: As mulheres estão assumindo os ministérios do laicato como
ousadia missionária no seio das comunidades cristãs. Nas palavras do Papa
Francisco, vejo, com prazer, como muitas mulheres partilham
responsabilidades pastorais juntamente com os sacerdotes, contribuem para
o acompanhamento de pessoas, famílias ou grupos e prestam novas
contribuições para a reflexão teológica (EG 103). Impulsionados pelas
palavras do pontífice, o objetivo desta reflexão conte mpla, primeiro retomar
o papel determinante das mulheres leigas nas comunidades nos di f e re nt e s
ministérios e serviços. Segundo perceber o dinamismo da batismal, como
fonte de todas as vocações e que em Cristo t odos pertencem a família do
povo de Deus.
Palavras-chave:Mulher. Missionária. Compromisso. Leigas. Igreja.
Abstract: Women are taking on the ministries of the laity as a missionary boldness
within Christian communities. In the words of Pope Franci s, I am pleased to see
how many women share pastoral responsibilities together with priests, contribute
to the accompaniment of individuals, families or groups and make new
contributions to theological reflection (EG 103). Driven by the pontiff's words,
the purpose of this reflection contemplates, first, to resume the determining role of
lay women in communi t ie s in diff e re nt ministries and services. According to
perceiving the dynamism of the baptismal faith, as the source of all vocations and
that in Christ all belong to the family of the people of God.
Keywords: Woman. Mis si onary . Commitments. Lay. Church.
v. 38, n. 130, Passo Fundo,
p. 105-112, Jan./Jun./2021,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI: dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v38i130.43
* Professora doutora vinculada a
UNIASSELVI Universitário Leonardo da
Vinci - Campus de Indaial. Professora nos
cursos de Pós-Graduação e Graduação na
Celer Faculdades de Xaxim/SC. Assessora
nos Cursos de Teologia de Leigos da Dioc es e
de Chapecó, conveniada com a Itepa
Faculdades Passo Fundo/RS. Compõe a
Equipe de coordenação das Comunidades
Eclesiais de Bases a níve l Nacional (CNBB).
E-mail: ourorabolzan@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0002-0572-7634
Recebido em 13/11/20
Aprovado em 22/02/21
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INTRODUÇÃO
Este texto parte do conceito de Leigo, sob a ótica das igrejas cristãos, como aquele
que não recebeu ne nh u ma ordenação, ou que não é clé ri go, e obje ti v a refletir
especificamente sobre a atuação da mulher/leiga, que por uma questão cultural ainda
exerce múltiplas tarefas e funções: de ser mãe, esposa e profissional, mas que conforme
pode depreender-se da leitura dos evan g e lhos , desde tempos remotos e iniciais, é
evangelizadora. Nesta missão, busc a e é testemunha do Re in o, através de um conjunto de
ações e princípios que materializam os sinais do Re i no de Deus na vida das comunidades,
incentivando, prestando serviços, aconselhando, rezando, cantando, fomentando grupos,
agregando, liderand o.. .. e assim tornando possível este grande projeto que é construirmos
conjuntamente, homens e mulheres, um mundo de justiça.
Este exe rc íc i o ou função dentro da Igreja, durante a maior parte do tempo, nem
sempre foi tarefa fácil, uma vez que não está dissociado de diversos fatores, tais como: o
modo de pensar d o mundo, a maneira his tóri c a de consid e rar a missão da mulher na Igrej a
e mesmo seu papel na sociedade. Em que pese não ser objeto da presente explanação
adentrar especificamente s obre o papel da mulher/leiga na história da Igreja, bastaria um a
breve leit u ra dos s e us documentos históricos e mesmo da história universal da
humanidade, para que se averigue que dentro da estrutura Igreja, por muitos anos, a
presença da mulher/leiga nas atividades pastorais, não foi reconhecida ou valorizada.
Mesmo nos dias atuais, este aspecto cultural e social da pres e a feminina, e suas
implicações, é complexa, especialmente para algu ns setores da Igreja. É fato que a Igreja
tem dado uma importância maior à atuação das mulheres, e trazido à lume as diversas
personagens e protagonistas qu e ajudaram a constituir/construir a Igreja, principalmente
com o Papa Francisco que, em diversas ocasiões, manifesta seu especial interesse para q u e
as mulheres não se sintam hóspedes, mas participante s plenas na vida da Igreja.
