Diálogo e Amizade Social

Imagem de Reynaldo Amadeu Dal Lin Junior Juba por Pixabay

Pe. Daniel Rodrigo Feltes[1]

 

Na Carta Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco, sobre a fraternidade e a amizade social, o sexto capítulo é dedicado ao tema do Diálogo e a amizade social. O que entendemos por diálogo? O Papa também desafia a pensar: como seria um mundo sem o diálogo paciente e generoso?

Temos logo uma definição: “Aproximar-se, expressar-se, ouvir-se, olhar-se, conhecer-se, esforçar-se por entender-se, procurar pontos de contato: tudo isso se resume no verbo ‘dialogar’” (n.198). Nesse sentido, diálogo é tudo o que possibilita o encontro e a entre ajuda, ou seja, a comunhão. São bem perceptíveis os problemas que a falta de diálogo gera em nossa sociedade.

Diálogos não são monólogos paralelos, muitas vezes exaltados e raivosos, como os apresentados cotidianamente nas redes sociais. Entre dois extremos, o da violência e da indiferença egoísta, sempre há a possibilidade do diálogo. O debate, no sentido de enfrentamento de ideias, faz crescer compreensões e quando consegue unir gerações, povos e culturas faz crescer uma nação. A ausência de diálogo, em sentido amplo, é sinal de que a preocupação maior é com as vantagens que o poder proporciona ou a imposição de um modo de pensar, em detrimento da busca do bem comum, só alcançado na união de esforços e de diferentes perspectivas.

O Papa Francisco destaca que os “heróis do futuro” tem uma preocupação com a verdade acima das conveniências sociais, rompendo com a lógica da dominação. O Papa faz a prece: “Queira Deus que estes heróis estejam surgindo silenciosamente no meio de nossa socie-dade” (n. 202).

Na convivência em sociedade são percebidas diferentes posturas e compreensões da vida, do mundo e dos demais temas do cotidiano. É uma tensão que quando assumida de modo construtivo leva ao verdadeiro progresso da humanidade. Portanto, “O diálogo social autêntico inclui a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, admitindo a possibilidade de que nele contenha convicções ou interesses legítimos” (n. 203). Ninguém tem a obrigação de moldar o seu pensamento à compreensão do outro, mas o respeito e a escuta são fundamentais para o diálogo e a boa convivência. Além do mais, a mesma realidade pode ser abordada de diferentes perspectivas e métodos.

Olhando para os meios de comunicação, percebe-se a potencialidade que estes possuem de aproximar as pessoas, de fortalecer o sentido de uma família humana, quando devidamente voltados para a solidariedade e o compromisso com a vida digna. No meio digital é mais necessário ainda, devido a intensidade e velocidade das informações, verificar constantemente, com critérios éticos, as informações e intencionalidades implícitas, para não cair no relativismo e legitimar as lógicas de dominação. A verdade não é apenas a notícia, mas: “É, em primeiro lugar, a busca dos fundamentos mais sólidos que sustentam nossas escolhas e nossas leis” (n. 208).

Através do diálogo é possível reconhecer valores perenes, para além das conveniências particulares. São os consensos éticos, tais como os direitos humanos fundamentais, sustentados em argumentos e perspectivas complementares e que sustentam que todo ser humano possui uma dignidade inalienável, própria da sua natureza e que deve sempre ser respeitada. Nisto compreendemos uma ética humana e para nós cristãos também cremos na graça de Deus que nos impulsiona para viver a fraternidade.

Vinicius de Moraes poetizava que “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” (apud n. 215). O Papa Francisco, desde o início de seu pontificado tem chamado para a “cultura do encontro”, como um estilo de vida em que as diferenças possam conviver, se integrar e iluminar-se mutuamente – com as tensões próprias desse processo. O Papa enfatiza que: “de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo” (n. 215). Isso inclui as periferias! Nestes processos de encontro é possível fomentar a paz social, num trabalho minucioso, artesanal.

O diálogo sincero, verdadeiro, que supera a falsa tolerância, só é possível a partir do resgate da amabilidade. Enquanto o individualismo consumista provoca muitos abusos, considerando os outros como inimigos a serem vencidos, como obstáculos a serem superados e aumentando a agressividade, a amabilidade é revolucionária. É o cuidado no trato para não magoar com palavras ou gestos, palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam. É um esforço diário para vencer incompreensões, evitar conflitos. Assumir esta prática como uma cultura é ser “estrelas no meio da escuridão” (n. 222).

Unamo-nos ao Papa Francisco no compromisso com a fraternidade através do diálogo!

 

  • Artigo elaborado a partir do Capítulo VI da Carta Encíclica Fratelli Tutti Do Santo Padre Francisco – sobre a fraternidade e a amizade social.

[1] Presbítero da Arquidiocese de Passo Fundo. Graduado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia Berthier – IFIBE. Graduado em Teologia pelo Instituto de Teologia e Ciência Humanas – Itepa Faculdade. É pós-graduado em Metodologia do Ensino Religioso pelo mesmo Instituto de Teologia e em Mariologia pela Faculdade Dehoniana. Atualmente é Pároco da Paróquia São José, na cidade de Passo Fundo/RS.