Semana de Oração Pela Unidade Cristã

Que todos sejam um! (Jo 17,21)

 

Estamos vivenciando a Semana de Oração pela Unidade cristã, promoção do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas. No hemisfério Norte, a Semana de Oração segue o período entre as festas de São Pedro e São Paulo, de 18 a 25 de janeiro. No hemisfério Sul, o evento é celebrado em vista da Solenidade de Pentecostes, um momento simbólico para a unidade da Igreja. No Brasil as diferentes Igrejas Cristãs filiadas ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, articularam esta iniciativa que se abre às instituições filiadas e também a outras igrejas interessadas a celebrarem este momento de graça extremamente importante. O evento é histórico e visa aproximação das Igrejas cristãs através da oração, contudo, sem desconhecer outras iniciativas também promotoras do diálogo e aproximação. A Campanha da Fraternidade de 2021 foi um exemplo dessa construção comum entre as Igrejas cristãs.

Por muitos séculos a tradição cristã teve um projeto comum acolhendo a diversidade das culturas e expressões de fé.  O seguimento de Jesus Cristo era o grande fator de união dessa diversidade inspirada na acolhida da força do alto o Espírito Santo (At 2,1-11). O “Cisma do Oriente”, acontecido no século XI, quando as Igreja Católicas do Oriente e Ocidente se afastaram, rompeu com esta trajetória comum e respeitosa da diversidade. O trauma entre os cristãos se agravou no século XVI, quando aconteceu a “Reforma Protestante” e surgimento das Igrejas protestantes, primeiramente na Europa e depois espalhando-se pelo mundo todo através da atividade missionária.

No século XIX começou-se a busca pela unidade e diálogo. Questionava-se o testemunho dos cristãos diante dos desafios missionários, ou seja, como pregar Jesus que defendia o amor ao próximo e a fraternidade se os cristãos sustentavam divisões? Também era provocadora a realidade mundial em um contexto de pobreza e negação da dignidade humana no advento da industrialização. Desde então o processo de proximidade e diálogo entre cristãos foi avançando ao ponto de buscar-se uma organização em nível internacional agregando em torno de 367 igrejas articuladas pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI). A Igreja Católica Apostólica Romana tem assumido decisivamente o compromisso com o diálogo ecumênico. O decreto Unitatis Redintegratio (Reintegração da Unidade) revela este compromisso assumido e referenciado no Concílio Vaticano II. Sugere a oração em comum em prol da unidade da Igreja a exemplo de Jesus Cristo (cf. UR 8).

Há entre as Igrejas Cristãs a consciência dos elementos de tensão. Todavia sabe-se também da existência elementos de união e proximidade extremamente significativos que mantiveram a unidade cristã ao longo da história. A partir desses elementos, a saber: fé em Jesus Cristo, fundamento na Sagrada Escritura e Batismo comum, busca-se o diálogo e a proximidade. É um processo extremamente profícuo marcado pelo reconhecimento das riquezas e potencialidades das diferentes pertenças eclesiais.

O caminho da oração é um meio significativo de aproximação. Explicita-se a busca da comunhão pela atividade orante. A oração em comum lembra da filiação divina dos crentes nas diferentes denominações e da necessidade de estreitar os laços de fraternidade entre estas igrejas no compromisso de seguimento e testemunho de Jesus Cristo. Recorda também a existência de algo além dos condicionamentos humanos e históricos e que, justamente, não se prende a estes condicionamentos, o desejo divino explicitado por Jesus da experiência do amor.  Segue-se o desejo de Jesus descrito no evangelho de João “que todos sejam um, assim como nós somos um (Jo 17,11)

O tema proposto para este ano é “permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos” (cf. João 15,5-9). O tema sustenta a importância do amor na vida dos cristãos. No contexto do escrito foi o caminho de testemunho em uma realidade de medo e insegurança do discipulado. O Filho de Deus garante o amor como um vínculo capaz de gerar os frutos desejados. Para os cristãos a experiência do amor era a única capaz de superar as divisões e injustiças. Deus é amor. Jesus explicita o amor de Deus. Amar é fazer a experiência da essência divina revelada à humanidade na pessoa, nas palavras e na obra de Jesus.

O Amor de Deus é concreto assim como deve ser o amor dos cristãos. O amor se manifesta no desejo de diálogo e aproximação com quem pensa e reza diferente, mas está unido no seguimento de Jesus Cristo. Vivamos este momento de graça mediado pela oração comum.

Pe. Ari Antonio dos Reis