Ao pensarmos num número de nossa revista que tratasse o tema da corporeidade, partimos da seguinte problemática: a atual sociedade imprime ao corpo uma visão de uso e desfrute. Com o passar dos anos, aquela compreensão presente em algumas civilizações antigas, do corpo como mistério inviolável, “jardim fechado”, foi perdendo lugar pelo conceito moderno do corpo como objeto “aberto”, devassável, fragmentado. Compreensão agravada pelo tratar da economia capitalista e do mercado de órgãos. A primeira vê o corpo como força de trabalho, mercadoria; enquanto a segunda o estampa como valor de troca.
Partindo da compreensão integrada da corporeidade, o corpo que conjuga a dimensão biológica, sexual, sem dissociar-se do espírito, da mente (sexualidade e espiritualidade como co-habitantes e coexistentes num mesmo corpo, num mesmo ser), a reflexão que propomos ruma o corpo como referencial do ser humano com o mundo. É por meio do corpo que o ser humano existe e se relaciona com os demais. No corpo imprimem—se as marcas da existência, da cultura e da sociedade. Ele é o primeiro e mais natural instrumento do homem.
No campo teológico, podemos afirmar, por muito tempo o tema da corporeidade, por sua relação com a sexualidade, não encontrou expressão em debates e reflexões. Intimidadas por uma moral amedrontadora, as reflexões mantinham-se às margens do desinteresse. Atualmente, porém, este tema volta às rodas e denuncia sua urgência e relevância. Compreender o ser humano como categoria que integra sexualidade e espiritualidade, faz-se, além de urgente, necessário.
Diante disso, é de se perguntar sobre o sentido mesmo do corpo, da sexualidade, e de sua relação com a espiritualidade. A espiritualidade não se desliga da corporeidade: é no corpo que acontece a manifestação do espírito (cf. lCor 6,19); é com o corpo que nos relacionamos-comunicamos com o mundo, com os outros e com o próprio Deus, revelado num corpo (cf. Jo 1,1.14). O ser humano foi criado como ser sexuado, homem e mulher (cf. Gn 1,27), condição que o força a vivência de relação, de aproximação com o outro.
Boa leitura!
Trecho retirado do editorial, por Anderson Francisco Faenello
Nesta edição você encontrará:
- Entrevista com Paulo Cesar Ueti Barasioli
- Ética, erótica e sexualidade: notas sobre a corporeidade, texto de Pe. José André da Costa
- Sobre juventude e corporeidade: Estilização das culturas juvenis, texto de Maicon Malacarne
- Corpo fecundado no Amor, texto de Ir. Lourdes da Silveira
- Tu me deste um corpo: uma aproximação, texto de Anderson Francisco Faenello
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Informações técnicas
Título: Revista Caminhando com o Itepa – Corporeidade
Autor: Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – ITEPA FACULDADES
Número: 98
ISSN: 1677-860X
Mês/Ano: Outubro/2010
Páginas: 71