Este artigo está licenciado com a licença: Creative
Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0
International License.
EDITORIAL
Luísa de Lucas*
A Revista Teopráxis tem a alegria de apresentar a seus
leitores(as) a segunda edição de 2023. O dossiê se volta para uma
temática muito sensível e que ocupa um importante lugar de diálogo
nas produções teológicas, a saber: A História da Mulher na Igreja e
na Contemporaneidade. As questões ligadas ao feminino estão,
também, particularmente próximas das reflexões tecidas pelo Papa
Francisco. Ele tem feito um movimento inédito para maior inclusão
feminina nas decisões da Igreja nesta última década, inspirando um
novo olhar teológico, pastoral e missionário. No documento
Evangelii Gaudium (2013), o Papa afirma que “a Igreja reconhece a
indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma
sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares”(n.103),
dando mais vida e vigor ao anúncio do Reino. No mesmo
documento, ele reforça a necessidade de ampliar os espaços para
uma presença feminina mais incisiva na Igreja, especialmente nos
lugares onde se tomam decisões importantes.
As mulheres são indispensáveis para a ação missionária e
evangelizadora da Igreja no Brasil e no mundo. Em audiência com os
membros da Comissão Teológica Internacional, Papa Francisco
reiterou o papel decisivo da contribuição das mulheres para a reflexão
teológica. Para o Pontífice, isso requer compreender a teologia sob a
ótica feminina para poder compreender o que é a Igreja e os sinais de
Deus na história. Por isso, é fundamental desmasculinizá-la a partir
de uma teologia e linguagem de inclusão, engajada, comprometida e
sensível às novas realidades que requerem mais cuidado, atenção e
uma leitura mais aguçada do mundo. Enfim, necessitamos de uma
teologia ainda mais evangelizadora, na promoção do diálogo e atenta
a um mundo em constante transformação, complexo e plural. São
reflexões sobre essa dimensão que a presente edição da Revista
Teopráxis tem o prazer de apresentar a seus (suas) leitores (as), a fim
de amadurecer e qualificar sempre mais a relação sine qua non do
feminino na evangelização.
Partindo da compreensão do significado desse tema para a atual
conjuntura eclesial em tempos de sinodalidade, abrimos esse dossiê
dialogando sobre a participação feminina nos âmbitos bíblico,
histórico, teológico e antropológico. Por isso, o leitor terá alegria de
apreciar a entrevista com a teóloga brasileira Maria Clara Bingemer. Ela
versa sobre algumas questões pertinentes em relação ao fazer teológico
das mulheres e que são centrais para uma hermenêutica capaz de
pensar e problematizar os desafios para a missão da mulher na Igreja,
num contexto marcado por machismos e centralização do poder.
Na sequência, abrimos a seção artigos do dossiê apresentando
textos que dialogam sobre As Mulheres na História da Igreja e que
problematizam seu papel e sua participação no ontem e no hoje do
v. 40, n. 135, Passo Fundo,
p. 4-6, Jul./Dez./2023,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:
dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v40i135.200
* Professora no Instituto de Teologia e
Pas
toral (Itepa) na área da Mariologia.
Doutoranda em teologia na PUCRS
(Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul). Possui Mestrado em Teologia
Sistemática pela PUCRS e graduação em
Pedagogia pela Universidade Paulista (2005)
Religiosa da Congregação das Irmãs de Notre
Dame. Tem experiência na área de Educação,
com ênfase em Educação Musical, Ensino
Religioso e Orientação Vocacional, com
aprofundamento principalmente nos
seguintes temas: Vida Religiosa Consagrada,
Pluralismo Religioso, Santidade, Mulher,
Juventudes e Cristianismo.
Email: marialuisa@notredame.org.br
https://orcid.org/0000-0003-1629-6814
5
Projeto da Salvação, continuando o seguimento e o discipulado de Jesus (Cf. Lc 8).
Iniciamos com a bela reflexão produzida pela Doutora em Teologia e Professora na pós-
graduação da PUC Minas, Elisângela Pereira Machado, que apresenta o artigo intitulado
O feminino no Cristianismo Antigo, um ensaio sobre a Matrologia”e traz à tona um tema
bastante recente nos estudos teológicos em torno da Matrística. São figuras que foram
esquecidas pela tradição da Igreja e que agora são recuperadas, pois foram fundamentais na
constituição da tradição espiritual do Cristianismo Antigo, sendo muitas delas mulheres
do Império e do deserto, ammas-madres-mães da Igreja, mulheres de sabedoria,
compromisso e de profunda ascese.
