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MINHA EXPERIÊNCIA COM
MARIA DE NAZARÉ
MY EXPERIENCE WITH
MARY OF NAZARETH
Alzira Munhoz*
Resumo: Este artigo busca apresentar ressonâncias da minha experiência
com Maria de Nazaré, a partir da caminhada missionária que faz parte da
história de trinta anos de formação teológica que desenvolvo junto a
mulheres de diversas classes e etnias. A teologia mariana na qual me
fundamento perpassa uma perspectiva metodológica narrativa como forma
de teologizar a vida e o culto, partindo da Sagrada Escritura e de vivências.
Para aprofundar esse tema, parto do princípio da origem humilde de Maria
em Nazaré, Maria, como uma anawin de Israel, mulher pobre, integrante de
um povo que esperava pela vinda do Messias, comprometida com a justiça
e a salvação prenunciada, inspira todas as mulheres em todos os tempos a
ocuparem seu espaço na teologia e no ministério da Igreja.
Palavras-chave: Maria. Experiência. Mulheres. Basileia.
Abstract: This article searchs to present resonates with my experience
with Mary of Nazareth, based on the missionary journey that is part of the
thirty-year history of theological formation that developed with women
from dierent classes and ethnicities. The Marian theology on which I base
myself permeates a narrative methodological perspective as a way of
theologizing life and worship, starting from Sacred Scripture and
experiences. To explain this theme, it starts from the principle of Mary´s
humble origins in Nazareth. Mary, as an Anawin of Israel, a poor woman,
member of a people who waited for the coming of the Messiah, committed
to justice and the salvation foretold, inspires all women in all times to
occupy their space in the theology and ministry of the Church.
Keywords: Maria. Experience. Women. Basel.
v. 40, n. 135, Passo Fundo,
p. 77-87, Jul./Dez./2023,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:
dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v40i135.198
*
Possui mestrado e doutorado em Teologia
Sistemática; licenciatura em Filosofia,
graduação em Teologia e especialização em
Pastoral e Comunicação Social. Integrante da
Congregação das Irmãs Catequistas
Franciscanas, da Rede Brasileira de Teólogas e
do Núcleo Mujeres y Teología de Guatemala.
Atua como docente da Faculdade de Teologia
na Universidade Rafael Landívar; na Escola
de Teología Monseñor Gerardi, para Leigos;
no Diplomado em Teologia Feminista
promovido pelo Núcleo de Mujeres y
Teología de Guatemala, na Conferência de
Religiosas/os de Guatemala, no Curso de
Formação Bíblica para Leigas y Leigos da
Paróquia Nuestra Señora de los Ángeles.
Email: alziramunhoz2@gmail.com
https://orcid.org/0009-0003-8769-9191
Recebido em 02/08/2023
Aprovado em 27/10/2023
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INTRODUÇÃO
As reflexões que aqui compartilho antes de tudo expressam minha relação e
experiência com Maria, uma mulher admirável, que assumiu livremente participar do
projeto do Reino de Deus junto com seu povo
1
, e a ele se entregou total e
conscientemente. Como pobre e com os pobres, e sobretudo com as mulheres judias de sua
época, ela também sonhava e buscava o Reinado amoroso de Deus como um mundo
alternativo de justiça, paz e solidariedade
2
.
Revisitando o caminho que percorri com Maria, desde o que aprendi com minha
mãe, passando pelos cursos acadêmicos que recebi, enriquecidos com a marialogia
feminista e latino-americana, sinto que é uma trajetória muito interessante. São alguns
aspectos dessa experiência “com” Maria que quero aqui compartilhar, utilizando uma
metodologia mais narrativa que especulativa.
A narração é um método ou “um modo de estar na vida e compreendê-la, muito
semelhante ao princípio feminino”
(CENTRO PIGNATELLI-CHINI, 1988) muito
apreciado pelas mulheres, embora não seja utilizado exclusivamente por elas. As narrativas
mostram a vida com suas complexidades, conivências e insubordinações subjetivas e
coletivas, muito além da pura razão especulativa. A narrativa é uma forma de teologizar
sobre o processo quente da vida. A própria razão teológica crítica tem uma estrutura
narrativa (cf. METZ, 1973). O método narrativo tem a mesma legitimidade do
especulativo, o mesmo fundamento, porém mais próximo da realidade, mais orgânico e
temperado pelo húmus da vida (cf. BOFF, 1984, p.11).
