Eliene Honório Moraes[i]
Nesse ano chegamos a 27ª Edição do Grito dos Excluídos e Excluídas. Neste longo percurso mulheres e homens foram chamados a participar ativamente, na luta por seus direitos, nas ruas e praças, nos centros e periferias de todo o Brasil, em defesa pela e um País justo para todos. Pelo segundo ano, ocorreu em meio a pandemia da COVID-19 que já ceifou quase 600 mil vidas. Tendo como lema permanente “Vida em Primeiro Lugar” e neste ano de 2021:” Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda, já!”, os movimentos sociais e populares, pastorais sociais, igrejas ,sindicatos, partidos políticos e demais representantes dos movimentos populares, conclamam a que reivindiquemos nossos direitos em prol da construção deste grande processo coletivo .
É um grito de todos e não tem dono, agravado por momento de crises de âmbito social, ambiental, sanitária, humanitária, político e econômica provocados por um governo que tenta destruir os pilares da democracia e a soberania de nosso pais. Que desmonta direitos dos/as trabalhadores/as do campo e da cidade e das políticas públicas, que dissemina o ódio, a violência, o preconceito contra mulheres, LGBTQIA+, negros, indígenas e pobres.
Diante de um cenário tão desafiador que estamos vivendo, somos chamadas e chamados a despertar para esta realidade e nos engajar conforme destaca Francisco de Aquino Júnior[ii]:
“Se uma pandemia é sempre uma tragédia, quando ela está associada à pandemia das injustiças e desigualdades sociais suas consequências são muito mais trágicas para as populações pobres. No caso do Brasil, a situação é ainda mais agravada pela pandemia política de um desgoverno que banaliza a morte de milhares de pessoas e atenta contra a saúde pública, estimulando e provocando desrespeito às medidas de proteção sanitária: Quase 600 mil pessoas já morreram sem ter sequer um velório e um sepultamento digno. Muitas vidas poderiam ter sido poupadas se tivéssemos um governo e uma política de saúde que respeitassem o povo, a ciência, o dinheiro público e as autoridades sanitárias. O desemprego cresceu assustadoramente. De agosto de 2020 a fevereiro de 2021 o número de pessoas vivendo na extrema pobreza passou de 9,5 para mais de 27 milhões. E a CPI da Covid tem revelado indícios graves de corrupção na compra de vacinas, envolvendo governo e empresas privadas.”
Qual seja, assistimos o crescente aumento de injustiças e desigualdades sociais: seja o desemprego; a concentração de renda; a fome; a redução dos direitos trabalhistas; avanço neoliberal; pautas políticas ultraconservadoras de menosprezo da vida; desrespeito pelas minorias; o avanço dos grandes projetos sobre as terras indígenas, povos quilombolas, pescadores e as agressões ao meio ambiente tem sido outra marca da atual política; a disseminação da cultura do ódio sustentada pelas notícias falsas manifestadas nas redes sociais também são sinais do descaso pela vida, entre tantos outros percalços trazidos por esse contexto hodierno. Como cristãos e como sociedade organizada não podemos ficar indiferentes a essa situação nem cruzar nossos braços.
Sem renda, moradia, saúde, emprego e condições básicas de sobrevivência não há justiça social, que oportuniza que cada ser humano possa construir sua história e viver com dignidade.
Nessa perspectiva, o Grito dos excluídos (as) encontra sua justificativa: dar voz a essa população negligenciada e submissa a política pública que negligencia a vida em detrimento do enriquecimento de alguns poucos. É um grito que quer denunciar e, ao mesmo tempo, profetizar. Denunciar as injustiças e profetizar uma terra que corra Leite e Mel. Uma sociedade mais unida e justa, capaz de respeita seus direitos, a diversidade, que seja solidária, fraterna, igualitária. Grito este que, nas palavras do Papa Francisco[iii], é de teto, trabalho e terra para todos: “É possível desejar um planeta que garanta terra, teto e trabalho para todos. Este é o verdadeiro caminho da paz, e não a estratégia insensata e míope de semear medo e desconfiança perante ameaças externas” (Francisco, 2020, n. 118).
Ainda nas palavras de Aquino Junior[iv]:
Importa fazer ecoar nossos gritos. Importa despertar e congregar sentimentos de fraternidade e solidariedade. Importa mobilizar e articular forças sociais e políticas para a reconstrução do país segundo a justiça social que se concretiza na afirmação e garantia dos direitos dos pobres e marginalizados – sinal, critério e medida de realização do reinado de Deus em nosso meio que é um reinado de fraternidade, justiça e paz.
Não deixemos que o sistema nos tire a esperança, pois um povo sem esperança não tem resistência e o grito mais forte que precisa ser ouvido é: Vida em primeiro lugar! Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda. Esse grito representa um basta para todos os preconceitos: desigualdade, violência, injustiça! Continuemos em Esperança, resilientes e resistentes.
Links úteis para aprofundar o tema:
Materiais e subsídios do 27º Grito dos Excluídos. Disponível em https://www.gritodosexcluidos.com/
27ª Edição do Grito dos Excluídos e Excluídas: baixe material gratuito para rodas de conversas. Disponível em: https://www.asafloripa.org.br/2021/08/27a-edicao-do-grito-dos-excluidos-e-excluidas-baixe-material-gratuito-para-rodas-de-conversas/
Vídeos dos eixos temáticos do Grito dos Excluídos e Excluídas 2021. Disponível em: https://portaldascebs.org.br/videos-eixos-tematicos-do-grito-dos-excluidos-e-excluidas-2021/
[i] Eliene Honório Moraes é acadêmica do Curso de Teologia (B) da Itepa Faculdades, atuante no Setor Movimentos Sociais do DAITEPA, catequista na Paróquia São José- Passo Fundo e integrante do Grupo de Estudos Teologia e Negritude.
[ii] JÚNIOR, Francisco de Aquino. “Vida em primeiro lugar”: Grito dos excluídos em tempos de pandemias. Disponível em: https://amerindiaenlared.org/contenido/20276/vida-em-primeiro-lugar-grito-dos-excluidos-em-tempos-de-pandemias/. Acesso em 10/09/2021 às 19:10.
[iii] PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Fratelli Tutti – Sobre a Fraternidade e a Amizade Social. Brasília: Edições CNBB, 2020.
[iv] JÚNIOR, Francisco de Aquino. “Vida em primeiro lugar”: Grito dos excluídos em tempos de pandemias. Disponível em: https://amerindiaenlared.org/contenido/20276/vida-em-primeiro-lugar-grito-dos-excluidos-em-tempos-de-pandemias/. Acesso em 10/09/2021 às 19:10.