Era uma vez um homem que se achava um ecologista consumado. Idealista por natureza alimentava a obsessão louvável de arborizar o deserto Era um magno semeador. Planejou sua floresta, a distância entre as árvores, a profundidade da cova, o tipo de sementes, conheceu o tipo de vento e o tempo que levaria tudo isso para produzir seus frutos. Esta paixão consumiu-lhe incontáveis horas de sono e muita celulose na imensa pilha de papel cheia de anotações esverdeadas. Depois, numa manhã bonita em que os beduínos amanheceram cantando canções piedosas para Alá, esgueirou-se por entre as montanhas de areia, projetos na mão e na alma o amor de ecologista, foi depositando as sementes brilhantes por entre os milhões de cristais reluzentes. No fim da heróica tarefa, subiu na duna mais alta e ficou contemplando o vale semeado. Ali ficou durante muitas auroras esperando o horizonte enverdecer… Cansou-se, perdeu a esperança, e o horizonte permaneceu imutável. Pensava que ideal e paixão eram suficientes e esqueceu-se da água. Nas suas noites de intermináveis preocupações nunca havia sequer imaginado um poço. .. Era um ecologista esquizofrênico!
O mundo está em crise e a Igreja no mundo também. Estamos no fundo do poço e isto não é nenhuma boa nova. Não é deste poço que falamos. O poço que o ecologista esqueceu era algo indispensável ao bom senso e que passou desapercebido por entre seus montes de papéis, seu idealismo incontestável e seus elegantes projetos arborizantes. Nós que andamos por aí podemos ter muito de ecologistas com memória e bom senso curtos. Somos detentores de idéias brilhantes, somos ótimos estrategistas e elaboramos magníficos planos pastorais que falam do Reino de Deus e de libertação. Queremos transladar o Éden ao deserto do mundo. Somos críticos audazes da coisificação promovida pelo mundo moderno e articulamos muito bem o desmantelamento de uma espiritualidade de práticas descomprometidas com o povo marginalizado. Porém, será que estamos abrindo novos horizontes? Será autêntica a nossa tentativa de seguimento do espírito de Jesus? Estarão nossas práticas alimentadas por um poço profundo de experiência de Deus? Seremos adoradores em “espírito e verdade”, ou passamos de uma sinagoga para outra, ou peregrinando do Templo de Jerusalém para Garizin sem tomarmos o caminho do Espírito? Ou será que somos ecologistas imprudentes e afobados? ou então construtores de cisternas rachadas? O ITEPA durante este ano tem como eixo fundamental o inspirador de sua caminhada o acento na espiritualidade. Desde o ano passado já se discutia a sua necessidade. Neste número e nos seguintes deste ano publicaremos as mais diferentes reflexões que irão surgindo entre os professores e alunos. Esperamos que elas possam ser inspiradoras a novos caminhos de espírito para você que lê. Que esta água de vida não falte em nossa busca comprometida do Reino de Deus! Mas também não basta qualquer espiritualidade(água em cisterna um dia termina). Não temos certeza quanto ao melhor caminho. Só sabemos que há muita água em algum lugar porque Jesus nos falou deste manancial. ‘Nesta tentativa de não esquecer o poço (Gutiérrez que o diga!) fiquemos com este texto do Pe. André Liége: “Tenho a convicção de que todos nossos planos pastorais tudo aquilo que podemos fazer de necessário para a realização da missão da Igreja, hoje, ficará sem alma e não dará fruto algum se não começamos despertando no povo cristão este encontro com o Deus vivo e verdadeiro, como centro da novidade evangélica. Se existem tão poucas pessoas que se deixam converter, isto não acontece primeiramente porque os cristãos estão pouco presentes no mundo, mas porque muitos cristãos, presentes no mundo, não possuem a experiência de Deus que pudesse falar por si só: uma experiência seria deveras “palavra que fala” e não somente “palavra falada sobre Deus.” (Le Temps du Défi, pág 42).
A Equipe
Nesta Edição você encontrará:
Artigos:
- O Lugar social do Reino, texto de Edite Ribeiro da Luz;
- Espiritualidade e história, texto de Celso Luiz Faccio, Wilson Pedro Lill, Pe. Valter Girelli;
- Balaio Salvador, texto do Pe. Nelson Tonello;
- A caminhada pós-conciliar, texto de Ilário Silvestre Barbieri e Ildo Soares dos Santos;
- A luta pela libertação da mulher, texto de Carlos Luiz Zorzi, Pe. Ivanir Rodighero e Profª. Selina Maria Dal Moro;
- Espiritualidade, texto de Cláudio de Marchi;
- Teologia no Brasil, texto do Pe. Fernando Altemayer Junior;
Espaço Aberto
- Mulher, tua hora é agora, texto da Ir. Rita Tessaro;
- Histórico da revista “Caminhando com o Itepa”, texto de Eliseu Vicensi;
- Congresso Teológico, texto de Cláudio De Marchi e Odêmio A. Ferrari;
- Os padres também estudam, texto do Pe. Nelson Tonello;
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Informações técnicas
Título: Revista Caminhando com o Itepa
Autor: Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – ITEPA FACULDADES
Número: 71
ISSN: 1677-860X
Mês/Ano: Dezembro de 2003
Páginas: 65