Neste magistério que vem sendo protagonizado pelo Papa Francisco, encontramos
uma página importante no reconhecimento e dig ni dad e das mulheres, tanto na vida social
como e c le si al. As reivindicações dos legítimos direitos das mu lh e re s, a partir da firme
convicção de que homens e mulheres têm a mesma dign id ade , colocam à Igreja questões
profundas que a desafiam e não se podem iludir superficialmente (EG 104). Se m desprezar
o ministério sacerdotal que é um dos meios que Jesus utiliza ao serviço do seu povo, mas a
grande dignidade vem do Bati sm o, que é acessível a todos. A configuração do sacerdote
com Cristo Cabeça isto é, como fonte principal da graça não comporta uma exaltação
que o coloque por cima dos demais (EG 104).
Em um primeiro momento iremos discorrer como se manifesta e se desenvolveu o
Ministério da mulher/leiga na Igreja, especialmente a partir do Concílio Vaticano II; para,
posteriormente, adentramos no conceito da missionariedade da mulher/leiga na Igreja.
Esta, entendida como um carisma de serviço, que torna-se um ministério quando vivido e
reconhecido nos serviços, visando a edificação, transformação e aperfeiçoamento da
comunidade/igreja, tendo por pilar a valorização e constante busca da espiritualidade
como processo de humanização, cuja centralidade é o ser humano, homens e mulheres,
feitos à imagem e semelhança de Deus.
1 ODES E N V OL V I M E NT O DO MINISTÉ RI O DA LEIGA
Conforme a fi rm ado, desde o início da cristandade e da história da Igreja, a mulher
esteve presente assumindo serviços dent ro e fora de suas estruturas. Os estudos históricos
registram, também, a discriminação da mulher, quanto a sua participação n a Igreja, por
BOLZAN, OuroraRosalina.
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muito tempo e longos períodos, foi considerada e vista como aquela que gera a vida
(procriar), mas sem qualquer direito, portanto, sem voz e s em vez de participação nas
decisões.
Foi sobretudo a partir do Concílio Vaticano I I (1965) que se abriram pe rs pe ct i vas ,
em vistas da construção de reflexão e tomada de decisões estru t u rai s em relação à
valorização da participação das mulheres no seio da Igre j a. O batismo, como fonte de todas
as vocações, começa a ganhar e s paço e, i ndi re t ame nt e , reflete na temática da presença das
mulheres. A abertura a este diálogo, se após muitas que s tõe s conflituosas no contexto
do ambiente Conciliar e na perspectiva da volta às font e s bíblicas, patrísticas e litúrgicas,
na qual se descobre o sensus fides de todo o povo de Deus. Surge daí, entre outros temas, a
necessidade de a I g re ja abrir suas portas não somente para a presença da mulher, mas no
diálogo com as realidades do mundo em desenvolvimento. De modo particular, na
Constituição dogmática Lumen Gentium, desenvolve-se o conceito e a compreensão da
Igreja como sacramento de salvação (LG 4 8 ). A Igreja é sacramento do Reino de Deus,
inaugurado por Jesus e edificado no Espí rit o por todas as pes s oas de boa vontade
1
.
Recupera-se o conceito Povo de Deus para qualificar o conjunto dos batizados, sejam eles
clérigos, religiosos/as ou leigos/as.
Na concl us ão do Con cíl io Vaticano II, o Papa Paulo VI envia uma mensagem às
mulheres, dando a elas a esperança e a certeza de que, a partir de então, o espaço que estava
sendo oc u pado de fato, passaria a ser processualment e reconhecido como de dire i to dentro
da Igreja.
Às mulheres
E agora, é a vós que nos dirigimos, mulheres de todas as condições, jovens,
esposas, mães e viúvas. A vós também, virgens consagradas e mulheres
solteiras: vós constituís a metade da família hu man a.