Entendida como uma história do que acontece com as pessoas, o que elas sofrem, vivem
e desejam, a narração está muito presente na criação teológica das mulheres, permitindo uma
nova forma de compreender e interpretar a realidade. A metodologia narrativa permite
destacar as falas, ações e articulações das mulheres, em sua maioria ocultas pela narrativa
oficial (civil e eclesiástica) e pela reflexão teológica dominante. A teóloga Elisabeth Schüssler
Fiorenza afirma que uma primeira forma de roubar o poder de autonomeação das mulheres e,
por conseguinte, de sua autodeterminação, implica a perda da memória histórica
(cf.
FIORENZA, 1985). Mas, se o processo de dominação começa com o mau uso e a eliminação da
memória histórica, o processo de libertação, ao contrário, segue o caminho da resistência,
tentando reunir os fragmentos ou as brasas da memória subversiva que estão sob as cinzas da
opressão, com o intuito de reacender a esperança e nutrir práticas transformadoras. A partir
destas breves considerações introdutórias volto meu olhar para Maria.
1 MARIA DE NAZARÉ: UMA MULHER IDENTIFICADA COM O SEU POVO
Vejo Maria de Nazaré como uma mulher judia que emerge no primeiro século da era
cristã, provavelmente analfabeta como muitas outras do seu tempo; viveu em Nazaré, um
pequeno vilarejo da Galileia. Uma mulher simples, cuja foi delineada pelas promessas
das Escrituras Hebraicas. Sua espiritualidade foi forjada na vivência e na prática dos
deveres religiosos comuns do lar, como acender as velas do Sabbath, por exemplo.
1 Na Bíblia aparecem dois termos para significar a palavra Reino: o hebraico malkut e o grego basileia. Em português
correspondem a: reino, reinado e realeza. Reino teria uma conotação mais espacial indicando países governados por
monarquias. Reinado teria a ver com tempo. Realeza tem a ver com supremacia e domínio. No hebraico e no grego
não distinção entre esses conceitos. Na blia, o sentido do Reino de Deus vai se firmando como poder divino no
contexto de uma sociedade contrária ao projeto de Deus. Neste texto prefiro utilizar o termo basileia para referir-me
ao Reinado amoroso de Deus.
2
Jesus não apenas falou da Basileia, mas a tornou o centro de sua missão, mediante atitudes e ações que foram uma
constante manifestação de sua preferência pelos simples, pobres e excluídos. Anunciar a Basileia implica em trabalhar pela
libertação de todo tipo de mal, reconhecendo que o dinamismo divino transformador já está presente na história humana.
MUNHOZ, Alzira
Minha experiência com Maria de Nazaré
Revista Teopráxis,
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Em outras palavras, compreendo Maria como uma mulher atenta à Palavra das
Escrituras que escutava na sinagoga de Nazaré; que a assimilou e a manifestou em suas
atitudes, agindo sob seu impulso durante toda a sua vida. Ela não somente assumiu ser
mãe de Jesus e cuidar dele, mas também mantinha relações com o grupo das mulheres que
o seguiram e ficaram junto dele em suas horas mais difíceis, e também testemunharam sua
ressurreição, como atestam todos os evangelhos. Mesmo sem entender plenamente os
acontecimentos ela não abandonou seu filho em sua missão. Ainda que sejam poucas as
referências à sua pessoa, os escritos do Novo Testamento a configuram como uma mulher
de fé, consciente, decidida e corajosa, aglutinadora da comunidade cristã nascente, junto
com as discípulas da primeira geração crista (Cf. At 1,14).
Com suas amigas discípulas Maria não deixou o projeto de Jesus cair no vazio após
sua morte, justamente porque ele estava bem “gravado e guardado em seu coração”. A
comunidade lucana preservou esse detalhe fixando-o nas primeiras páginas do Evangelho,
onde Maria aparece junto à comunidade dos pobres que aguardavam a realização das
promessas divinas configuradas na Basileia, o reinado amoroso de Deus. Em Atos 1,14 ela é
apresentada, metaforicamente, esperando firme, em oração, a epifania e reviravolta do
Pentecostes, junto com a comunidade das discípulas e discípulos.
Portanto, é justo ver Maria como uma mulher que fez uma escolha livre e consciente
de participar da espera messiânica junto com seu povo, e não como um exemplo de
submissão passiva a uma vontade divina absoluta à qual ela tinha que aderir
inconscientemente. O escritor lucano captou essas características da vida de Maria e, no
Magnificat (1,46-55), coloca em sua boca não apenas um hino de louvor, mas também de
indignação e proclamação da visão subversiva e alternativa da Basileia, onde os primeiros
e poderosos seriam os últimos e os últimos e humildes, os primeiros
3
. Nesse sentido, a
pastora batista Odja Barros me chama a atenção quando contempla a voz ativa de Maria
no Magnificat, a forma
"como todo o seu corpo e seus sentidos estão envolvidos na ação divina. O
corpo de uma mulher pobre e oprimida torna-se o centro da experiência
reveladora e salvadora de Deus. Portanto, o Magnificat é de grande importância
para as mulheres para outros grupos oprimidos que sofrem opressão produzida
por sistemas e estruturas que geram e sustentam desigualdades e
injustiças” (BARROS, 2023).