Seguindo a seção, são apresentados três artigos com enfoques específicos em diálogo
com a temática da mulher sob a abordagem bíblica. Refletindo sobre o protagonismo
feminino na Igreja e na Sagrada Escritura, com o artigo O discipulado de iguais na perícope
bíblica, pecadora do Evangelho de Lucas”, a autora Dorcelina Gomes nos apresenta o tema do
Discipulado de Iguais, partindo do texto de Lucas de 7,36-50, perícope sobre a pecadora
pública. O discipulado de iguais apresentado no artigo está presente no diálogo entre Jesus
e a ‘pecadora sem nome’, no encontro ocorrido na casa do fariseu que revela a comunidade
lucana em sua sensibilidade especial pelas mulheres, sobretudo as pobres e as desprezadas
pela sociedade. As mulheres ocupam o seu lugar nas comunidades fundadas por Jesus que
lhes voz e torna-as suas discípulas. Partindo do texto de João 4, a teóloga Ângela
Maringoli, com o artigo intitulado O Deus que age nas fronteiras sociais do humano: A
narrativa bíblica e as questões sobre gêneroapresentam a narrativa bíblica do encontro de
Jesus com a Samaritana, abordando questões cruciais sobre gênero, segregação,
preconceito racial e religioso. uma conexão apresentada entre ensinos de Jesus com a
realidade cultural da mulher, numa história da relação entre dois povos. A figura de Maria
Madalena no quarto Evangelho nos relatos pascais e a instituição da solenidade da festa
dessa grande apóstola são temas abordados no texto: Vi o Senhor! a dimensão feminina do
relato da primeira aparição de Jesus ressuscitado no Quarto Evangelho e um Papa que acolhe o
testemunho das mulheres”. As autoras Marcela Machado Viana Torres e Luísa de Lucas
apresentam o artigo refletindo sobre a “Apóstola dos Apóstolos” através da análise de
aspectos narrativos do texto, trazendo também um breve apanhado sobre o
desenvolvimento do tema do protagonismo feminino no Pontificado do Papa Francisco.
Os dois artigos que seguem tratam de temas referentes à mulher na Igreja Católica e
as implicações da sororidade e sinodalidade. Através do artigo “Mulheres, sociedade e a Igreja
Católica Apostólica Romana”, a doutora em teologia e especialista em educação, Maria
Cristina Furtado, defende em seu texto que a cultura patriarcal trouxe para a mulher, na
contemporaneidade, a herança de ser considerada inferior em termos intelectuais, e ter
apenas uma grande capacidade afetiva. O movimento feminista tem contribuído nesta luta
e o estudo da teologia pelas mulheres, levou-as a conhecerem o Deus libertador,
possibilitando, assim, novos desdobramentos e olhares teológicos para a mulher exercer
seu potencial e lugar na Igreja. Trazendo à tona o tema da Sinodalidade na ótica da Vida
Religiosa Feminina, a teóloga e religiosa Bárbara Bucker apresenta o seu artigo “Implicações
da sororidade na sinodalidade”, partindo da necessidade de redescobrir e valorizar a Igreja
como uma “casa inclusiva”, através da partilha e do reconhecimento mútuo. O caminho
sinodal propõe um retorno à autenticidade e simplicidade, na transformação das estruturas
autoritárias, clericalistas e patriarcais.
Partindo de sua experiência com a pessoa de Maria de Nazaré, a doutora em teologia
e missionária na Guatemala, Alzira Munhoz, nos abrilhanta com sua produção intitulada
Minha experiência com Maria de Nazaré”, fruto de seu trabalho com mulheres mais de
DE LUCAS, Luísa
Editorial
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.40, n.135, p. 4-6, Jul./Dez./2023. ISSN On-line: 2763-5201.
6
trinta anos. O artigo elaborado em primeira pessoa adentra uma marialogia feminista e
latino-americana e coloca Maria como uma mulher identificada com seu povo e
comprometida na luta pela justiça. Nossa Senhora é solidária com as mulheres e pessoas de
boa vontade na sua luta por criar uma nova ordem social.
Para concluir a edição desta revista, na seção demanda contínua, o nono artigo,
produzido pelo Pe. Aloísio Ruedell, apresenta um tema muito pertinente e discutido em
nossas comunidades, com o título O caráter pastoral da Carta Apostólica em forma de Motu
Proprio Mitis Iudex Dominus Iesus, sobre a reforma do processo canônico para as causas de
declaração de nulidade do matrimônio no Código de Direito Canônico: uma leitura conjunta com
Amoris Laetitia”. O texto apresenta a preocupação pastoral e a orientação do Papa
Francisco. Através de uma leitura conjunta dos dois documentos Amoris Laetitia e do MIDI,
que se complementam, o texto abordará o tema da família e suas dificuldades e como a
Igreja deve orientar e refletir esse assunto no seu cuidado pastoral.
Desejamos a todos(as) uma ótima leitura. Que esta edição da Revista Teopráxis
possa contribuir para avançar mais na reflexão, debate e abertura para o tema o
protagonismo feminino na Igreja e na sociedade, inspirados(as) pelo exemplo de grandes
mulheres bíblicas, líderes cristãs e tantas outras que inspiram nosso fazer e pensar
teológico-pastoral.
DE LUCAS, Luísa
Editorial
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.40, n.135, p. 4-6, Jul./Dez./2023. ISSN On-line: 2763-5201.