A Igreja orgulha-se, como sabeis, de ter dignificado e libertado a mulher, de ter
feito brilhar durante os séculos, na diversidade de caracteres, a sua igualdade
fundamental com o homem.
Mas a hora vem, a hora ch e g ou , em que a vocação da mulher se realiza em
plenitude, a hora em que a mulher adquire na cidade uma influência, um
alcance, um poder jamais conseguidos até aqui.
É por isso que, neste momento em que a humanidade sofre uma tão profunda
transformação, as mulheres impregnadas do espírito do Evangelho podem tanto
para ajudar a humanidade a não decair.
Vós, mulheres, tendes sempre em partilha a guarda do lar, o amor das fontes, o
sentido dos berços. Vós estais presentes ao mistério da vida que começa. Vós
consolais na partida da morte. A nossa técnica corre o risco de se tornar
desumana. Reconciliai os homens com a vida. E sobretudo velai, nós vos
suplicamos, sobre o futuro da nossa espécie. Tendes que deter a mão do homem
que, num momento de loucura, tentasse destruir a civilização humana.
Esposas, mães de família, primeiras educadoras do gênero humano no segredo
dos lares, transmiti a vossos filhos e filhas as tradições de vossos pais, ao mesmo
tempo que os preparais para o insondável futuro. Lembrai-vos sempre de que
uma mãe pertence, em seus filhos, a esse futuro que ela talvez não chegará a ver.
E vós também, mulheres solteiras, sabei que podeis cumprir s e mpre a vossa
vocação de dedicação. A sociedade chama-vos de toda a parte. E as próprias
famílias não podem viver sem o socorro daqueles que não têm família.
Vós especialmente, virgens consagradas, num mundo em que o egoísmo e a
busca do praze r querem ser lei, sede as guardiãs da pureza, do desinteresse, da
piedade. Jesus, que deu ao amor conjugal toda a sua plenitude , exaltou também
a renúncia a esse amor humano, quando é feita pelo Amor infinito e para
serviço de todos.
1 Agenor BRIGHENTI, Teologia pastoral, p.132.
BOLZAN, OuroraRosalina.
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Mulheres que sofreis provações, finalmente, vós que estais de junto à cruz, à
imagem de Maria, vós que, tantas vezes através da história, tendes dado aos
homens a força para lutar até ao fim, de testemunhar até ao martírio, ajudai-os
uma vez mais a conservar a audácia dos grandes empreendimentos, ao mesmo
tempo que a paciência e o sentido de humildade de tudo o que principi a.
Mulheres, vós que sabeis tornar a verdade doce, terna, acessív el , empenhai-vos
em fazer penetrar o espírito deste Concílio nas instituições, nas es col as, nos
lares, na vida de cada dia.
Mulheres de todo o un iv e rso, cristãs ou não-crentes, vós a quem a vi da é
confiada neste momento tão grave da história, a vós compet e salvar a paz do
mundo
2
.
Esta mensagem do Papa Paulo VI surge como verdadeira revolução na vida e na
missão das mulheres, para a época. Uma palavra anunciada aos quatro ventos e
iluminadora para ajudar a dissipar as trevas e os pesos colocados nas costas das mulh e re s ao
longo de tantas décadas da história da Igreja. Chama atenção, em espe c íf i co, o chamado
para a mis s ão confiada às mulheres do cuidado da vida perante uma história marcada por
sinais de morte. Palavras e ações que continuam a nos interpelar, apesar do tempo
transcorrido. Ainda hoje, a luta pela forma em que se a participação e inclusão das
mulheres permanecem e se atualizam. Ao contrári o, estas se avolumaram e se
complexaram, tendo em vista os problemas em relação à vida das mu lhe r es e das pessoas
em geral (estru t ura is , econômicos, sociológicos, gênero, violências...). Contudo, foram
palavras proféticas de um Papa, que reverberaram e calaram fundo, considerada a sua
época e que continuam des af ia ndo a sociedade e a Igreja a reconhecer a importâ nci a e a
missão das mulheres no protagonismo de outras formas de Igreja e mundo possível.