É importante destacar que nesse cântico Maria é apresentada como uma mulher
israelita que diz “não” ao projeto dos poderosos, em atitude solidária com seu povo, como
suas antecessoras bíblicas que também proclamaram a ação misericordiosa de Deus em
favor dos pobres: Miriam, a irmã de Moisés (Ex 15,21); Débora, a profetisa (Jz 5,12); Ana, a
mãe de Samuel (1Sam 2,1), e Isabel (Lc1,39-45) uma anciã que necessita de apoio numa
gravidez de risco, como a própria Maria, que também enfrenta a difícil situação de gerar
um filho em condições não comuns. Mais à frente Lucas apresenta uma viúva anciã, Ana,
nomeada como profetisa (Lc 2,36-38), que também aguardava firmemente a plenitude da
esperança messiânica.
Maria está situada junto dos pobres e humilhados porque sente que Deus não apoia
o projeto dos poderosos que os explora e oprime, mas assume a defesa dos humilhados e
indefesos (Lc 1,52). Ela é uma anunciadora da esperança porque seu útero carrega a
esperança messiânica dos "anawim" de ontem e de hoje que permanecem crendo e
anunciando o Deus que lhe revelou. Ela acredita firmemente que os famintos do seu povo
3
O tema da Basileia é tratado amplamente por diversos autores. Aprecio muito a abordagem de Elisabeth Schüssler
Fiorenza principalmente em sua obra: As origens cristãs a partir da mulher: uma nova hermenêutica. São Paulo: Paulinas,
1992, p.134-166. As reflexões dessa autora muito me iluminaram na reflexão sobre Maria no contexto da Basileia.
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não serão abandonados de mãos vazias (Lc 1,53); por isso, luta e espera com um mundo
expressado nas promessas da Basileia de Deus. Essa composição do Magnificat nos ajuda a
vê-la ligada a uma tradição judaica de justiça e profecia. A espada que Simeão prevê
atravessar seu coração ainda atravessa os corações de muitas mães cujos filhos perecem sob
a tirania dos poderosos de hoje.
“Quantas pessoas se sentem desprezadas, desanimadas e desesperadas diante da
realidade de injustiça sem poder vislumbrar horizontes e futuros. Na
experiência de Maria de Nazaré e na profecia por ela cantada, somos chamados
a fortalecer o nosso espírito e a renovar a nossa e esperança no Deus de
Maria de Nazaré, o Deus que age pelos "anawim", os pobres de Deus no
mundo” (BARROS, 2023).
Em sua condição de mãe Maria tentou compreender muitas coisas humanamente
“impossíveis”, como também determinadas escolhas de seu filho. Ela “guardava tudo em
seu coração”, observa o evangelho lucano. E não obstante seja apresentada nos bastidores,
podemos imaginá-la inserida na comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus após a
Páscoa. A identidade de discípula e profetisa a situa na comunhão das seguidoras e
seguidores de Jesus, no âmago da tradição eclesial. Não é por acaso que a devoção popular
mariana é rica em orações, ladainhas e outras invocações que mostram uma Maria
solidária com pessoas e grupos humanos abandonados e explorados por sistemas
dominantes; isto acontece em todos os países latino-americanos e em outras partes do
mundo, como mostra o significativo canto de José Freitas Campos, cantado com tanta
pelas Comunidades Eclesiais de Base:
“Mãe dos oprimidos, dos perseguidos, dos desvalidos, rogai por nós! Mãe dos
despejados, dos abandonados, dos desempregados, rogai por nós! Mãe dos
pescadores, dos agricultores, santos e doutores, rogai por nós! Mãe dos boias-
frias, causa da alegria, mãe das mães, Maria, rogai por nós! Mãe dos
humilhados, dos martirizados, marginalizados, rogai por nós! Mãe do céu,
clemente, mãe dos doentes, do menor carente, rogai por nós! Mãe dos
operários, dos presidiários, dos sem-salário, rogai por nós!”
Realmente, em Maria muitas pessoas pobres e sofredoras, principalmente mulheres,
de todos os tempos se encontram. Para Maria elas acorrem com fé, confiança e esperança.
Por conseguinte, a devoção e o culto a Maria não podem ser desvinculados desses
clamores. Ela é a inspiração para as discipulas e discípulos na Igreja missionária que deseja
ser a serva dos pobres, como tem insistido muitas vezes o Papa Francisco. De fato, nas
narrações das aparições ela é identificada com os interesses dos pequenos e oprimidos e a
sua própria experiência de fé está ancorada num Deus que está do lado deles.
