Os avanços no campo das pesquisas biológicas vêm ocorrendo de modo rápido e
assustador, trazendo, junto com o progresso, muitos questionamentos. Um dos grandes
desafios dos agentes de pastoral é o de lidar com os avanços das pesquisas científicas e com a
falta de critérios em relação ao tratamento dado à vida humana. Esta será a temática abordada
nesta revista, tendo como referência as reflexões realizadas no 2 0 Fórum de Bioética, que
aconteceu no centro de Eventos da Universidade de Passo Fundo (UPF), Campus I, no dia
20/5/02, com assessoria do Pe. Leocir Pessini l A bioética na América Latina – apesar de
recente – ganha um caráter mais humanista devido à tradição médica e às condições sociais
de pobreza, ou seja, aborda a real desumanização do sistema. A bioética é uma ciência que
perpassa todos os níveis da vida e setores mais distintos de nossa sociedade e, da Igreja:
política, sociologia, economia, ecologia, saúde … Este número da revista será um espaço de
” diálogo” interdisciplinar e multidisciplinar entre ciências (teologia, medicina,
enfermagem…), instituições (hospitais, institutos, cursos…) e agentes de saúde (enfermeiros, médicos…) e de pastoral (alunos do Itepa, pastoral da saúde). Esses grupos cuidam, geralmente, do viver e do morrer.
A saúde se constitui em algo fundamental para a vida humana. Para os seguidores e
seguidoras de Jesus Cristo, a vida é considerada um dom de Deus (Ecl 38,2, At 3,15; 5,31;
Heb 2, 10; 12,2). Deus é o Senhor da vida, porém a morte é uma realidade inevitável Ela não é causada pelo pecado, mas é um fenômeno natural e integrante da vida biológica. A morte é a partida para um horizonte infinito A vida e a morte andam de mãos dadas desde que somos concebidos Porém “ainda que o nosso físico vá se desfazendo, o nosso ser interior vai se renovando a cada dia”(2 Cor 4.16).
E admirável como existem cientistas que levam a sério a pesquisa e a tentativa de prevenir e curar doenças- Há boas notícias que vêm da descoberta de novos remédios e de procedimentos contra doenças tidas como fatais. O mapa completo dos genes humanos abre as portas para o controle de doenças até agora incuráveis. Sabemos que os grandes avanços da medicina exigem a responsabilidade ética maior de cuidar do dom divino da vida, bem como vigilância contra qualquer violação e supressão da mesma. As Instituições de saúde, lembra João Paulo II, devem cuidar dos mais frágeis e doentes; sejam lugares de caridade ou promoção da “cultura da vida”
A emergência e o interesse público pela discussão ética nos diz que nem tudo o que,
tecnicamente é possível, e necessariamente desejável para a vida e a dignidade humana. A
ciência é inventiva, inovadora e ousada. A ética, neste cenário, procura salvaguardar a
dignidade de todos sob a ótica da responsabilidade e da prudência. E a sabedoria humana que vai discernir o bem do mal, o que deve ser implantado, o que necessita ser limitado. Enfim, o que ajuda o ser humano a ser mais feliz, nasce do diálogo honesto e respeitoso entre ousadia científica e prudência ética. Portanto, não se trata de satanizar ou divinizar a ciência.
1. O QUINTO FÓRUM DO ITEPA, O PRIMEIRO DE BIOÉTICA E
QUESTÕES DE SAÚDE
O 1º Fórum de Bioética ocorreu de 14 a 16/8/96. Foi motivado por questões ligadas à
eutanásia, à reprodução “in vitro", ao aborto, aos embriões humanos, ao atendimento dos
pobres… Alguns fatos exigiam aprofundamentos, tais como: 1 – Uma mulher grávida de
gêmeos, porém quer eliminar um dos fetos, alegando que não tem condições de criar os dois. Qual é a posição do médico? Qual será a orientação hospitalar? Qual será a postura do agente de pastoral? No caso da opção de abortar – qual dos dois deve morrer? 2 – O Dr. Luiz Ecker atuava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Pediátrica. Ele tirava – conforme foi divulgado pela imprensa – os aparelhos de crianças sem perspectivas de vida e os colocava nas crianças que tinham mais chances de sobrevivência. Qual é a posição ética diante de tal
procedimento?
Perante estas e outras indagações foi emergindo a necessidade de definir um método
para a organização do Fórum. A metodologia utilizada foi construída lentamente e se serviu
dos seguintes passos: 1º – observar e registrar os problemas que afetam a saúde e quais são os procedimentos, 2 º – partilhar os registros com assessorias capacitadas e interdisciplinar. O Itepa, para realizar um processo de conhecimento interdisciplinar e multidisciplinar, necessitou fazer uma parceria com o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), com o curso de enfermagem do Instituto de Ciências Biológicas da UPF e com a Pastoral da Saúde O Instituto sentiu a necessidade de obter informações mais precisas sobre o sofrimento, doença morte; por isso optou em visitar as CTIs do HSVP e pessoas doentes em seus domicílios. Esse contato foi fecundo, porém provocou uma constatação: sentimo-nos impotentes e limitados diante do sofrimento e da morte” Além destas informações, sentiu-se deficiência de conhecimentos. Por isso, os textos do Pe. Leocir Pessini e Volnei Garrafa serviram de base para investigação interdisciplinar.
