Pe. Elli Benincá: educar-se para a participação

O Padre Elli entendia que o termo “participação” etimologicamente se origina de “participatio,” do latim. “Participatio” (derivado de “pars+tin+actio”) corresponde a “ter parte”, “fazer parte” ou “tomar parte” numa ação. Participar é mais do que apenas estar presente; é ter um envolvimento ativo e consciente na ação. É sentir-se parte integrante dessa ação, assumindo responsabilidade por ela.

Tomar parte de uma ação implica em aceitar que outras partes também tenham presença nessa mesma ação. A integração das diversas partes no todo da ação é facilitada pelos objetivos estabelecidos e pela metodologia adotada. É importante ressaltar que nenhuma das partes deve impor-se sobre as demais, pois isso pode levar à anulação do compromisso e da responsabilidade compartilhada. Sem compromisso, não há verdadeira responsabilidade.

Ter parte na ação não significa representar a totalidade dela, mas sim reconhecer-se como parte integrante, em harmonia com as demais partes. Cada componente atua de acordo com suas habilidades e possibilidades, contribuindo para o alcance dos objetivos estabelecidos.

Tomar parte na ação implica em tornar-se um sujeito ativo nesse processo. Se uma parte se recusa a integrar-se nos objetivos da ação, ou dela se ausenta, o todo da ação é afetado e pode até mesmo se desintegrar.

A construção de uma comunidade é possibilitada pela ação conjunta das suas partes, visando a um objetivo comum. As partes não agem apenas por si mesmas, mas sim em prol do bem coletivo. É importante destacar que fazer parte de uma instituição não garante automaticamente a participação ativa nas suas ações. Atitudes passivas de algumas partes podem facilitar o domínio do processo por outras partes, prejudicando o engajamento e comprometimento coletivo.

Educar para a participação requer:

a) Escuta atenta do outro, das instituições e das propostas que compõem o contexto. Essas relações precisam ser analisadas e registradas para compreender as dores, anseios, projetos e buscas que se manifestam no universo das relações.

b) Diálogo entendido como a expressão recíproca das pessoas por meio da palavra e das atitudes. Isso revela o interior e a intimidade das pessoas, ou seja, seu modo de pensar e ser. Aqueles habituados à passividade podem relutar em pronunciar sua palavra para evitar compromissos e permanecer na zona de conforto.

c) Preparação como pré-requisito para a participação, pois possibilita a construção da consciência da ação. Essa consciência se transforma em palavra que sustenta o diálogo.

d) Elaboração de um projeto que sirva de guia, pois nele o objetivo aponta para o futuro com fundamentação, integrando-se à consciência disponível.

e) A mística da participação que retira da zona de segurança e conduz a um caminho repleto de esperança. A mística integra também a ação transformadora da graça.

Em síntese, as reflexões do Pe. Elli Benincá sobre educar-se para a participação nos convidam a transcender a passividade e abraçar uma postura ativa e consciente em nossas interações e engajamentos. Ao adotarmos uma abordagem baseada na escuta, diálogo, preparação e no estabelecimento de objetivos comuns, estamos fortalecendo os alicerces de uma sociedade mais participativa e solidária. Que possamos, portanto, nos inspirar na mística da participação, abandonar nossas zonas de conforto e trilhar um caminho repleto de esperança e transformação.

Prof. Me. Pe. Ivanir Antonio Rodighero
Itepa Faculdades
Grupo de Pesquisa “A vida e o legado de Pe. Elli Benincá”