2 MARIA DE NAZARÉ: UMA ANAWIN COMPROMETIDA COM A JUSTIÇA SOCIAL
Similaridades entre a vida de Maria e a vida dos pobres, denominados coletivamente
como anawin, são uma importante referência de espiritualidade mariana, sobretudo para
as mulheres que vivem em situação de pobreza. Para elas, assim como para mim, Maria
não é uma rainha do céu, mas uma mulher da terra, que compartilha das nossas vidas
como irmã, mãe, inspiradora e companheira solidária.
Como Maria, muitas mulheres parem seus filhos em situações muito precárias ou
mesmo desabrigadas; muitas são forçadas a fugir de seu bairro, de sua cidade ou de sua
terra-natal, como migrantes ou refugiadas, com seus filhos e filhas. Inúmeras perdem seus
filhos e filhas para as guerras, a prostituição, o tráfico de pessoas, as drogas, o trabalho
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escravo e muitas outras formas de dominação e opressão. uma certa empatia e
identificação dessas mulheres com Maria. Dessa convergência nascem espiritualidades e
devoções marianas, biblicamente bem fundamentadas, comprometidas com o serviço às
pessoas em situação de vulnerabilidade, na presença ético-solidária e no cuidado da vida
em todas as suas expressões, diferentemente de algumas devoções marianas alienantes e
desconectadas da realidade.
Maria também é apresentada em solidariedade com as mulheres na sua luta por criar
uma nova ordem social, como muito bem expressa o Magnificat, que é uma síntese da
visão alternativa da Basileia, tão sonhada e esperada, como vimos acima, pelos anawin de
Israel. Assim, a tradição judaica da Basileia, entendida como uma visão de justiça, de
dignidade humana, e de salvação para todas as pessoas, em um mundo regido pelos
poderes da dominação, opressão e desumanização, permite-nos identificar Maria como
uma anawin que não se resignou, justamente porque estava comprometida com a
transformação da sociedade em que vivia.
3 MARIA DE NAZARÉ: UMA MULHER QUE ESPERA E FAZ A BASILEIA ACONTECER
A cosmovisão político-religiosa da Basileia como o império do bem-comum, diferente
dos impérios dominadores daquela época, foi realmente determinante e inclusiva para
Jesus e seus discípulos e discípulas, portanto também para sua e. A maior mudança
introduzida pela visão messiânica da Basileia ocorreu principalmente pela “comunhão de
mesa” entre pobres, gentios, pecadores, mulheres e judeus-cristãos; e teve especial impacto
e adesão entre as mulheres, que se sentiram incluídas e perceberam que na Basileia
inaugurada por Jesus elas podiam ocupar um lugar central e serem respeitadas em sua
dignidade, como pessoas e como mulheres (cf. FIORENZA, 1992, p. 134-186).
O movimento de Jesus experimentou um Deus de benevolência e inclusivo, que
aceitava a todos, sem exceção, suscitando justiça e bem-estar para todas as pessoas, como
Maria proclama no Magnificat. Os seguidores e seguidoras de Jesus entenderam que
deviam tornar presente o Reinado amoroso de Deus como acontecimento salvífico coletivo
inclusivo, conforme os princípios e critérios da Basileia, curando, libertando de todo tipo
de opressão, animando e reunindo todas as pessoas para participar alegremente da mesa da
vida. A presença e atuação de Maria no casamento em Caná, memória da comunidade
joanina em Jo 2,1-12, situa-se nessa perspectiva. Nesse texto a figura de Maria não é a de
uma mulher que aceita cumprir passivamente uma vontade divina absoluta; ao contrário,
ela é apresentada intervindo diretamente e por iniciativa própria, na concretização festiva
da Basileia de Deus, que irrompe de formas inusitadas na história dos pequenos através do
poder criativo da Ruah Divina, com a qual Maria mantinha profunda intimidade e
diálogo, como Lucas mostra na cena da anunciação.
Portanto, é surpreendente a espiritualidade mariana que brota a partir da
contextualização bíblica da Basileia. Nela Maria é vista no seu devido lugar, não apenas
como mãe, mas também como uma profetisa, mulher de e coragem, que não tem medo
de se expor porque sabe que Deus, por meio dela, faz “grandes coisas” (Lc 1,39-56). Ela
sabe reconhecer os sinais de Deus atuando na história do seu povo para libertá-lo. A
memória da luta de muitas mulheres, suas antecessoras, pela libertação do seu povo está
bem viva no seu coração. Por isso, ela cultiva uma espiritualidade atenta aos seus
clamores e não desanima diante da violência e opressão dos poderosos; é uma
espiritualidade que restabelece a força dos fracos e afirma a coragem de quem luta na
defesa da vida dos pobres.