O Concílio, no documento Gau dium et Spes, reconhece a dignidade de todo o gênero
humano. A igualdade fundamental entre todos os homens deve ser cada vez mais
reconhecida, uma vez que, dotados de alma racional e criados à imagem de Deus, todos
tem a me s ma natureza e origem; e, remidos por Cristo, todos tem a mesma vocação e
destino divinos (GS 29).
Na década de 80, Leonardo Boff refletia que precisou haver uma mudança sócio,
cultural e psicológica na sociedade para que a mulher passasse a ser vista como sujeito.
Compreendia ele que a mul he r se fortalece na sociedade, e acaba fortalecendo a sociedade
como um todo, e ao mesmo tempo contribui para o seu desenvolvimento. Ainda conti nu a,
porém, sendo um processo lento e conflituoso, de quebra de paradigmas, rev is ão de
conceitos e novas formas de agir e pensar, mudanças de mentalidade e comportamento.
Ideias, conceitos e valores, enraizados por séculos em uma sociedade, não desaparecem de
um momento para outro.
Atualmente, a mulher conquistou espaços, emancipação, buscando a igualdade de
direitos políticos, jurídicos e econômicos. Libertar-se é ir além, realçar as condições de
diversidade nas relações de gêneros.
Desde a antiguidade cristã, as mulheres aprofundaram a mística e desenvolveram
métodos para viver a intimidade com Deus. Mulheres como Hildegardis de B in ge n (séc.
XI) e Catarina de Sena (séc. XVI), viveram a intimidade com Deus como relação afetiva e
com um a linguagem própria do universo feminino. Testemunharam Deus como
ministério de amor e de paixão.
2 Papa Paulo VI conclusão do Concílio Vaticano II. ÀS MULHERES. 8 de dezembro de 1965. Disponível em:
http://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/speeches/1965/documents /hf _p- vi _spe _1 9 65 1 20 8 _e pilog o- conc i lio -
donne.html..
BOLZAN, OuroraRosalina.
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Quando analisamos as narrativas bíblicas, as mulheres ora aparecem como vítimas,
mas, também, como testemunhas oculares da na ressurreição de Jesus (Lc 24,8-11)
3
. O
ministério inclusivo do Reino de Deus, pregado por Jesus, questionou muitos estereótipos
de gênero de seu tempo, como também censuras costumeiras impostas às mulheres. E
ainda transparece um ideal in clu s iv o de Igreja, quando diz: não judeu nem grego, nem
escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl
3,28).
A c hav e para a superação desta dificuldade está no reencontro com o Jesus dos
evangelhos, procurando contemplar e perceber os traços de sua personalidade e os passos
de seu itinerário, tal como o perceberam as primeiras testemunhas. O resultado de nossa
observação nos levará a vislumbrar um homem que viveu uma especial aliança e sintonia
com as mulheres de seu tempo, fundou uma comunidade e inaugurou um estilo de vida
onde elas eram bem-vindas e tinham seu lugar.
Esta postura includente de J es u s revelada nos Evangelhos encontra eco no coração
do pensamento do atual Papa. Segundo Francisco, a esperança tem um rosto feminino: no
seu cair com Jesus, no seu perseverar, mesmo no meio do sofrimento do seu povo; no seu
agarrar-se à esperança que vence a morte; na sua maneira jubilosa de anunciar ao mundo
que Cristo está vivo, res su s ci t ou . A mulher descobriu Jesus Cristo como um amigo
compassivo, libe rtad or dos fardos, um amig o que c onso la na angúst i a e um aliado na vida
das mulheres
4
.
Como membros vivos na missão da Igreja, as mulheres são chamadas a desenvolver
as suas funções na família, na comunidade e na Igreja, atuando em trabalhos voluntários,
especialmente aos mais necessitados, nos movimentos e nas mi ss õe s fora da Igreja. As
mulheres hoje conti nu am a escrever e reescrever a históri a de vida das mulheres da
doutrina da Igreja, na Bíblia, e ntr e as mui tas : Miriam, Hulda, Ana, Débora, Rute, Abigail,
Maria, Maria Madalena, e todas as anônimas que permanecem na poeira da his t ória , mas
que contribuíram, e muito, no seu tempo e para o noss o t e mpo.
