IGREJA E SINODALIDADE: UM CAMINHO DE ESCUTA

Pe. Elisandro Guindani[1]

 

Ao convocar o Sínodo sobre a sinodalidade, com o tema “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão, o Papa Francisco nos recorda a primeira e mais nobre missão da Igreja: escutar os clamores do povo e caminhar juntos, para que ninguém fique pelo caminho.

O próprio Jesus nos revela a importância da escuta, quando na região de Cesareia de Filipe pergunta aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou? […] E vocês, quem dizem que eu sou?” (Mc 8,27-29). Um pouco antes dessa passagem, encontramos o texto em que “levaram até Jesus um homem surdo e que falava com dificuldade. […] Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade” (Mc 7,32-35). Nessas, bem como noutras passagens dos evangelhos, Jesus nos ensina que, para falar bem, primeiro é necessário abrir os ouvidos e o coração para escutar e sentir.

Num mundo em constante transformação, cheio de sons e ruídos, onde muitas pessoas e instituições, antes mesmo de esclarecerem os fatos e sem importarem-se com a propagação das fake news, já compartilham e emitem suas opiniões a Igreja Católica, mais uma vez, se coloca na contracorrente. Faz valer a lei natural: antes de aprendermos a falar, precisamos escutar e, a partir da escuta, passamos a balbuciar algumas palavras.  Faz valer também os ensinamentos de Jesus quando, junto aos discípulos, realiza uma avaliação da sua missão e, em seguida, passa a ensiná-los (cf. Mc 8,27-33).

Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, o Sumo Pontífice nos diz que “hoje mais do que nunca […] precisamos no exercitar na arte de escutar, que é mais do que ouvir. Escutar, na comunicação com o outro, é a capacidade do coração que torna possível a proximidade, sem a qual não existe um verdadeiro encontro espiritual”.  Assim continua o Papa Francisco: “só a partir desta escuta respeitosa e compassiva é que se pode encontrar os caminhos para um crescimento genuíno, despertar o desejo do ideal cristão, o anseio de corresponder plenamente ao amor de Deus e o anelo de desenvolver o melhor de quanto Deus semeou na nossa própria vida” (EG 171).

Animados por Jesus e desafiados pelo Papa Francisco, urge “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (EG 20). Para tanto, neste tempo oportuno, outubro de 2021 a outubro de 2023, precisamos escutar atentamente o que todos os batizados e pessoas de boa vontade tem a dizer da nossa atuação enquanto Igreja Católica e, sob a guia do Espírito Santo, qualificar nossa presença em meio a um mundo em constante transformação.

 

[1] Especialista em Formação em Seminários e Casas de Formação, Faculdade Dehoniana, Taubaté-SP; Especialista em Metodologia Pastoral, Itepa Faculdades, Passo Fundo; Graduado em Teologia, Itepa Faculdades; Bacharel em Filosofia, Instituto Superior de Filosofia Berthier. Leciona: Metodologia e Prática Pastoral – MPP – Itepa Faculdades. e-mail: eguindani@yahoo.com.br