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Assim é, também hoje, a espiritualidade das mulheres e de todas as pessoas que se
colocam a serviço do povo oprimido: uma espiritualidade que desafia as forças opressoras
e dominadoras porque sabe que o seu Deus não abandona seus filhos e filhas, e quer uma
“vida com abundância para todas as pessoas” (Jo 10,10). Cabe a nós, como servidoras e
servidores do Reinado amoroso de Deus, potencializar a ação de Maria entre os
“pequeninos”, amados de Jesus e causa da sua missão.
Outro aspecto que considero importante é que a pessoa de Maria, como vimos acima,
une e potencializa todas as pessoas que a ela recorrem, sobretudo as mulheres, tornando-as
persistentes e corajosas, capazes de enfrentar e superar obstáculos. A devoção mariana,
nessa perspectiva, adquire uma dimensão profético-libertadora, que é uma
espiritualidade histórica, capaz de ler os sinais de Deus na história pessoal e coletiva, e atuar
na realidade de hoje em consonância com os princípios e critérios da Basileia de Deus.
Desde esta perspectiva, uma “Igreja em saída”, como propõe o Papa Francisco, não
pode assumir e/ou alimentar nenhuma prática devocional mariana que retire Maria do seu
contexto antropológico, sócio-histórico, político e religioso. Os anawim, ainda hoje, têm o
sagrado direito de se aproximar de Maria a partir de sua real situação, ou seja, de seus
sofrimentos e suas esperanças, e de se identificar com ela em sua fé, sua força, sua coragem
e persistência, seu serviço solidário e sua entrega ao projeto libertador de Javé, tão bem
expresso no Magnificat, constituído de justiça, paz e solidariedade universal. que se
questionar, portanto, muitas devoções marianas que não têm essa dimensão bíblico-
missionária libertadora e não conduzem à transformação da realidade das pessoas pobres e
sofredoras, as amadas e preferidas de Jesus e de Maria.
4 MARIA E OS PROJETOS DE SORORIDADE ENTRE MUL HERES
A Igreja Católica tem grande apreço pela pessoa de Maria e, por isso, incentiva e
orienta, através de documentos e pronunciamentos, o culto mariano. Mas, as práticas
devocionais criadas e propagadas por muitos clérigos e leigos não condizem com a
orientação dos documentos. Em muitas paróquias, grupos e movimentos eclesiais um
devocionismo mariano ingênuo e fanático, que não educa nem conduz a uma mariana
adulta, comprometida e libertadora.
É comum, na tradição cristã, apresentar Maria como mulher, virgem e mãe. Esses
atributos ou identificações de sua pessoa parecem ser indiscutíveis, sobretudo na tradição
dos antigos Padres da Igreja. É a partir dessa tríplice condição identitária que os fiéis se
achegam a ela, dobram os joelhos, cantam, pedem, choram, fazem promessas e
peregrinações, a proclamam e coroam rainha do céu, mudam periodicamente suas roupas
demonstrando-lhe respeito, cuidado e reverência. Diante da imagem de Maria, todos se
transformam em crianças ou mendigos, como se ela fosse o último recurso para sair de
uma situação extrema, sem perspectivas. As relações com ela nunca o rompidas, mesmo
que os fiéis não tenham seus pedidos satisfeitos. O desejo de superar a orfandade e o
abandono, em suas diferentes formas, está sempre presente nessa relação.
Além dessas identificações de Maria, a nós, mulheres, nos apresentam a figura de
uma Maria humilde, silenciosa, serva, que nada questiona e sempre diz "sim" a todos. Uma
Maria "puríssima”, que nunca passou pelas dificuldades que a maioria das mulheres têm
que enfrentar em sua vida sexual e em suas relações conjugais. Essa figura idealizada e
estereotipada de Maria não nos faz bem. A história e a espiritualidade das mulheres estão
repletas de experiências de auto culpabilização que leva a um distanciamento da Maria
histórica, que passou pelas mesmas dificuldades das mulheres de seu tempo. Por isso, quero
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concluir este texto apresentando Maria desde outra perspectiva. Uma Maria necessitada da
sororidade de outras mulheres, identificada por Lucas na pessoa de Isabel e de outras
mulheres como vemos a seguir:
“...Fique sabendo que a sua parenta Isabel está grávida, mesmo sendo tão idosa.
