SEMANA DO MIGRANTE – Por Emerson Miguel Fröder

Emerson Miguel Fröder[1]

A semana do migrante este ano será celebrada entre os dias 13 e 20 de junho.[2] Neste ano, celebramos a 36º semana do migrante que tem como tema, Migração e Diálogo e como lema, Quem bate à nossa porta?

O termo migração refere-se ao movimento de entrada ou saída de indivíduos de um país, estado ou domicílio na busca, na maioria das vezes, de melhores condições de vida. Esse processo sempre ocorreu na história e é geralmente desencadeado por fatores econômicos, políticos, culturais, religiosos, entre outros. Atualmente, consideram-se dois tipos de migração: espontânea e forçada. A primeira, diz respeito a uma migração planejada (com caráter de motivação), enquanto a segunda, se refere ao indivíduo que necessita sair do seu local de origem em virtude de calamidades humanas e/ou sociais, como a guerra, a pobreza, a injustiça social, as perseguições, etc.

De acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), publicado em setembro de 2019, a quantidade de pessoas morando fora do país de origem chega a 271,6 milhões, o que equivale a 3,5% da população mundial.[3] É nesse sentido que quando se fala de migração, os números não são quantificáveis, pois são sujeitos, seres humanos que não se limitam a um valor numérico. Por isso, o lema da semana do migrante ecoa mais alto: “Quem bate à porta?”

Diante desta pergunta recorda-se de Jesus, o itinerante que, “vendo as multidões, teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). Igual compaixão deve-se ter pelas multidões de migrantes e refugiados que se cansam na busca por um lugar seguro para viverem com dignidade.

Para Dom Rodolfo Luis Weber, Arcebispo de Passo Fundo, o processo migratório apresenta-se como oportunidade. Segundo o arcebispo:

[…] uma oportunidade para refletir como os imigrantes são tratados, se os direitos são respeitados, quais os deveres que os migrantes têm e se têm espaço para se integrarem na sociedade. Também é um espaço de enriquecimento mútuo. Quem vem traz consigo uma história de vida, de luta e de busca que pode enriquecer o local onde foi residir (WEBER, 2016).

O processo migratório é uma oportunidade de abrir-se ao diálogo com o outro, de conceber o estrangeiro como irmão, fazendo das diferenças uma dádiva de crescimento humano, de partilha de valores e de experiências de vida. Quando a pessoa migra para outro ambiente social, político, religioso, cultural, etc., além da profunda transformação de vida, por deixar seu lugar, seu espaço, família, cultura, que afetam seus sentimentos mais profundos, necessita ainda inserir-se em um novo contexto, um novo mundo, seja na língua, na cultura, trabalho, enfim, num novo ethos social. A dor e a angústia são uma constância e o que os motiva a enfrentar esses desafios é a busca por uma vida digna, um espaço onde seja possível viver em paz.

Se para o migrante há uma profunda transformação, embora sendo de outra ordem, também há por parte daqueles que o acolhem. É uma possibilidade de transformar-se com aquele que lhe é ‘estranho’, afinal, aquilo que é ‘estranho’ sempre desperta muitos sentimentos, de recusa e apreensão, mas, também, de curiosidade, aprendizagem e mudança de vida. Estar aberto para o outro e acolhê-lo em sua humanidade e dignidade, é ser capaz de desenvolver uma das capacidades mais nobres do humano: a solidariedade. Acolher o outro que me é estranho, é ser sensível com a vida, com o outro, com o frágil, com o diferente. Acolher é uma dimensão humana que revela uma espiritualidade de vida, que se inspira e se identifica com a de Jesus de Nazaré. É na sensibilidade da acolhida, na abertura ao diálogo e à compreensão mútua, que o Reino de Deus se faz ressoar.

O texto base para a semana do migrante propõe que se firme um compromisso com os migrantes.

Não basta a abertura a quem bate à porta; não basta o reconhecimento da pluralidade; não basta a coexistência pacífica com o diferente; não basta o diálogo. O conceito de compromisso tem a ver com um programa de atividades centradas na causa dos migrantes e refugiados. Aqui estão em jogo as ações sociopastorais e os atores. (SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES, 2021, p. 6).

É nessa perspectiva que se pode destacar que a luta pela causa dos migrantes não é uma exclusividade das Igrejas cristãs, mas um dever de todas as forças vivas da sociedade. Mais ainda, deve-se compreender que a semana do migrante mais do que um estudo e reflexão da temática, é um meio de compreender, dar continuidade e criar projetos de acolhida, alguns, por exemplo, que já estão sendo feitos tais como serviços de “acolhida; de documentação; assistência social, jurídica e psicológica; empenho pela inserção na sociedade; incentivo no sentido de acesso ao de trabalho, à moradia, à saúde; e à outras políticas públicas” (SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES, 2021, p. 6).

Outro desafio ocorre no âmbito pessoal. Deve-se pensar em âmbito pessoal o que cada um pode fazer de concreto pela causa dos migrantes; seja na questão das políticas públicas, dos direitos humanos, do ecumenismo envolvendo diferentes denominações religiosas que se comprometam pela justiça social. Enfim, todos são chamados a firmar um compromisso com a causa dos migrantes.

Portanto, viver o encontro é experienciar o outro na sua integralidade, no conhecimento, no diálogo e no amor. Como afirma Papa Francisco: “o cultivo de bons contatos pessoais e a capacidade de superar preconceitos e medos são ingredientes essenciais para se promover a cultura do encontro, onde cada um esteja disposto não só a dar, mas também a receber dos outros”.[4] “[…] devemos todos empenhar-nos por derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro, cientes da profunda interconexão que existe entre nós”.[5]

Esta breve reflexão quer contribuir para a formação da consciência pessoal e da comunidade, enquanto realidade humana e divina. Na dimensão humana pertencemos a casa comum, e na dimensão divina, com base na fé recebemos a sentença: era estrangeiro e cuidastes de mim (Mt 25,35). Estas duas perspectivas imprimem responsabilidades e compromissos inadiáveis às pessoas e sociedade.

 

 

REFERÊNCIAS

SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES. Quem somos. Disponível em: https://spmigrantes.wordpress.com/quem-somos/. Sem ano. Acesso em 24/05/2021 às 10:49.

WEBER, Rodolfo Luis. Eu era migrante e me acolheste. Disponível em: https://domtotal.com/noticia.php?notId=1036717. Acesso em 21/05/2021 às 20:12.

SERVIÇO PASTORAL DOS MIGRANTES. Texto Base 36ª Semana do Migrante. São Paulo: A. N Gráfica. 2021.

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2016. Disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/migration/documents/papa-francesco_20150912_world-migrants-day-2016.html. Acesso em 24/05/2021 às 08:44.

Mensagem do Papa Francisco para o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Disponível em: http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/migration/documents/papa-francesco_20210503_world-migrants-day-2021.html. Acesso em 24/05/2021 às 08:24.

 

 

[1] Seminarista da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão. Atualmente cursando o primeiro ano da faculdade de Teologia (Itepa Faculdades).

[2] A semana do migrante é móvel, sendo a CNBB responsável por decidir os dias para a celebração.

[3] Informação retirada do texto base da CNBB para a 36º semana do migrante.

[4] Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2016.

[5] Mensagem do Papa Francisco para o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.