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conterrâneos sobre a presença do Messias entre eles os samaritanos, Jesus aproveita para
entabular uma conversa com ensino com os discípulos, que não estavam entendendo o que
se passara ali e menos ainda do porquê o mestre, um judeu se dirigira a uma mulher
samaritana em assunto e prosa.
2 DIREITOS LEGAIS DA MULHER NO MUNDO ANTIGO
Na época patriarcal, o costume do casamento era monogâmico e o homem possuía
somente uma mulher igual como foi no início, no relato da criação onde os casamentos
eram monogâmicos (Gn 2,21-24). Abraão possuía apenas uma mulher. Nos escritos
históricos, encontram-se as mulheres, principalmente no papel de mãe, que ensinavam e
nutriam o continuar da história do povo e mesmos as que assumiam o papel de esposa e
ajudante de seu marido. Os patriarcas seguiam os mesmos costumes do oriente e dos seus
ambientes em relação ao casamento. Era na Palestina da Idade Média do Bronze, e não a
Palestina do Império Egípcio.
A situação dos direitos legais da mulher israelita era então diferente da mulher
escrava. Um homem poderia vender sua escrava ou até sua filha legítima (Ex 21,7), mas
não poderia vender a sua esposa, ou nem mesmo aquela esposa que houvesse sido cativa de
guerra (Dt 21,14). O marido podia repudiar sua esposa, mas o documento e repúdio a
protegiam e lhe restituíam a liberdade. O provável é que depois do repúdio, a mulher
recebesse apenas o usufruto do marido, mas também uma parte do mohar que veio com
ela, por meio de seus pais (Jz 15,19; Jz 1,15). (MARINGOLI, 2014 p.98).
A estima dos parentes pela mulher sempre era maior quando a mesma gerava filhos
o que gerava herdeiros para a posteridade (Gn 16,4; 29,31; 30,24); se fosse menino, o
respeito de seu marido aumentava, pois o menino tinha o direito da herança da terra e de
preservar a família pela progenitora. A lei condenava tanto o homem como a mulher, pela
falta de filhos (Ex 21,17; Lv 20, 9; Dt 21, 18-21) e o decálogo insiste no respeito aos pais (Ex
20,12), essa orientação é repassada nos escritos dos livros sapienciais, como os de
Provérbio. No código de Hamurabi (1700 a.C.), marido não poderia tomar uma segunda
mulher a não ser em caso de esterilidade da primeira.
A mulher estéril era quem arrumava uma concubina escrava para o seu marido. A
esposa titular era única e só ela possuía o direito de esposa. Segundo Ana M. Tepedino, as
mulheres fazem com que as histórias aconteçam tanto no presente quanto no passado ou
em qualquer lugar que estejam. No Oriente, em geral, segundo a autora, havia uma
mentalidade bastante preconceituosa em relação à mulher, e em muitos textos bíblicos,
muitas vezes, nem o nome do personagem feminino é citado. (MARINGOLI, 2014, p.98).
Em outras situações, como no caso da mulher samaritana o nome da pessoa não é
mencionado explicitamente, por se encontrar inserido no coletivo, iguais aos das citações:
“povo”, “multidão”, “discípulos” e outros. Ivoni Richter Reimer [...]comenta em uma de
suas palestras que existem maneiras de se fazer a história se calar e uma delas é mencionar
alguém rapidamente e se centrar então em pessoas e acontecimentos aparentemente mais
importantes. (REIMER, 2008)
1
. Para encobrir a história verdadeira será através da
interpretação da história tradicional.
A história interpretativa de um texto pode silenciar ou deixar de perguntar por
algum elemento pertencente a ela. Nesse sentido, essa herança acaba legitimando na
história o poderio do homem sobre a mulher. A teologia feminista tem uma leitura
1 Reimer Ivoni Richter, Tema: Jesus e a tradição das transgressoras, II Congresso Internacional de Estudos Bíblicos,
PUC, São Paulo, 2008.
MARINGOLI, Ângela
O Deus que age nas fronteiras sociais do humano: a narrativa bíblica e as questões sobre gênero
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.40, n.135, p. 42-50, Jul./Dez./2023. ISSN On-line: 2763-5201.