Diziam que ela não podia ter filhos, no entanto agora ela já está no sexto mês de
gravidez. Porque para Deus nada é impossível” (...) “Alguns dias depois, Maria
se levantou e, às pressas, se pôs a caminho de uma cidade da região montanhosa
da Judéia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel
ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu útero. Então, cheia do
poder do Espírito, Isabel proclamou bem alto: - Você é abençoada entre todas as
mulheres, e a criança que você vai ter é abençoada também! Quem sou eu para
que a mãe do meu Senhor venha me visitar?! Quando você me cumprimentou,
a criança ficou alegre e se agitou no meu útero. Você é abençoada, pois acredita
que vai acontecer o que o Senhor lhe disse”. (Lc 1,36-37; 39-45 - Bíblia na
Linguagem de Hoje).
Não vamos refletir aqui sobre a questão amplamente discutida a respeito da
historicidade dos fatos mencionados neste texto. Sabemos que os evangelhos são
narrativas de alento espiritual, iluminação da e sustento para a vivência das primeiras
comunidades cristãs, assim como para nós hoje. Portanto, são narrativas que apontam para
realidades teológicas, muito mais que para os fatos descritos.
O texto acima retrata com singeleza e vigor o dinamismo de duas mulheres, uma
adolescente e a outra idosa, buscando, reciprocamente, a confirmação e o fortalecimento
de seu ser mulher, seu poder, sua autoridade e autonomia. Elas não necessitam de
nenhuma permissão ou confirmação de homens para se afirmarem e se proclamarem
particularmente agraciadas pela força da Ruah Divina. Ao contrário, buscam e encontram
em si mesmas e uma na outra as razões da própria fé e esperança.
O encontro ocorre na casa do sacerdote Zacarias, mencionado um pouco antes; mas
nesta cena não nenhuma presença ou ação masculina, nem mesmo do anjo Gabriel,
interlocutor importante nas cenas dos dois primeiros capítulos do evangelho lucano. A
solidariedade entre a jovem e a idosa é apresentada com ênfase. A alegria de ambas é
contagiante. A liberdade e espontaneidade está presente em cada palavra do texto. Cada
uma está vivendo uma situação muito especial como mulher, no contexto de uma
sociedade patriarcal que estimula a inimizade e a competição entre as mulheres. Isabel, em
idade bastante avançada, vivencia uma gravidez inesperada e complexa. Maria, por sua
vez, experimenta as primeiras sensações de uma maternidade juvenil, sob a mira dos
guardiães da lei e da religião, que prescreviam castigos especiais para mulheres que não se
enquadravam no padrão sociocultural e religioso da época.
Embora em idades e condições sociais e religiosas bem distintas ambas vivem, pela
primeira vez, a experiência da maternidade, desafiando as regras estabelecidas pelo sistema
sociorreligioso vigente. As duas são apresentadas cheias de poder, “grávidas” da dynamis da
Ruah, demarcando um novo tempo messiânico de libertação para o seu povo, a exemplo
de diversas mulheres do Primeiro Testamento, como Jael (Jz 5,24) e Judite (Jd 13,18).
É evidente entre Isabel e Maria uma peculiar sintonia, um tipo sororidade e
cumplicidade que contrasta com a cultura androcêntrica patriarcal, a qual concebe as
mulheres como competidoras e inimigas potenciais, e as estimula a assumirem esse
estereótipo. Estas duas mulheres, ao contrário, entrelaçam seu coração e seus corpos num
abraço cheio de ternura, cumplicidade e contemplação recíproca do mistério que as
envolve e pulsa forte em seus ventres. O útero estéril da mulher idosa agora estremece com
a vida que nele se desenvolve pela ação da Ruah Divina. E o útero fértil da jovem, ainda
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inexperiente, também vibra em sintonia com a anciã plena de sabedoria. Ambas abençoam
uma à outra e profetizam. Uma profecia que provoca, denuncia e sacode as bases do
patriarcado, que designava para mulheres em tais situações uma sorte bem diferente.
É impressionante como o texto ressalta a coragem destas duas mulheres. “Maria se
levantou e, às pressas, se s a caminho...” (v.39). Quem se levanta é sujeito de ações e,
portanto, de autonomia. Quem toma a palavra e rompe com a obscuridade histórica
imposta às mulheres, mina as bases do sistema patriarcal dominador e opressor. São
mulheres conscientes e audaciosas, que se unem e se apoiam sororalmente; por isso, são
capazes de gerar processos inusitados de transformação.
