Através da Dei Verbum, o Concílio Vaticano II resgatou a Sagrada Escritura e lhe deu centralidade na vida da Igreja. A Palavra de Deus passou a ser compreendida como “fonte de toda a verdade”, “espelho no qual a Igreja, peregrina na terra, contempla Deus” (n.7). Ela constitui-se no “fundamento perene” da vida e missão da Igreja (n.24), “alimento da alma, fonte pura e perene da vida espiritual” (n.21). Por isso, seu “estudo”, diz o Concílio, “deve ser como que a alma da Sagrada Teologia” (n.24). Assim, toda “a pregação […] seja alimentada e dirigida pela Sagrada Escritura” (n.21). Com essa compreensão, ela possui um espaço único e próprio, ou seja, que não pode ser substituído. Nos textos bíblicos encontramos diversos elementos relevantes na vida das pessoas: alegrias, tristezas, conflitos, súplicas a Deus entre outros. Por abordar diversos temas que fizeram e ainda fazem parte da caminhada do Povo de Deus, é que surge a grande riqueza da Palavra: ser fonte de inspiração. Por Ela, Deus nos transmite sua mensagem e nos convida a viver em comunidade.
A Igreja declarou por meio da constituição Dei Verbum do concílio Vaticano II que: “Deus, invisível, revela-se por causa do seu muito amor, falando aos homens como a amigos e conversando com eles para convidá-los a estarem com ele no seu convívio” (n.2). Deus busca manter com seus filhos uma relação de proximidade. Pensemos em uma criança no colo do seu pai enquanto este lhe mostra fotos antigas da família. Ler a Bíblia e deixar-se conduzir pela Palavra é como aprender no colo do nosso amado Pai. Por meio de Jesus entendemos que “Deus está conosco para nos libertar […] e nos ressuscitar para a vida eterna” (n.4). Percebe-se que as lições que Dele aprendemos nos formam e nos desenvolvem enquanto cristãos. Só andaremos juntos, em verdadeiro espírito sinodal, na medida em que escutarmos e apreendermos com nosso único Pai desfrutando de sua agradável proximidade.
Podemos perceber ao longo dos textos bíblicos que Deus demonstra afeto particular aos mais jovens. O papa Francisco em sua Exortação Christus Vivit retoma esse aspecto, dizendo: “Em Gedeão, reconhecemos a sinceridade dos jovens, que não costumam amaciar a realidade. Quando lhe foi dito que o Senhor estava com ele, respondeu: ‘Se o Senhor está conosco, por que nos sobreveio tudo isso?’ (Jz 6,13)” (n.7). A transmissão e a recepção da fé em Deus requerem abertura e serenidade, mesmo em meio às inúmeras inquietações próprias do coração jovem. Tal como Gedeão aceitou o Senhor após conhecê-lo melhor, quanto mais o jovem conhece e experimenta Deus, mais poderá amá-Lo. Conhecer mais Jesus pode transformar a vida de um jovem, como aconteceu com Santo Agostinho, que após ter sua vida transformada por Cristo disse que ninguém pode amar o que não conhece.
Portanto, cabe ter presente que nossa espiritualidade e nosso agir pastoral nascem da inspiração na Palavra. Ao dizer que “Se me conheceis, também conhecereis meu Pai” (Jo 14,7), Jesus Cristo mostrou que permanecia constantemente em contato profundo com Deus Pai. Se não fosse assim, ele não teria transmitido a sabedoria que recebeu do alto. Que Ele seja, mais uma vez, nosso modelo de transmissão de fé e de sinodalidade.
Anderson Munari
Acadêmico do 2º Ano de Teologia
Me. Pe. Jair Carlesso
Professor da Itepa Faculdades
Questões para refletir
Como eu estou transmitindo a fé em Deus para os mais jovens da minha comunidade?
A Bíblia é minha companheira para pensar as situações do meu dia-a-dia?
Fotos: Arquivo Itepa Faculdades: Seminário de IVC e Aula de Início do 2º semestre 2024.