2 AMISSIONARIEDADE DA LEIGA NA IGREJA
As mulheres são protagonistas e ofe re c em à Igreja e à sociedade uma contribuição
indispensável. Na missão, especificamente, podem ser encont radas nas ações de
misericórdia e soli dari e dad e, assumindo ministérios nas comunidades como diz o
documento 61 da CNBB. Atuam em muitas instituições de saúde, casa de idosos, orfanatos,
casa de recuperaç ão de entorpecentes e álcool, doenças mentais e muitas outras
importantes obras de luta pela dignidade humana. Neste sentido, todo discipulado
missionário independente de gênero, deve engajar-se ativamente em algum ministério
eclesial, ou em obras de ações sociais voltadas ao bem da comunidade. Estando incorporada
mais ativamente na obra divina produzem frutos abundante s na casa do Pai. Amizade com
o Pai, servindo-o com ações de fraternidade realizadas e reconhecidas em todas as mis sõe s
exercidas para o bem comum da humanidade é certeza do caminho salvífico trilhado pelos
cristãos (Gl 6,10)
5
.
3 ...então elas se lembraram das palavras de Jesus. V oltar am do túmulo, contaram tudo aos onze e a todos os outros.
Eram Maria Madalena, Joana e Maria mãe de Tiago. Também as outras mulheres que estavam c om elas contaram
tudo isso aos apóstolos. Mas eles acharam tudo um absurdo, e não acreditam nelas.
4 Vendo-a, Jesus dirigiu-se a ela e disse: mulher, você está livre de sua doença Jesus colocou as mãos sobre ela, e
imediatamente a mulher se endireitou e começou a louvar a Deus (Lc 13,10-13). No Apocalipse, a mulher é símbolo
da vitória sobre o mal, ens ina ndo-n os que o fraco vence o forte pelo poder da resistente (Ap 12,1-17).
5 O serviço ao próximo é um dos maiores testemunhos de do verdadeiro cristão, pois formamos um corpo em Cristo
(Rm 12,4-5), trazendo para a terra um pedaço do céu, onde Deus está a serviço de suas amadas criaturas (Mc 10,45).
BOLZAN, OuroraRosalina.
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Um carisma de serviço re conh e ci do torna-se um ministério qu an do vivido e
reconhecido no serviço que visa a edificação da comunidade eclesial. Viver uma
espiritualidade libertadora, como uma maneira de ajudar as pessoas a buscar Deus, é uma
opção de fé. Amamos a Deus e aos irmãos como centralidade do mandamento de Jesus (Mt
22,37-39). Assumir ministé rio s é participar do cuidado pastoral, integrar equipes que
ajudem o povo de Deus no desempenh o de suas responsabilidades através do serviço de
animação das comunidades.
Na Igreja povo de Deus, entendida a part i r da teologia das comunidades com seus
diferentes carismas e ministérios, todos s ão importantes para a vida do seguimento e na
vivência dos valores do Reino de Deus. A missão de anunciar a boa nova para o mundo
aproximando os que mais necessitam, seguindo Cristo como cabeça, participando juntos
na missão confiado por Ele como sacerdotes, religiosos/as, homens ou mulheres e
planejando com amor e a misericórdia, com perseverança e fé, evitando o exacerbado
clericalismo cumprindo assim a missão de batizados/as. Segundo o documento 105 da
CNBB, os leigos e leigas te m como imediata tarefa o vasto e complicado mundo da política
da realidade social e da economia, e também outras realidades a evangelização, como sejam
o amor, a família, a educação das crianças e dos adolescentes, o trabalho profissional e o
sofrimento (n.6 ) . Portanto, ser cristão é assumir compromissos, dar continuidade ao
projeto de Jesus Cristo, estar unidos a Ele, entre si e com os irmãos e irmãs na Igreja por
meio do Espírito Santo.