Por sua vez, Isabel também aparece no texto como uma mulher forte e sábia, que
acolhe uma adolescente grávida. Justamente por estar vivenciando uma gravidez
excepcional, é capaz de compreender, se solidarizar e acolher uma jovem assustada, que
vivencia pela primeira vez uma gravidez inesperada, exatamente no período entre o
noivado e a consumação do casamento. Em sua idade avançada Isabel sabe, por experiência
própria, o que significa ser estigmatizada e marginalizada por estar fora do “padrão”
sociorreligioso designado para as mulheres de sua época. Certamente para Maria foi muito
importante esse apoio de outra mulher mais madura e experiente num momento tão
difícil, assim como o é para tantas adolescentes de hoje que passam por situações não
menos preocupantes.
Antes de começar escrever este texto perguntei a um grupo de mulheres de uma
comunidade urbana qual teria sido sua atitude se cada uma tivesse uma filha adolescente
que, inesperadamente, fosse engravidada por algum atrevido. Os comentários foram bem
diversificados, mas todas foram unânimes em dizer que fariam “o possível e o impossível”
para proteger a garota de olhares maldosos e de comentários e atitudes discriminatórias,
tanto da família como da comunidade. Duas narraram experiências de estupro na própria
família, e de como tiveram que levar a adolescente para a casa de outros parentes da área
rural, a fim de protegê-la e ajudá-la a atravessar aquela fase difícil com segurança e
serenidade, longe das “más línguas”.
Outras contaram que o próprio grupo havia acompanhado uma adolescente grávida,
expulsada de sua família, que buscava apoio e orientação para fazer o acompanhamento
pré-natal, que a mesma adolescente não sabia muito bem no que implicava. Foi importante
para a jovem, mas também para elas, individualmente e como grupo, acolher e
acompanhar aquela jovem e, compartilhando com ela seus próprios conhecimentos e
experiências de gravidez, amamentação e cuidados com suas crianças, assim como os
cuidados que a garota devia ter para não engravidar novamente. Todas ressaltaram a
importância da entreajuda, da solidariedade, do toque, da massagem e de outros cuidados
que elas dispensaram àquela jovem mãe, de forma que todas se assumiram como
“cuidadoras” dela e “madrinhas’ do bebê.
Enquanto eu ouvia essas narrativas pensava em muitas adolescentes que passam por
experiências semelhantes tendo que abandonar os estudos e a vida familiar para se
proteger, em casas de parentes ou amigas, de violências sexuais. As pesquisas ao redor do
mundo mostram que o número de adolescentes engravidadas está aumentando a cada ano,
sobretudo em áreas de imigração e de conflito armado entre muitos países, mas também
em lugares onde não há políticas públicas para mulheres.
Aqui em Guatemala, onde estou vivendo atualmente, cerca de quatro mil
adolescentes, entre dez a catorze anos, são engravidadas e dão à luz a cada ano, sendo que
um grande número dessas gravidezes é resultado de incesto. Em 2017, exatamente no dia 8
de março, Dia Internacional de Lutas das Mulheres, quarenta e uma adolescentes de um
MUNHOZ, Alzira
Minha experiência com Maria de Nazaré
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.40, n.135, p. 77-87, Jul./Dez./2023. ISSN On-line: 2763-5201.
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presídio da capital de Guatemala, se rebelaram exigindo direitos e justiça, e todas
morreram queimadas. As autoridades nada fizeram para evitar ou conter a tragédia. As
cruzes com o nome de cada uma foram fincadas na praça da catedral e do palácio do
governo, clamando por justiça e dignidade. A última pandemia que abalou o mundo
revelou a cara oculta e cruel da violência sexual doméstica que afeta meninas e
adolescentes em nossa região, totalmente desprotegidas por políticas blicas que
simplesmente não existem.
Nesse contexto, o encontro entre Isabel e Maria ilumina e mostra como é
importante a luta por políticas públicas e o cultivo da sororidade entre as mulheres. Não
importa a idade. É através de visitas, da partilha de experiências e de conhecimentos, do
apoio recíproco, da organização, que se pode criar um mundo diferente, onde as mulheres
podem cuidar umas das outras e desenvolver suas potencialidades em favor de si mesmas e
do bem comum. Esta espiritualidade sororal pode ser construída passo a passo, na
cotidianidade. Maria e Isabel, ao se encontrarem, não se limitaram a expressões recíprocas
de afeto e reconhecimento da ação divina em suas vidas, mas a partir do “amor a si
mesmas” e da sororidade, celebram a ação divina em favor de todas as pessoas pobres e
humilhadas da história. Elas estão conscientes de que seus ventres carregam uma história
futura plena da esperança messiânica. O “novo” que cada uma leva em si é semente de
libertação e fonte de alegria e dinamismo para todas as pessoas que acreditam e atuam para
criar uma ordem social diferente, onde todas as pessoas possam desfrutar a vida com
justiça e dignidade.