O 1º Fórum de Bioética, sem dúvida, se constituiu numa fonte de água viva para a
reflexão teológico-pastoral. As águas transbordaram para o encontro Estadual de Professores e Estudantes de Teologia com o intuito de refletir o rosto de Deus na ausência da saúde e, mais especificamente, em situações limites dos doentes. Parte das águas rumaram para o Encontro Nacional de Saúde, em São Paulo, em que foi partilhado o relatório produzido pelo 3º ano de teologia a partir do fórum Outras águas lançaram seus córregos para aprofundamentos em cursos de especializações, mestrados e doutorados. Um filete de água suscitou mais um Fórum, o segundo
2. O OITAVO FÓRUM DO ITEPA, O SEGUNDO DE BIOÉTICA: SAÚDE, CIDADANIA E CUIDADO
O 2 º Fórum de Bioética aconteceu no dia 20/5/02 e dele participaram mais 760 pessoas.
Nasceu por sugestão do Pe. Leocir Pessini e das necessidades de aprofundamento de novas
questões, principalmente, sobre até quando se tem o direito de prolongar o ato de morrer? Ou, quais são as implicâncias éticas da clonagem humana As entidades que promoveram o Fórum:
Médicos Católicos, Itepa, Pastoral da Saúde, Hospital São Vicente e Hospital São Camilo A
metodologia utilizada foi semelhante à do 1º Fórum.
A bioética não é uma questão da moda, mas uma necessidade e um grito vital da
humanidade por dignidade e para assegurar o futuro de vida no nosso planeta terra. E um grande lance de esperança, pois o empreendimento técnico-científico ajuda a humanidade a viver melhor, mais saudável e mais feliz. Quando se coloca estes valores em jogo, estamos no âmago da discussão dos valores éticos ou da bioética. Para que serve? Qual é o
sentido? Qual é o valor?
A programação desse 2 º Fórum teve que ser bem delimitada, pois o tempo foi exíguo.
Para tanto, o objeto ficou restrito sobre: a) a bioética e o horizonte de esperança para a
humanidade, b) posturas que orientam a saúde e a cidadania, com pessoas ligadas à medicina, enfermagem e teologia, c) as grandes questões que envolvem a bioética em nossas vidas, d) a distanásia, Até quando prolongar a vida? Os dois extremos da vida: a chegada e a despedida. Ambos exigem muito cuidado, pois há maior vulnerabilidade. No início existe uma fragilidade muito grande. Entretanto, no final da vida, não é diferente. Não há fórmulas ou receitas. O problema é sempre quando há descaso, falta de atenção, de compreensão e de cuidado. A distanásia começou a se tornar um problema ético de primeira grandeza, à medida em que o progresso tecnocientífico passou a interferir de forma decisiva nas fases finais da vida humana . Essa novidade exige reflexão ética. Neste sentido, emergem os paradigmas de curar e cuidar. As ações de saúde são sempre mais marcadas pelo “paradigma da cura” A tecnologia é um fato necessário na medicina moderna. O cuidar aceita o declínio da morte como parte da condição do ser humano, uma vez que sofremos de uma condição que não pode ser curada, isto e, somos finitos. A medicina não pode afastar a morte indefinidamente A revista Caminhando com o Itepa, neste número, visa registrar e partilhar as reflexões tecidas no 2 0 Fórum de Bioética. E um número especial, contendo os principais momentos da reflexão. A entrevista com Pe. Leocir abre a discussão. O segundo bloco é composto pelos artigos partilhados no painel: saúde, cidadania e cuidado. Um terceiro bloco provém do painel sobre as experiências profissionais e pessoais em relação ao tratamento da vida e morte. A edição da revista será fechada com o artigo do Pe. Leocir, versando sobre a distanásia: Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar.
Boas Leituras
Pe. Ivanir Rodighero
Nesta Edição você encontrará:
- Entrevista com o Pe. Leocir Pessini;
Painéis:
- Bioética na relação médico-paciente, texto do Dr. Douglas Pedroso;
- Cuidado ao ser humano no ambiente, texto dos Dr. Luiz A. Bettinelli e Dra. Alacoque L. Erdmann;
- A vida num contexto teológico, texto do Pe. Alcindo Kunzler;
- Os valore em bioética, texto do Pe. Elisandro Fiametti;
- Início e fim da vida humana física, texto da Ir. Teresinha Steffen;
Depoimentos: Lúcia Görgen; Sueli Werlang; Adriana Bertoletti; Pe. Rudi A. Hippler; Dr Luiz Aquino Kurtz; Vera Fortes; Pe. Ivanir Rodighero; Gláucia Serafini; Leontina Colussi
Artigo:
- Humanização da dor e sofrimentos humanos no contexto hospitalar, texto do Pe. Leocir Pessini;
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Informações técnicas
Título: Revista Caminhando com o Itepa
Autor: Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – ITEPA FACULDADES
Número: 65
ISSN: 1677-860X
Mês/Ano: Junho de 2002
Páginas: 92