Pelo batismo todos os fiéis participam do sacerdócio comum de Cristo e de seu
caráter profético e régio. Jesus elege um povo santo e sac e rdot al, uma nação eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo adqu iri do por Deus para anunciar os seu s louvores (1Pd
2,4-10). Este povo de Deus é chamado e enviado para três tarefas missionárias
fundamentais: a primeira é conduzir a comunidade com amor de mãe; a segunda é ajudar
na vivência da espiritualidade no encontro íntimo com Deus; e a terceira é a organização e
conquistas de justiça, ali me nt ação , saúde e dignidade. A este conju nt o de tarefas
corresponde o tríplice múnus de Cristo. Nos dias atuais o profetismo, fato comprovado
desde as mais pequenas comunidades, é assumido cada vez mais pelas leigas, que atuam
com fé, esperança e car id ade . A cristã entra como elemento forte e contagiante na
missionariedade da obra evangelizadora. Ela é, antes de tudo, vivida e propagada. É visível
o crescimen to expressivo das mulheres assumindo os ministérios de presidir a Celebração
da Palavra, por exemplo, hoje tão importante em muit as comunidades; além de ministras
da Sagrada Euc ari st i a e participação efetiva na organização e administração das
comunidades.
Outras ati v id ade s e ministérios desenvolvidos pelas mulheres e assumidos por elas,
até então, como de competência exclusiva dos home ns, são os de c oorde n ação dos
conselhos paroquiais e diocesanos, a tesouraria e de dimensão administrativa. Para citar
um exe m plo concreto explanamos o da Di oce s e de Chapecó, na qual muitas mulheres são
coordenadoras de conselho paroquial, comunitário e diocesano; coordenadoras das equipes de
finanças e do dízimo
6
. Nesta Diocese, s e gu n do seus registros, consta de aproximadamente
55.500 lideranças envolvidas na evangelização. Destas, a maioria são mulheres atuando nos
conselhos, catequese, liturgia, grupo de reflexão, CEBS, pastorais sociais, etc, (grifo me u) .
Outros espaços que podemos citar, e que se abrem para a realidade das leigas, são
espaços nas faculdades de teologia, Juiz(a) do tribunal eclesiástico, promotora da justiça no
mesmo tribunal missi oná rio. Além disso, atuam entre outros, no ministério da música, da
liturgia, são mi ni s tras dos enfermos, levando a Eucaristia e uma palavra de conforto e
6 Diretório Diocesano de C hap e /S C , 2020, p.10.
BOLZAN, OuroraRosalina.
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esperança aos doentes. Celebram as exéquias, acompanh am as famílias enlutadas dando
força e coragem para que permaneçam vivas na esperança e na fé.
A mulher, sendo a prim ei ra catequista e missionária para seus filhos e filhas, assim
como Maria foi para Jesus, as su me de igual forma na comunidade o ministério da
catequese, seja como coordenadora, catequista, na preparação das crianças e adolescentes
para a vida, para o encontro com Jesus atravé s do sacramento e da vivência, para colocar
em prática o que assumiu no Sacramento rece bi do. Atuam, também, na pastoral dos
encarcerados até considerados de alta periculosidade, levando esperança, a presença de
Cristo através do Evangelho, na mensagem de que s e mpre podemos mudar de vida.
Na Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, o Papa Francisco reconhece a atuação e
a presença nos espaços da Igreja. Existem os carismas qu e são dons do Es píri to Santo da dos
aos seres humanos para edificação d a Igreja, para o bem dos homens e das mulheres e de
toda a comunidade. O Papa Francisco reconhece que muitas mulheres fortes, cor ajos as e
corretas, são capazes de sofrer e carreg ar muitos pesos, não t e m medo de enfrentar
questões espinhosas e perceber que é necessário desempenhar seu papel na Igreja, assim
como Maria que assistiu ao da cruz a morte de seu próprio filho Jesus e, mesmo ass im ,
não se deixou abalar na fé, mas a cada dia aumentava mais. No entanto, reconhece a
necessidade d e avançar: É preciso ampliar os espaços para uma presença feminina mais
incisiva na Igreja no âmbito do trabalho e nos vários lugares onde tomam as decisões
importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociai s (EG 103).