FINALIZANDO
A contemplação de Maria, como expressa este texto, une e empodera todas as
pessoas que a ela recorrem, especialmente as mulheres, tornando-as persistentes e
corajosas, capazes de enfrentar e superar os obstáculos que a vida apresenta. A devoção
mariana, nessa perspectiva, adquire uma dimensão profética, política e libertadora, a partir
de uma espiritualidade histórica, capaz de ler os sinais de Deus não apenas na história
pessoal, mas, também na história coletiva, e de agir na realidade atual de acordo com os
princípios da Basileia, o Reinado amoroso de Deus.
A Igreja não pode assumir ou nutrir qualquer prática devocional mariana que afaste
Maria de seu contexto sócio-histórico, político e religioso. Os mais pobres (os Anawim),
ainda hoje, têm o sagrado direito de se aproximar de Maria a partir da sua situação real, e
de se identificar com ela pela sua fé, sua força, sua persistência, seu serviço solidário e sua
dedicação ao projeto libertador da Basileia, constituída de justiça, paz, abundância e
solidariedade. Especialmente no contexto do continente latino-americano e caribenho,
Maria brilha como exemplo vivo de adesão ao projeto de Jesus, que nos convida a “sair” ao
encontro das pessoas mais sofridas na realidade em que vivemos. Não é por acaso que
neste continente ela é invocada como “Estrela da Evangelização”.
MUNHOZ, Alzira
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CONVERSANDO COM MARÍA
Maria, mãe, irmã, companheira e inspiradora
Permita-nos contemplar teu coração vibrante, pleno da
dynamis divina, que te impulsionou ao encontro de Isabel.
Mulher profética, coração em sintonia com Deus
e atento aos clamores do teu povo, ajuda-nos, com
teu cântico de libertação profética, a estar em
sintonia profunda com os clamores, os sonhos
e lutas dos povos de hoje que clamam
por justiça e direitos.
Mulher peregrina na fé, teus pés empoeirados acompanharam
teu coração missionário pelos caminhos do teu povo,
Ajude-nos a seguir teu exemplo de fé, coragem e profecia
sendo uma presença que acolhe e cuida da
vida ameaçada e desprotegida.
Maria de coração compassivo e aberto à realidade machucada,
abre nossos corações para que sejamos uma presença
de esperança e solidariedade.
Como nas bodas em Caná, nós também queremos estar a serviço da vida
com atenção e criatividade compartilhando alegria, semeando
esperança e construindo a irmandade universal.
Maria, mulher solidária, estreita entre as mulheres os laços de sororidade.
Que continuemos criando espaços de participação em nossas comunidades.
Te pedimos que renoves a esperança do teu povo
com o "vinho novo" da libertação.
Assim esperamos e que assim seja!
REFERÊNCIAS BIBLI OGRÁFICAS
BARROS, Odja. O Magnificat é a resposta de Mária ao anúncio de Isabel. Reflexão sobre Lucas 1,39-
56. Disponível em: https://cebi.org.br/reflexao-do-evangelho/comentario-do-evangelho/
#:~:text=O%20Magnificat%20%C3%A9%20a%20resposta,humildes%20e%20espoliados%20da%20t
erra. Acesso em: 20 de agosto de 2023.
BOFF, Clodovis. Teologia pé-no-chão. Petrópolis: Vozes, 1984.
CENTRO PIGNATELLI-CHINI. Teologia Narrativa, un modo de hacer Teología Feminista, Zaragoza,
noviembre 1998. Disponível em: https://www.google.com/url?
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Uxc7tAhUCCKwKHciKDd4QFjABegQIAhAC&url=http%3A%2F%2Fccparagon.pangea.org%2Fte
ologia%2Farchivosteologia%2Fteologianarrativa.htm&usg=AOvVaw1SbQ3czK-RD9W cAoz-
DzrF. Acesso: 14 de agosto de 2023.
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FIORENZA, Elisabeth Schüssler. As origens cristãs a partir da mulher: uma nova hermenêutica. Trad.
João Rezende Costa. São Paulo: Paulinas, 1992.
FIORENZA, Elisabeth Schüssler. Quebrando o silêncio: a mulher se torna visível. Concilium,
Petrópolis, n.202, p.8 (618)-23(633), 1985/6.
JOHNSON, Elizabeth A. Nossa verdadeira irmã: Teologia de Maria na comunhão dos santos. Trad.
Barbara Theoto Lambert. São Paulo: Loyola, 2006.
METZ, Johann Baptista. Pequena apologia da narração, Concilium, Petrópolis, v.85, n.2, p.580-592,
1973.
SEBASTIANE, Lilia. Maria e Isabel. Ícone da solidariedade. Trad. Tomás Belli. São Paulo: Paulinas,
1998.
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