A tarefa da Teologia é refletir a Revelação de Deus em diálogo com os diferentes contextos nos quais as pessoas, destinatárias da revelação divina estão inseridas. Nesse sentido a reflexão teológica parte da escuta de Deus e também da escuta do ser humano que acolhe a revelação de Deus. Estas são as fontes do fazer teológico. Neste percurso compreendemos que a Sagrada Escritura apresenta para a reflexão teológica uma fonte preciosa e inesgotável porque a humanidade sabe de Deus somente aquilo que Ele decidiu revelar a nós por meio de sua Palavra viva no mundo, a saber, a Bíblia. As Escrituras se apresentam assim, como uma abertura da revelação do Deus vivo à humanidade. Nela vemos registrados os encontros do Deus completamente transcendente se fazendo imanente na história da humanidade. Todos estes registros chegam a nós hoje por meio das Escrituras Sagradas, e é nestes testemunhos que a vida e a teologia cristã se apoiam.
A voz do viva do Espírito Santo ecoa no seio de nossa realidade histórica concreta e em toda a totalidade de nosso ser por meio da Bíblia, como afirma o apóstolo Paulo (Rm. 8.16) ‘‘o Espírito mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus’’, é no encontro do Espírito Santo com nosso espírito que a Palavra de Deus transforma nosso ser, e em nós é testificado que pertencemos ao Deus Pai como sendo filhos alcançados pelo sacrifício salvífico de Jesus o Cristo. A Bíblia como Palavra viva de Deus é inspirada pelo Espírito Santo, por isso as Escrituras Sagradas são geradoras de vida em meio à historicidade humana.
Todavia, junto com a fonte bíblica, a Teologia se funda nos contextos com os quais dialoga na explicitação da revelação divina que constituem o seu fazer teológico. Todo o ato teológico deve primeiramente prestar contas a Deus. Em um segundo momento deve prestar contas ao ser humano ao qual explicita a revelação divina. Este é o recorte especial da reflexão teológica. Este ser humano é situado em uma história e em um contexto de vida. O texto que segue apresenta como interlocutores da reflexão teológica os negros e negras em seus contextos de vida e sua trajetória histórica, por isso a referência Teologia Negra.
Cabe afirmar que a Teologia negra é uma teologia política contextualizada na história. O encontro do povo negro com Deus acontece na arena da história marcada por contradições e por situações contrárias à vontade dos homens e mulheres e negros e contrárias a vontade de Deus e por isso, a ação para a superação dessa realidade. Ela envolve juízos éticos e decisões que têm que ver com a libertação do racismo, da pobreza, da dominação cultural e política e da exploração econômica. O povo negro vê a mão de Deus, não somente na salvação pessoal, mas na libertação social e política. É um ato de fé.
A busca pela libertação dos negros é lida como um processo que parte da fé em Deus libertador. Ele não tolera a exploração de um ser sobre o outro, ferindo dignidade de quem foi criado a sua imagem e semelhança. A Teologia Negra busca interpretar a luta contra a desumanidade, a exploração e a opressão, pecado aos olhos de Deus, como a ação libertadora necessária na qual os agentes negros desempenharam um papel principal. Nesta missão são seguidores da obra de Jesus Cristo, inspirados na força do Espírito Santo. De forma profética ajudam a Igreja a ser fiel ao seu compromisso evangelizador, ou seja, anunciadora a boa-nova.
No passado havia o desafio da diáspora causada pela escravidão. Hoje os desafios são outros e mais complexos frutos de séculos de desconsideração dos valores da cultura do povo negro. Este é o “chão” da reflexão teológica. A realidade que interpela o pensar teologia. Para ser fiel ao Deus da vida que se revela dialogante com todos os povos e culturas, a teologia necessita ter como interlocutores privilegiados os negros e negras que teimam em viver e expressar a sua fé em Deus a partir da sua cultura e da sua história.
Pe. Ari Antonio dos Reis
Prof essor da Itepa Faculdades
Jacques Saint Louis Pierre
Acadêmico da Itepa Faculdades
Fotos: Arquivo Itepa Faculdades