Além disso, o Papa Francis co com carinho a missionari e dade e a doação da
mulher na Igreja. No dia 3 de março de 2013, na praça São P e dro, no Vaticano, afirmou:
Eu gostaria de ressaltar que a mulher tem uma sensibilidade particular pe las
coisas de Deus, sobretudo para nos ajudar a entender a miseri córd i a, a ternura
e o amor que Deus tem por nós. Gosto de pensar também que a Igreja não é o
Igreja, mas a Igreja. A Igreja é mulher, é mãe, e isto é bonito. Deveis pensar e
aprofundar isto
7
.
no dia 8 de março de 2013, em sua mensagem ao dia internacional da mulher,
acrescenta ainda que os dotes da delicadeza, sensibil id ade e ternura qu e enriquecem o
espírito feminino, representa não apenas uma força para a vida das famílias, mas para a
propagação de um clima de serenidade e de harmonia. As mulheres tem muito a dizer-nos
na sociedade atual. Às vezes somos machistas e não deixamos espaço para a mulher, mas a
mulher sabe ver as coisas com olhos diferentes dos homens
8
.
CONCLUSÃO
Nossa reflexão versou sobre o desenvolvimento da ação das leigas/mulheres, na vida
eclesial apontando avanços e dificuldades, haja vista a atuação das mulheres leigas nas
comunidades, nas instituições de caridade, nas pastorais e ministérios. Fato somente
possível com a nova primavera ocasionada pelo Concílio Ecumênico Vaticano II. Este foi o
acontecimento impulsionador ao reconhecer as mulheres, as leigas, como protagonistas da
Igreja através do Sacramento do Batismo.
Na missão de evangelizar, homens e mulheres caminham juntos na construção do
Reino de Deus. Diante de Deus, a mulher não existe sem o homem e o homem não existe
sem a mulher, pois o homem nasce pela mulher e tudo vem de Deus (1Cor 11,11-12).
7 https://www.vaticannews.v a/pt /papa/ne w s /20 1 3/f ran ci sc o-e -o- pape l-das -mu lh e re s -na-i g re ja. h tml
8 https://www.a12.com/redacaoa12/sa nto- padre /papa- f ranc is co- e -as- mu lhe re s .
BOLZAN, OuroraRosalina.
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É claro qu e não podemos fechar os olhos e o coração aos desafios ainda hoje
enfrentados pelas mulhere s leigas e nem ficar indiferentes aos problemas cruciais na
atualidade. E num contexto que desafia e provoca homens e mulheres a serem
verdadeiramente sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14). Diante da profunda crise que abarca
a sociedade atual, cujos valores humanos e evangélicos são refratados ou mesmo manipulados,
precisamos ser profetas e profetizas do Reino de Deus e de sua justiça (Mt 6,33).
Quando olhamos para as ações pastorais das comunidades percebemos a quantidade
de leigos e na grande maioria leigas e ng ajadas e comprometidas com a prática cristã. Leig as
que, juntamente com padres e bispos , contribuem ativamente na missão evangelizadora,
anunciam Jesus Cristo e seu projeto, motivadas pela ação do Espírito Santo. O Papa
Francisco tem buscado generosamente falar sobre o papel das mu lhe re s , da necessidade das
mulheres e do lugar das mulheres na Igreja, mas temos um longo caminho a percorrer.
Segundo Age nor Brighenti, o Papa Francisco, quando est e ve no Brasil, falando aos
bispos do Celam, pergunta:
Nós, pastores, bispos e presbíteros, temos consciente e convicção da missão dos
leigos e lhes damos a liberdade para irem disce rnindo, de acordo com o seu
caminho de discípulos, a missão que o Senhor lhes confia? Apoiamo-los e
acompanhamos, superando qualquer tentação de manipulação ou indevida
submissão? Estamos sempre abertos para nos deixarmos interpelar pela busca
do bem da Igreja e pela sua missão no mundo?
9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA SAGRADA. Edição Past oral. São Paulo: Paulinas, 1990.
BOFF, Leonardo. E a Igreja se fez povo. Eclesiogênese: A Igreja que nasce da f é do povo. Petrópolis:
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PAPA
PAULO
VI
NA
CONCLUSÃO
DO
CONCÍLIO
VATICANO
II:
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O ministério damulher/leiga naIgreja:Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14)
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.38, n.130, p.105-112, Jan./Jun./2021. ISSN on-line:2763-5201.